Mal sabia eu que o meu almejado descanso iria sofrer revés significativo. No percurso até Campo de Besteiros, o nosso destino, tudo perfeito. Pequenos desvios, primeiro para um excelente leitão (Mealhada) e, depois de fartar a pança, fartar o olhar do alto de Penacova e procurar sem conseguir, um adjectivo adequado à paisagem. Seguimos pela IP3 e chegamos a Tondela. Daí ao hotel, foi um pulo. Ocupamos o tempo por aí e aí jantámos. Tudo normalmente bem e, como planeado, dormimos embalados em grilos e cigarras...
Pela manhã, após as coisas normais que se fazem em sítios destes, subimos a serra. Visitámos o museu. Aí aconteceu um primeiro percalço: cinco tapeçarias "À maneira de Portugal e da Índia" queriam à viva força obrigar-me à investigação sobre o nosso passado, sobre a nossa identidade... Passou-me essa crise e seguimos para o Caramulinho. Subidos os 274 degraus de acesso a esse ponto mais elevado, ficou tudo estragado. Diante os meus olhos, ao fundo e sob uma neblina de 12 séculos, os montes Hermínios (em vez da esperada Serra da Estrela) impunham-se com um perfil de lenda. O mapa tornou-se mais forte do que a paisagem e mais presente que o ar da serra. Via lusitanos por onde andavam beirões. Nas minhas costas, do longínquo Douro, chegavam-me vozes galegas que vindas de tão grande distancia, não dava para perceber o que diziam.
Ali, outra vez à minha frente, nas margens do Mondego acontecia mais uma emboscada a um fragmento da legião romana que procurava Viriato... (é fácil, de cima do Caramulinho, ver e pensar através de séculos). Num vai e vem de épocas, ocorreu-me reflectir no que pensariam os Lusitanos, que lutaram contra a ocupação romana, do alargamento do Condado Portucalense e da expansão galega produzida pelos exércitos de Guimarães empunhando novas bandeiras, após o tratado de Zamora. Teria sido pacífico dada a ameaça do progresso mouro? Nesses tempos haveria resistência ao alargamento de Portucale? Haveria mais Saramagos?
Com estas ideias na cabeça, disfarcei cantarolando, não fosse a minha Teresa (a minha, não confundir com a mãe do tal Afonso) perceber que estava a subverter os objectivos fixados para estes dias: "Indo eu, indo eu/ a caminho de Viseu/Encontrei o meu amor/Ai Jesus que lá vou eu"... Chegados a terras de Viriato, era grande o bulício dos lusitanos e poucos os lugares para estacionar o carro. Uma vez conseguido, demos umas voltas a pé e achámos "O Cortiço", o tal que 30 anos antes me deliciara com uma inesquecível morcela de arroz acompanhada de grelos... Entramos e as fartas e deliciosas entradas quase nos desviaram dum excelente entrecosto com couve e... morcela, servidos em louça de barro negro. Tudo regado com bom vinho servido em "jarro" de tanoeiro. Ficou-me cheia a tripa e os olhos no artesanato. Comprei estas peças. As de barro, em Molelos e lá descobri em Campo de Besteiros o tanoeiro que me vendeu o jarro de aduela.
Haveria mais que contar, mas fica este apontamento. Viriato tinha de facto razões para defender a sua Lusitânia e D. Afonso Henriques para a ocupar...
Apesar dos contratempos, o passeio deve ter sido maravilhoso. As peças do artesanato são linda.
ResponderEliminarGrande abraço
Caro Wanderley, aquilo que chama contatempos foram autênticos mergulhos na nossa história... que esses locais me desafiaram a ter... Acabou por não ser um passeio de simples diversão e descanso.
ResponderEliminarAbraço Amigo
Que excelente passeio Rogério.Por acaso também tenho previsto passar por Penacova para a semana, e seguidamente abancar em Monfortinho e explorar toda a Idanha que conheço mal.
ResponderEliminarJá se fazia por cá sentir a sua falta
:))
Beijinho.
Caro Rogério
ResponderEliminarUm dia quando for "grande", tambem quero ter férias assim. Por enquanto vou fazendo umas coisas parecidas com isso. O problema é que levo telemóvel e computador com acesso ao servidor... paciência.
Pronto, mas pela "amostra" o meu caro vem cheio de força e inspiração, vamos a isso!!!
Cara Ariel,
ResponderEliminarPasse por Penacova, vá ao miradouro do Hotel...
Quanto a Monfortinho, faça um reconhecimento prévio na net,
a sua estadia promete...
Cá fico à sua espera, com a curiosidade e o interesse do costume!
Folha Seca,
ResponderEliminarCheio de força?
Que força é esta?
Que força é esta,
que trago nos braços?
Que só me serve para obedecer
Que força esta amigo...
Que me põe de bem com outros
e de mal comigo
A força de pouco me serve se não houver a tua força a juntar-se...
Abraço
já está de volta? ieiii!!! morcela de arroz até que ía :) eu também estive por essas bandas, há pouco tempo, mas pouco vi ;( lembrei-me de ficar doente, a parva. fica para o ano...
ResponderEliminarabraçinho...
[depois de que li... a inveja aumentou... pois.]
Rogério, gostei desta viagem, pela história, pela gastronomia, pelo nosso tipicismo.
ResponderEliminarUm abraço.
Amigo Rogério, voltaste do Caramulo e das tuas aventuras:)))
ResponderEliminarQuero ler tudinho comme il faut!
Volto mais logo.
Cheguei agora de mais um concerto ao vivo em Moledo do Minho.
Maravilha!
Segunda feira há mais um...
Até logo.
Abraço saudoso.
Ná
Meu caro Rogério.
ResponderEliminarConheço mal a região por onde andou. Ao ler a sua narrativa, seguindo todos os links, (o que ela me fez lembrar a Viagem a Portugal de Saramago!)chegou-se-me a vontade de a visitar. Só que, andando de canadianas, tenho de ponderar se conseguirei vencer os tais 274 degraus e, porventura, outros mais que possam existir e necessitem de ser vencidos.
Deixe-me acrescentar: ao acabar a leitura do seu texto dei um grito - caramba! - porque é que o Rogério não continuou a escrever...?!
Um grande abraço e bom fim-de-semana.
274 degraus? ai ai ai...só de imaginar já fico cansada!
ResponderEliminarAté onde sei morcela não é frios de sangue? urgh!
Mas pelo jeito você gostou do passeio e é isso que importa.
Bjs querido e bom fim de semana.
Uma verdadeira aventura, como se vê das nossas decisões pode surgir excelentes histórias.
ResponderEliminarabraço
Caminhante
ResponderEliminarEsse caminho espera por si, para o ano...
Não é verdade que sem caminhante não haja caminho. Ele está lá à sua espera. SE não for esse, quelquer serve, desde que sinta que caminhando se aprende e, aprendendo, se vive!
Beijos
Manuela,
ResponderEliminarPor tudo isso que diz ter gostado também eu gostei de passar e... contar.
Beijo
Carlos Albuquerque,
ResponderEliminarO meu post tinha dois objectivos:
-1º promover a região
-2º deixar como mensaagem que fazer turismo também é penetrar na realidade local, nos seus costumes e história...
Se consegui ambos, estou feliz com o tempo que dispendi na tarefa...
Abraço
Querida Salete
ResponderEliminarfoi isso
Duzentos e setenta e quatro
não foram duzentos e quarenta e sete
(rimava mas não era verdade...)
Caro Araújo
ResponderEliminarESta aventura, carecia de ser escrita de um outro modo para que um brasileiro a pudesse sentir nos seus aspectos históricos. Se ainda assim, gostou fico feliz por isso.
Abraço Amigo
Olá amigo Rogério!
ResponderEliminarSubiste muitos degraus, sim.
Parece que os ares te fizeram bem e as caminhadas melhor ainda!
Quando quiseres saber o que subir e descer montes, vem cá a cima, às terras de Cervaria.
Levo-te então aqui - http://naquintadorau.blogspot.com/2009/07/os-moinhos-do-folon-e-do-picon.html
Por exemplo...
Mas há mais sítios maravilhosos.
A última vez que andei por bandas do Caramulo, foi quando fizemos essa zona do país com a autocarana, que já se foi...
Fiz um belíssimo passeio contigo.
Bela descrição e mesmo com todos esses percalços foi muito agradável.
Gostei muito do leitão na Mealhada e de adormecer ao som dos grilos e das cigarras.
Alguém já se riu de mim uma vez, por ter escrito que em noites de Verão quente, como tanto gosto, se adormece ao som dos grilos... do coaxar das rãs e do crescer da relva recém regada.
Fernanda,
ResponderEliminarIrei onde me mandas...
Nunca pensei que aquele pequeno farfalho que me fez cerrar os olhos era o som da relva recém regada crescendo por debaixo da sacada...
Beijo
(vou passar por aí, agora)