Quando hoje li no DN as palavras de Jerónimo de Sousa, dizendo que no Algarve o desemprego teria aumentado 38,4% o qual seria o maior do país, fez-se uma luzinha quanto à causa provável do roubo da alfarroba. Há dias, quando soube que tais roubos assumiam proporções alarmantes nunca associei à luz que agora se me apareceu, iluminando-me a mente e dizendo-me: “É a fominha, pá!”.
Estas hipóteses de fome e roubos e da má impressão que o tal conde teria dos ciganos e das gentes do sul, também das gentes alentejanas, veio-me á memória acontecimentos que minha mãe me contou, sobre o seu Alentejo. À “guerra da alfarrobas” dos dias de hoje, ligo essa descrição de uma outra guerra, a “guerra do taco” (ou “Tumulto do Taco”, como é chamado num texto que descobri aqui, com as datas de 1940 e 41).
“Dantes era assim... Sabes filho, a fome era muita e o povo pouco tinha para comer. Na nossa loja, passavam-se dias e dias sem qualquer venda e o que se vendia era fiado. O avozinho, sabes como ele é, incapaz de recusar o quer que fosse àquela boa gente, lá ia aguentando conforme podia. Para agravar, a faina da cortiça nesse ano foi fraca. Os proprietários, ou para fugir à despesa ou para não se darem ao trabalho, não extraíram a cortiça. O povo, pela calada da noite, ia aos montes e apanhava o que podia. Chegaram a estragar sobreiros bons, arrancando-lhe os “tacos”. Olha, foi uma guerra. A GNR de Alvalade (Sado) veio aqui a Ermidas, fazer uma espera e desancou desalmadamente em muitos trabalhadores que eram conhecidos. A revolta generalizou-se com a prisão de mais de 20. Tiveram de vir reforços e até agentes da polícia política, que nesse tempo não se chamava PIDE. Houve muitas, muitas mais prisões e a calma só regressou quanto os agrários deixaram que a cortiça fosse extraída e pagas algumas jornas. Foram tempos terríveis…”
Lembro estas palavras da minha mãe, na sequência de uma carga da GNR a cavalo dispersando uma manifestação popular que aclamava Humberto Delgado, junto ao cemítério do Alto de S. João, teria eu cerca de 14 anos. Como poderia esquecer?
Imagem que consegui na net, num texto histórico, e que documenta o que eu e minha mãe vimos da nossa janela, fazendo-a lembrar a "Guerra do Taco". Esperemos que cenas semelhantes não retornem...
Também espero que mais nada disto aconteça, mas isto está a ficar complicado e se calhar, quem está agora a roubar não são os que estão a ficar com fome...
ResponderEliminarE aí, é que eu gostava de saber o que, realmente, se passa.
Cara Isa,
ResponderEliminarQuem alfa rouba não compra Alfaromeu. Nem será qualquer Romeu, roubando alfarromas para ofertar à sua Julieta... Se não é por fome... será pela vontade de comer. Serão ciganos? Provávelmente! Habituados que estão á venda de roupas e bujigangas, se nada disso lhes compram, terão que sobreviver de outro modo. Se não são ciganos, aposto que o Conde Lippe saberá que será "outra gente de mau porte"... sem ter lugar para corneteiro!
Beijo
PS- Gente de bom porte não rouba, faz desvios...
Até o grande merceeiro Belmiro
ResponderEliminarentende que o povo com fome
tem direito a "roubar"
nas mercearias do lado
Abraço
Caro Rogério
ResponderEliminarSó me ocorre aquela do Aleixo
"Sei que pareço um ladrão..."
Abraço
Caro Puma, que comentário mais oportuno. Todos, e até o merceeiro do Belmiro, estão preocupados com uma situação que "toca" a todos. Esta notícia é recente:
ResponderEliminarO Barómetro Europeu de Roubo no Retalho indica que em 2009 os custos de roubo no sector atingiram os 286 milhões de euros em Portugal (clientes e empregados são os principais suspeitos). Três anos antes, os prejuízos causados pelos furtos haviam sido de 150 milhões, quase metade da cifra...
(último Expresso)
Abraço
Folha Seca,
ResponderEliminarposso dar~lhe o todo:
Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.
(António Aleixo, Algarvio, portanto pertence ao grupo da gente de mau-porte que anda a sacar alfarroba...)
Abraço
Confesso a minha ignorância: desconhecia o episódio da Guerra do Taco.
ResponderEliminarQuanto ao grande merceeiro Belmiro está bem acompanhado pelos parceiros da distribuição, nomeadamente Jerónimo Martins e o príncipe da cortiça.
Olá amigo Rogério!
ResponderEliminarOlha estava completamente alheada desta situação!
Honesta e francamente não sabia de nada, mas faz todo o sentido...
Sabes que tinha a ideia de que ninguém mais ligava puto à alfarroba e às alfarrobeiras???
Eu própria acho, tenho a certeza que nem sei se isso é comestível, e???
Desculpa a minha ignorância, mas diz-me, isso é o que chama aqui para o Norte de fava rica???
Não!!! não creio... mas se for eu disso já comi, em mocinha e gostei, sabia a baunilha!!!
Então agora andam a roubá-la lá pelo Algarve aos produtores???
Sabes? toda esta história fez-me lembrar o outro que diz "Quando não há pão até bolotas vão"....
Beijinhos
Ná
Boa noite Rogério,
ResponderEliminartambém desconhecia esta notícia, mas quem rouba alfarroba não deverá ter muita fartura não, apesar disso não passam de ladrões, porque como o Rogério diz e muito bem, "gente de bom porte não rouba, faz desvios..."
E o que não nos falta por cá actualmente, é gente de bom porte a fazer desvios!
Beijinhos,
Ana Martins
Ave Sem Asas
Caro Carlos, a Guerra/Tumulto do Taco foi-me contada pela minha mãe, como escrevo no texto. Aliás todo este texto retrata o que se passou comigo. Foi a partir da notícia do desemprego que dei importancia à notícia do roubo da alfarroba e à memória chegou-me então o passado na aldeia alentejana onde minha mãe vivia. Procurei informação mas o único registo encontrado foi o que indiquei no link. Também não há informação sobre o que é na realidade subericola o chamado "taco". Contento-me com a explicação que a minha falecida mãe me deu na altura...
ResponderEliminarAbraço
Fernanda,
ResponderEliminarA alfarroba é um fruto, cujo aspecto se parece com um feijão-verde, de maior dimensão. De cor castonho, bem escuro. Foi em tempos uma matéria-prima para a industria alimentar e das rações para animais. Como fruto, tem um sabor agradável mas não é de fácil mastigação. Como tudo nesta terra, o interesse económico só agora está a ser apreciado. O ministro da agricultura lançou a primeira pedra para a construção de uma nova fábrica que não sei se vai ser rentável, dado que a alfarroba saiu dos nossos hábitos alimentares...
Se te interessa, podes saber um pouco mais através do google...
Beijos
È isso Ana
ResponderEliminarPobre é ladrão
Rico, não é isso não!
Beijos
O que eu aqui aprendi hoje. E que bem contado!
ResponderEliminarMuito bem!
:)))
MdSol
ResponderEliminarAtendendo à qualidade do seu blogue aos posts que assina, considero as sua palavras um forte incentivo.
Obrigado!