26 setembro, 2010

Homilias dominicais (citando Saramago) - 8

Ligia Cortez, Bete Coelho, Denise Weinberg, Pilar Del Río e Chico Buarque, leram várias passagens de diferentes obras de José Saramago, em sua homenagem em São Paulo, Brasil. 22 de Setembro de 2010.
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Hoje mesmo, no CCB, Violante Saramago Matos, João Céu e Silva, José Mário Silva e Pedro Lamares terão lido excertos dos livros “Ensaio sobre a Cegueira”, “Evangelho Segundo Jesus Cristo” e “O Ano da Morte de Ricardo Reis”. Mais tarde, terá ocorrido uma conversa com Zeferino Coelho, editor de José Saramago. No fim do dia, foi exibido “Ensaio sobre a Cegueira”, a adaptação de Fernando Meirelles (realizador de “O Fiel Jardineiro” e “Cidade de Deus”) da obra homónima de José Saramago.
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Uns lembram a obra, eu lembro o cidadão...
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Para isso transcrevo da edição do Le Monde Diplomatique, edição portuguesa de 8 de Julho passado, que presta homenagem a Saramago, parte do artigo intitulado "A crise e a regressão social" escrito por Sandra Monteiro, que começa assim: «O capitalismo tem a pele dura», dizia José Saramago numa entrevista em 2008. A partir de agora as suas palavras são ainda mais nossas. (pode ler na integra aqui). Farei assim minhas as palavras de Sandra Monteiro e de Saramago. Por serem de todos, quero-as partilhar
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HOMILIA DE HOJE-

É por isso que se atiram, em Portugal, à Constituição, que condensa um contrato social em cujos direitos sociais e laborais não se revêem e, que portanto, só pode estar fora da «realidade», a que querem criar, e da «história», a que querem contar. É por isso que afirmam que «um espectro ensombra Portugal: o princípio da proibição do retrocesso social, essa megalomania constitucional que estabeleceu a eternidade dos “direitos adquiridos”», e que tentam convencer‐nos de que «o “modelo europeu” era um modelo utópico, que um acaso histórico produziu» e de que «hoje a realidade voltou». Em bom português, a isto chama‐se virar o bico ao prego.

Para não errarmos nas finalidades orientadas para uma vida decente, no quadro das quais será sempre condenável que se aceitem medidas como as dos cortes sociais acrescentando «ainda que daqui decorram gritantes injustiças»(*), é nossa responsabilidade fazer um trabalho de memória, de colocação de ideias que estejam disponíveis para os combates pelo bem comum. Nesse sentido, levemos mais estas palavras de Saramago na bagagem, seguros da multidão dos viajantes:

«Tenho uma confiança danada no futuro e é para ele que as minhas mãos se estendem. Mas o passado está cheio de vozes que não se calam e ao lado da minha sombra há uma multidão infinita de quantos a justificam» (*).

(*) Diálogo entre José Saramago e Ignacio Ramonet (coord. Víctor Sampedro):

«O desastre actual é a total ausência de espírito crítico»;

18 comentários:

  1. Boa noite Rogério,
    Os nossos governantes estão a ultrapassar todos os limites e o que vem por aí, não é nada de bom!

    Beijinhos,
    Ana Martins
    Ave Sem Asas

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  2. Ando fugida por razões familiares. Já dei uma vista de olhos na galeria, mas vou voltar para contemplar os belos quadros com mais tempo.
    Uma mulher burguesa como eu, só se interessa pela obra literária de Saramago e não pelo cidadão!!!

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  4. Sou um admirador incondicional de Saramago.

    Os seus livros, autênticas parábolas, onde, escrevendo sobre o passado, o presente é omnipresente, encerram lições que só os cegos não vêem ou, pensando melhor, "Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem"...

    Respondendo ao teu comentário de ontem, já te autorizei a utilizar as minhas obras, no avinagrado que, afinal, é agri-doce...

    Aproveito para agradecer todos os comentários elogiosos que foram feitos pelos teus, agora nossos amigos. Um grande obrigado!

    Para ti, um abraço,
    António

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  5. "«Tenho uma confiança danada no futuro e é para ele que as minhas mãos se estendem. Mas o passado está cheio de vozes que não se calam e ao lado da minha sombra há uma multidão infinita de quantos a justificam»

    Tenho que me lembrar bem destas sábias palavras, porque a minha confiança no futuro está muito abalada, pelas sombras que nos tapam o caminho .

    Beijinhos e boa semana

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  6. Meus Caros, um a um vos respondo:

    - Ave Sem Asas, voa e diz à Ana que poderá haver ainda um preço adicional a pagar por quem não tem nada a perder... e o pessimismo não é bom conselheiro!

    - Teresa, querida, veja lá o que uma Teresa consegue fazer à vida... A burguesia ganharia em perceber o que se passa em volta...

    - A. Tapadinha, é isso! Agridoce é o meu avinagrar... como tudo na vida, tem dois sabores que se misturam. Meu próximo post será sobre o seu trabalho Siderurgia...

    - Fê-Blue Bird - que bem fez em sublinhar as palavras de Saramago. Pensei até limitar o post a essa frase. Fê mantenha a fé...

    - Mar Arável, frase curta esperança grande, semeando em todos os mares...

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  7. Não esquecer a obra.
    Lembrar o Homem-cidadão.
    De acordo!
    Lembrar o Homem-cidadão, que tive o privilégio de conhecer, pessoalmente,e de com ele privar de perto.
    Para além dos encontros a que a vida nos levou, acompanhei-o no percurso que fez pelo país para escrever Viagem a Portugal. Ainda melhor nos ficámos a conhecer. Sempre que conversávamos, a cada jantar, ou nas andanças do autocarro, ou ainda no calcorrear por trilhos e caminhos de vilas e aldeias, não era Saramago que eu ouvia, mas,sim, um livro que lia folheando-o avidamente!
    Depois esse monstro devorador a que chamamos destino levou-me durante anos para fora do país. A distância física entre nós passou a ser maior do que era. Reencontrámo-nos no lançamento do Ensaio sobre a Cegueira, com uma dedicatória a que aludia ao reencontro duma amizade.
    A grande obra de Saramago era, e é, ele próprio, sempre assim me pareceu, assim continuo a pensar.
    Este post é uma justa e merecida homenagem ao Homem-cidadão.
    Abraço

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  8. Acho que o estado da cultura deste país é um retrocesso... e grande.

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  9. Tenho que me lembrar dessas palavras como a Fê, porque ando com muitas desconfianças quanto ao futuro, mesmo muitas.

    Bjos

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  10. Recordemos Saramago, sempre.

    Boa semana.

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  11. Carlos Albuquerque,

    Sempre que conversavam, a cada jantar, ou nas andanças do autocarro, ou ainda no calcorrear por trilhos e caminhos de vilas e aldeias, não era Saramago que tu ouvias, mas,sim, um livro que lias folheando-o avidamente!

    Como gostaria ter sido eu a conviver dessa maneira com Saramago...

    Abraço

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  12. polittikus,

    É uma perda grande que nem de perto nem de longe pode ser compensada pelo enorme movimento que gira em torno do perpectuar da obra e do homem. Mas não consideraria um retrocesso. Sendo numerosos os seus seguidores diria que a cultura ficou mais rica...

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  13. Isa
    a
    São
    respondeu-lhe. Eu não teria melhor forma de responder ao seu comentário...

    Beijo a ambas

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  14. "O desastre actual é a total ausência de espírito crítico"

    Não posso estar mais de acordo.

    Abraço.

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  15. Amigo Rogério!

    Lembrar Saramago Sempre!
    Parabéns pela abordagem, como sempre perfeita.

    Li e vi o Ensaio sobre a Cegueira.
    Curiosamente, neste caso, aconteceu o inverso do habitual, vi primeiro o filme. Adorei ambos.

    Volto para ver a exposição do António.

    Beijinhos



    PS. Lamento, mas não tenho como visitar e comentar os amigos que publicam frequentemente.
    Não todos os posts.
    Desculpa.

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  16. Olá Rogério
    Lembrar o homem e não sua obra, foi uma grande idéia. Quando os problemas em Portugal, não posso opinar, melhor deixar, para os portugueses.
    Abração

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  17. Saramago teve uma vida linda! impressionantemente linda!

    querido, adorei a sua descrição, quando fala que as pessoas são mais do que conseguem expressar ... concordo plenamente ...

    adorei o blog todo ..
    beijos

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