«Contrariamente ao que vulgarmente se pensa, as janelas não servem apenas à contemplação. »
Há muito escrevi isso, hoje confirmo. A uma janela pode-se fazer o que nunca nos tinha ocorrido fazer. Hoje aconteceu. Dialoguei com um pássaro que certamente, pelo canto, seria um melro. Ele começou primeiro e lançou um canto a que, logo logo, não liguei. Ele insistiu e pareceu-me que seria a mim que dirigia. Fiquei mais atento até perder a dúvida. Sim, seu canto era-me dirigido. Experimentei um tímido assobio, depois outro e depois outro ainda, mais afinado. Houve um silêncio, como se o pássaro quisesse interpretar a minha mensagem posto que ele voltou à liça num chilrear harmonioso, com volteios entre agudos e graves finalizando com chilrear desafiante. Respondi-lhe imitando-lhe parte e depois mais criativo fui inventando sons que nunca tinha ensaiado. Estivemos assim um tempo, ora ele, ora eu até que se calou. Em ar de desafio lancei um trinado bem timbrado, e o melro nada. Silêncio absoluto. Repeti e nada. Talvez tivesse voado e nem me dera conta. Depois fiquei pensando o que teríamos dito um ao outro... e acabei fazendo paralelo com o que se passa entre gente... fala-se para matar o tempo e das conversas tidas, coisas ditas, nenhum registo para memória futura...
Mas fica o agrado de termos falado.
Há muito escrevi isso, hoje confirmo. A uma janela pode-se fazer o que nunca nos tinha ocorrido fazer. Hoje aconteceu. Dialoguei com um pássaro que certamente, pelo canto, seria um melro. Ele começou primeiro e lançou um canto a que, logo logo, não liguei. Ele insistiu e pareceu-me que seria a mim que dirigia. Fiquei mais atento até perder a dúvida. Sim, seu canto era-me dirigido. Experimentei um tímido assobio, depois outro e depois outro ainda, mais afinado. Houve um silêncio, como se o pássaro quisesse interpretar a minha mensagem posto que ele voltou à liça num chilrear harmonioso, com volteios entre agudos e graves finalizando com chilrear desafiante. Respondi-lhe imitando-lhe parte e depois mais criativo fui inventando sons que nunca tinha ensaiado. Estivemos assim um tempo, ora ele, ora eu até que se calou. Em ar de desafio lancei um trinado bem timbrado, e o melro nada. Silêncio absoluto. Repeti e nada. Talvez tivesse voado e nem me dera conta. Depois fiquei pensando o que teríamos dito um ao outro... e acabei fazendo paralelo com o que se passa entre gente... fala-se para matar o tempo e das conversas tidas, coisas ditas, nenhum registo para memória futura...
Mas fica o agrado de termos falado.
Ah, Rogério... :)
ResponderEliminarguardo belas memórias das longas "conversas" que costumava ter com um melro quando, acedendo à net através dos computadores do CJO, era diariamente abordada por um que, do alto de uma ramada frondosa, teimava em desafiar-me para um belo bate-papo sempre que eu regressava a casa.
Belos tempos, Rogério, belos tempos...
Abraço
Será que a ave (melro) interpretou o assobio como dizendo: " Anda cá que tenho ali a fritadeira à espera ""... e daí se ter calado imediatamente, ficando sossegadinho no seu galho?
ResponderEliminar.
Cumprimentos
Cuide-se
Não sejamos tão descrentes da atenção que julgamos os outros não nos conceder.
ResponderEliminarQuantas vezes ouvimos belos trinados, não retribuímos o som, mas tivemos em conta a melodia e o ensinamento; do melro ou da cotovia...
Sabia?
Como eu gostaria de estar contigo na tua janela, Rogério.
ResponderEliminarPara já, tenho o prazer de ler o teu texto tão poético e... mesmo nada avinagrado.
Abraço da amiga tuga!!
Pois eu adorei esse texto, fiquei pensando não em gente com quem falamos e cansamos... penso na sua janela, na sua troca de musicalidade com um animalzinho que também não está interessado em grandes papos, talvez só um sinal de cortar a solidão.
ResponderEliminarBeijo, um bom fim de semana!
Que bela vista tem do seu quarto, Rogério! Quase fiquei cheio de inveja. Não me posso queixar muito, na verdade, pois embora eu more num segundo andar, e por isso não tenha uma vista muito ampla, o meu quarto dá para um jardim com grandes e frondosas árvores. De madrugada, ainda antes de o dia começar a clarear, os melros empoleiram-se nas árvores e cantam ao desafio. Por vezes são tantos que acordo com o seu canto, mas eu gosto de ser acordado assim.
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