Com ar sério, Camões pressente...
Entretanto, não é a primeira vez que, também aqui, escrevi sobre a data de 10 de Junho. Nessa, lembrei a primeira celebração depois do 25 de Abril, com discursos (pérolas) de Vergilio Ferreira e Jorge de Sena. Foi em 1977, e de Sena transcrevia parte remetendo o texto restante para um sítio, que entretanto se perdeu. Recupero, do "Noticias do Bloqueio" essa parte perdida. Contudo, antes de o fazer fui confirmar o programa oficial das celebrações e dei com a esperada omissão. Sobre Camões, nada. E no ano que assinalam os dois centenários, o de Sophia e Jorge de Sena, nada. Diria que o sentido "10 de Junho" foi comemorado, em finais do mês passado, em Sevilha.
Isso, em Sevilha!Prosseguindo esta liturgia, cito Sophia:
Camões e a tença
Irás ao paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.
Em tua perdição se conjuraram Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou ser mais que a outra gente.
E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto.
Irás ao paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência.
Este país te mata lentamente.
E Sophia nada se importa que aqui traga outra palavra:
Sophia de Mello Breyner Andersen
"Porque os portugueses são de um individualismo mórbido e infantil de meninos que nunca se libertaram do peso da mãezinha, e por isso disfarçam a sua insegurança adulta sob a máscara da paixão cega, da obediência partidária não menos cega, ou do cinismo mais oportunista, quando se vêem confrontados, como é o caso desde Abril de 1974, com a experiência da liberdade. Isto não sucedeu só agora, e não é senão repetição de outros momentos da nossa história sempre repartida entre o anseio de uma liberdade que ultrapassa os limites da liberdade possível (ou sejam, as liberdades dos outros, tão respeitáveis como as de cada um) e o desejo de ter-se um pai transcendente que nos livre de tomar decisões ou de assumir responsabilidades, seja ele um homem, um partido ou D. Sebastião. (...)
Um país não é só a terra com que se identifica e a gente que vive nela e nasce nela, porque um país é isso mais a irradiação secular da humanidade que exportou. E poucos países do mundo, ao longo dos tempos, terão exportado proporcionalmente, tanta gente como este".
Jorge de Sena, 10 de Junho de 1977
(Portugal, ganha a taça. Camões ficou com ar sério... pressente)
Para mim,desde que me lembro de ser eu, bem como como para aqueles de quem directamente descendo, sempre foi o Dia de Camões e da Língua Portuguesa.
ResponderEliminarFeliz Dia de Camões e da Língua Portuguesa, Rogério!
Feliz Dia de Portugal, das Comunidades e de Camões!
ResponderEliminarNão ouvi o discurso!
Abraço
Claro que sendo o Dia de Portugal, terá de ser de Camões.
ResponderEliminarO recado que trazem é de amigos,
Mas debaixo o veneno vem coberto;
Que os pensamentos eram de inimigos,
Segundo foi o engano descoberto.
Ó grandes e gravíssimos perigos!
Ó caminho de vida nunca certo:
Que aonde a gente põe sua esperança,
Tenha a vida tão pouca segurança!
E, claro, das Comunidades Portuguesas espalhadas pelo Mundo, também.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Muda-se o ser, muda-se a confiança
Todo o mundo é composto de mudança
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades
Diferentes em tudo na esperança
Do mal ficam as mágoas na lembrança
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto
Que já coberto foi de neve fria
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Beijos. :)
Dois grandes poetas centenários: Sophia e Sena celebrando Camões.
ResponderEliminarViva (o futebol de) Portugal!!!! :)))