Publicado em 26 países, a sua obra chega a todas as partes do mundo em muitas línguas. Mas Saramago, que não se escondeu atrás da sua obra, não dispensou o caminho e a caminhada. Apóstolo das suas próprias palavras, leva ideias necessárias a muitas paragens (porque "sem ideias não vamos a lado nenhum")
HOMILIA DE HOJE
AS PALAVRAS NECESSÁRIAS - Todas as palavras são úteis, desde que lhe seja dado o peso certo e o sentido exacto. Descobri isso mesmo há pouco tempo, ao
ouvi-lo dizer "Quando digo responsabilidade, quando digo democracia, quando digo ética quero dizer essas palavras com palavras de chumbo". Jurei a mim mesmo passar a dizer tais palavras sempre sem leveza, fugindo à leviana utilização que lhe dariam, por má usura, a banalidade das palavras gratuitas.
A PALAVRA APÓSTOLO - Não só o peso das palavras é determinante. O sentido exacto também faz falta. A palavra "apóstolo", vista por dentro da palavra, torna o gesto dos meus amigos de uma necessidade urgente. Isto porque "Apóstolo" é muito mais, para além do que se afirma ser
.“Segundo o dicionário etimológico de José Pedro Machado, a palavra “apóstolo” vem do grego “apóstolos” que significava enviado para longe; enviado; deputado; envio de expedição, particularmente expedição naval.” Que cada um de nós, os novos
apóstolos, parta para todos os lugares levando as "palavras de chumbo" de Saramago.
O APÓSTOLO SARAMAGO - Enviado para onde lhe chamava a razão para estar, Saramago esteve presente em mais de
meia centena de cidades, por todo o Mundo fazendo conferências e participando em congressos. Também o fez na sua Pátria, como escritor e como cidadão,
até porque:"O cidadão que o escritor é não pode ocultar-se por trás da obra. Ela, mesmo importante, não pode servir de esconderijo para dar ao autor uma espécie de boa consciência graças à qual ele poderia dizer que está ocupado e não tem tempo para intervir na vida do país." APÓSTOLOS PARTIDOS DAQUI - Deste
blogue partiram já vários caminhantes. Honram-me com tal missão. Espalham palavras do escritor ou do cidadão. Fecho esta homilia, com o texto escolhido pela mais recente
apostola,
Teresa HOFFBAUER:
“Ich fühle mich in erster Linie als Portugiese, in zweiter Linie als Iberer und erst in dritter Linie als Europäer." ("Eu sinto-me principalmente como Português, em segundo lugar como ibérico e apenas em terceiro lugar como europeu".)
Dar-lhe-ia razão um japonês respeitável, Akira Miwa, por Saramago só colocar a Europa em terceiro lugar:“O interesse do (vosso) Governo está muito voltado para o centro da Europa, o que acho natural. Mas isso traz efeitos secundários.Com esse sucesso europeu, o país tende a esquecer a importância que poderia ter no resto do Mundo, fora da Europa. Sobretudo agora, num momento em que assistimos às dificuldades económico-financeiras em toda a Europa. Penso que o Governo português e o sector privado deveriam repensar sobre a sua dependência um pouco exagerada do mercado europeu.”
Outros apóstolos que editaram textos lembrando José Saramago:
Caro Rogério
ResponderEliminarSou brasileira e há entre brasileiros e argentinos uma ferrenha disputa, uma rivalidade que tanto nós quanto eles acabamos por levar como uma brincadeira que fazemos entre nós. A origem desse amigável "cabo de guerra" é o futebol.
Por isso o post com essa brincadeira com um gaúcho (habitante do sul brasileiro) e um argentino.
Att,
Lua Nova
Rogério, o ultimo link "até porque", não dá para lado nenhum.
ResponderEliminarÉ essencial relembrar o peso das palavras Responsabilidade, Democracia, Ética, neste tempo em que parece só haver lugar para a "competitividade"..
:))
O Rogério estudou a língua de Goethe?
ResponderEliminarO Saramago diz:
Eu sinto-me principalmente como Português, em segundo lugar como ibérico e apenas em terceiro lugar como europeu.
Eu penso, que ele sempre se sentiu em primeiro lugar ibérico ou até mesmo espanhol.
O casamento dele com a Pilar e mais tarde a sua ida para Espanha, foram acontecimentos que fizeram, que eu não quisesse uma rua Saramago no Porto.
Como escritor vou continuar a recordá-lo nos "ematejocas" de amanhã.
Amigo Rogério!
ResponderEliminarSaramago sempre!
Gostei imenso da tua Homilia de hoje, particularmente da citação referente ao peso das palavras.
Eu diria que Eu me sinto sempre em primeiro lugar Portuguesa, em segundo Galega e em terceiro uma cidadã do Mundo.
Saramago é Português, sempre foi...
Porque não a rua Saramago no Porto?
Pergunto à amiga Teresa!
Será que Vieira da Silva, mesmo depois de nacionalizada francesa, não o mereceria???!!!
Beijinhos
Ná
boa homilia, como já é de esperar.
ResponderEliminarsaramago nasceu português e morreu português. casou com pilar e foi para espanha... e? se eu for morar para um outro país deixo de ser portuguesa? acredito no nosso país mas perdoem-me por não entender o excesso de nacionalismo que caminha por aí...
abraçinho...
esqueci... amigo rogério, cada comentário [no meu diário] seu quase que origina um novo post. obrigada pela sua presença tão importante no meu caminho...
ResponderEliminare cá fica mais um abraçinho :)
Cara Lua Nova
ResponderEliminarO argentino está para o brasileiro,
como o galego (norte de Espanha) já esteve para o português e como o alentejano tem sido para o resto do país. Estes regionalismos, não matam nem moem, corroem...
(isto não tem nada a ver com a homilia, mas já que interrompeu a missa...)
Beijos
Ariel, minha atenta Ariel. Já corrigi o link
ResponderEliminarGostava de lhe dar razão, mas além da "competitividade" (mesmo com aspas) também há lugar à corrupção desenfreada e para o consequente enriquecimento ilicito...
Assim se alargam as palavras pesadas que teremos de usar...
Beijos
Ematejoca
ResponderEliminarEu sabia que não devia confiar na minha "secretária" (vou corrijir a tradução)
Dá-me uma boa notícia quando me diz: "Como escritor vou continuar a recordá-lo nos "ematejocas" de amanhã"... Fico felíz por isso. Como prova do meu reconhecimento vou propor o seu nome para uma rua aqui de Oeiras (apesar de se ter casado com um alemão e residir na Alemanha...)
gosto muito da ideia de "apóstolo", como a defines - mensageiro da palavra certa e desassombrada.
ResponderEliminarabraço, meu caro amigo.
caminhante
ResponderEliminargosto de caminhantes
é por haver caminhantes
que haverá sempre caminhos
assim haja energia e vontade em os percorrer
(fico feliz por a inspirar e perceber que tantas vezes a inspirada supera o seu inspirador...)
Beijos
Olá Fernada
ResponderEliminarMinha Ná
Pois que sejas "portuguesa, galega e cidadã do mundo"
Quanto ao que dizes à Teresa (gosto de Teresas) dexa lá... ela tem o mérito de me empurrar para mais leituras de Saramago, se calhar lá terei de ir ter com a "Jangada de Pedra"... (dizem ser uma "estranha" (?) alegoria à separação da Ibéria da Europa...)
Beijos
Herético
ResponderEliminarVou propor que tal definição passe a constar dos novos dicionários... (já fazendo parte do nosso!)
Abraço
Rogério,
ResponderEliminarEstá o máximo. Para mim, escurinha, faz todo o sentido o que o Embaixador japonês diz "Com esse sucesso europeu, o país tende a esquecer a importância que poderia ter no resto do Mundo, fora da Europa." Ainda tenho esperança de uma grande comunidade dos PALOP aberta ao Japão...
Beijos
Não quer conhecer uma das maiores admiradoras do José Saramago, que eu conheço na Alemanha?
ResponderEliminarEntão, vá aqui, Rogério:
http://camaraazul.blogspot.com/2010/07/blog-post.html
Vá também ao "ematejoca". Escolhi esse livro, porque o li em alemão.
Volto mais tarde para lhe responder à sua proposta de uma rua em Oeiras com o meu nome, meu amigo!
Rogério, obrigado pela sua atenção que tem dispensado nos meus "posts".
ResponderEliminarGostei muito mesmo desta Homilia, sobretudo pela chamada de atenção, ao bom uso das palavras!
Saramago, aínda não é compreendido, nem entendido por muitos. Sem dúvida que numa cidade como o Porto, na linha da frente das lutas pela Independência Nacional, pela República e pela Democracia, Saramago merecia ter uma rua com o seu nome, mas infelizmente a classe política que por lá prolifera entendeu que não...deixo aqui uma pergunta aos hipotéticos mandatários dos portuenses, por acaso auscultaram a vontade dos portuenses? Sabemos que não, Rui Rio é de facto a nódoa negra desta cidade!
Tenha uma boa semana.
Beijinho
Rogério!
ResponderEliminarVinha andando por ai sem saber para onde ir, e cheguei aqui às conversas avinagradas,e gostei muito desta homilia, E acho que o Saramago merece
ter o nome numa qualquer cidade deste pais, já que por causa dele se falou em todo o mundo, e se falará ainda por muitos anos, e neste caso não é de corruptos, nem de ladrões,nem de incendiários.
abraço,
José.
Maiuka - Uma união: Japão, Portugual, Angola e Brasil,
ResponderEliminarEra do "baril"...
Teresa, Já fui "conhecer", mas julgo que encontrei... eu nem sei... (já merece ser nome de rua)
Sâozita, os portuenses irão fazer-se ouvir. Não sei é quando, mas irão...
Caro José - Caso queira ser apóstolo siga-nos. Será bem vindo aos caminhos que temos que percorrer...
Conhecendo pessoalmente Saramago
ResponderEliminarduvido que se visse como apóstolo
mas tão só como cidadão impoluto
português e do mundo
Abraço
Caro Mar Arável
ResponderEliminarImagino. Mas não importa. Ele também nunca chegou a saber que reinventámos o sentido das palavras... Dentro desse novo sentido, vejo-o como "apóstolo".
Como "apóstolo" me vejo eu também, seguindo caminhos, alertando para a necessidade de discutir as palavras e as ideias. Porque, sem ideias não vamos a parte nenhuma...
Abraço Amigo
Alexandre, O que diz é verdade, mas estando a Europa rendida às estratégias anglo-saxónicas, nada impede que procuremos outros caminhos, como aliàs Saramago defendia e o embaixador Japonês advoga...
ResponderEliminarAbraço Amigo
A mulher de branco, meu caro amigo, não sou eu, mas sim, a Marianne, um dos membros do Círculo Literário, que conhece toda a obra do José Saramago traduzida em alemão.
ResponderEliminarComo vê, Rogério, nem na Alemanha o esquecem!
Ohhhhhhhhhh!
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