Resolvido o problema? Claro que não. O FMI apenas teve uma pequena contrariedade com este recuo. Voltará à pressão. O Governo? A Frelimo? Esses terão que relembrar e cumprir com as recomendações de alguém que, há 36 anos atrás, assim discursou:
"(…) O poder, as facilidades que rodeiam os governantes podem corromper o homem mais firme. Por isso queremos que vivam modestamente com o povo, não façam da tarefa recebida um privilégio e um meio de acumular bens ou distribuir favores. A corrupção material, moral e ideológica, o suborno, a busca do conforto, as cunhas, o nepotismo, isto é, os favores na base de amizade, e em particular dar preferência nos empregos aos seus familiares, amigos ou a gente da sua região fazem parte do sistema de vida que estamos a destruir. O tribalismo, o regionalismo, o racismo, as alianças sem princípios constituem atentados graves contra a nossa linha e dividem as massas. Porque o poder pertence ao povo, quem o exerce é servidor do povo. (…) Os desvios da linha suscitam as contradições, as brechas por onde penetra o inimigo, o imperialismo e as forças reaccionárias. Para que se mantenha a austeridade necessária a nossa vida de militante e assim se guarde no sentido do povo e dos seus sacrifícios, todos os militantes da Frelimo que receberam tarefas de governação do Estado tal como no passado deve renunciar às preocupações materiais, nomeadamente aos vencimentos. É evidente que por maioria de razão não se pode tolerar que um representante nosso possua meios de produção ou explore o trabalho de outrem. Combatemos durante dez anos sem qualquer preocupação de ordem financeira individual, empenhados apenas em consagrar toda a nossa energia ao serviço do povo. Está é a característica do militante, do quadro, dos dirigentes da Frelimo. Como o fizemos sempre, de acordo com as nossas possibilidades, procuramos assegurar ao militante que cumpra uma tarefa, o mínimo de condições materiais indispensáveis ao seu trabalho, ao seu sustento e da sua família. Mas também não nos devemos esquecer que muitas vezes combatemos e vencemos descalços, esfarrapados e com fome. Sublinhamos ainda que, assim como fizemos guerra sem horário de trabalho, sem dias de descanso, nos devemos empenhar com o mesmo espírito na batalha da reconstrução nacional”.
Parte do discurso de Samora Machel na tomada de posse do Governo de Transição/1974
A forma como foi silenciada a boca de quem proferiu tão sensatas palavras e o esquecimento que se seguiu a tais recomendações e avisos, são causas não muito longínquas dos efeitos de hoje. Relembrando isso termino esta série de 5 posts, consciente de apenas ter aflorado várias questões que mereciam melhor aprofundamento...
Se quiserem continuar a acompanhar a evolução dos acontecimentos, podem seguir o trabalho de Carlos Serra. (não concordo com tudo o que analisa e escreve, mas é uma boa fonte)
A ganância do poder mata os bons políticos e destrói uma nação.
ResponderEliminarNão conhecia esta discurso de Samora Machel.
A ideologia é linda a prática é impossível. São todos empurrados pela cegueira do dinheiro e do poder, compadrio e favores..........
Luis Coelho,
ResponderEliminarAs ganâncias tem hierarquia. Sabia?
Primeiro a ganância do dinheiro que não é cega,
só depois a ganância do poder que lhe é instrumental, bem como as suas ferramentas operacionais por si referidas (compadrio, troca de favores)...
A ideologia não só é linda, como é também a unica forma de contrariar isso...
Perdendo ideias,
o Homem fica entregue à bicharada...
restando dele:
nada!
Abraço
Li o seu comentário ao Luis e acho que nós, já estamos entregues à bicharada porque a corrupção, os compadrios, os favores... parecem uma muralha que já avança sem control nenhum e não vai parar, até não restar mais nada neste país, senão as dívidas e mais dívidas.
ResponderEliminarBjos
O que se passa em Moçambique é semelhante ao que acontce em Angola:uma elite ligada ao poder com tudo enquanto a maioria da população nada tem.
ResponderEliminarImpissível que resulte bem.
Abraço.
Isa
ResponderEliminarNão diga mais...
Perdeu ideias?
Perdeu ideais?
Eu
Eu não estou convencido
de que tenha desistido...
A luta continua!
São
ResponderEliminarTem razão
São as leis da física
As mesmas causas,
geram os mesmos efeitos
Anulem-se as causas...
Como?
Havemos de descobrir
a mim
ninguém fará desistir
Boa?
Rogério,
ResponderEliminarO discurso é bonito. Receio é que, mesmo que Samora não tivesse morrido, a situação não fosse muito diferente... infelizmente.
Abraço.
Acho que a Ariel tem razão. E será muito desconhecimento meu ou, ainda assim, existem nuances importantes entre Angola e MOçambique?
ResponderEliminar:))))
Abaixo a indiferença
ResponderEliminarde facto
a luta continua
Ariel
ResponderEliminarSamora morreu?
Ou foi morto?
O que é que aconteceu?
A minha impressão é que o curso das coisas terá sido influênciado pelo seu desaparecimento da liderança da Frelimo.
Quanto ao resto, não sabemos, né?
MdSol
ResponderEliminarAs pressões estão a acontecer do mesmo lado, pressionando no mesmo sentido, com os mesmos instrumentos de pressão e num mesmo contexto internacional. Se há diferenças (e há) é de intensidade, pois Angola é mais "apetitosa" que Moçambique...
Puma
ResponderEliminaré isso:
abaixo a indiferença
que algo mexa e se agite
para que a barbárie não vença...