07 setembro, 2010

Moçambique, causas remotas dos efeitos de hoje - 4

Não voltei a Moçambique depois de 2001. Mas nas minha viagens virtuais é possível "ver e ouvir" testemunhos e factos que podem ser considerados (eu considero) como causas que explicam os acontecimentos recentes em Moçambique. Vejamos algo que vem de longe. Na sequencia do Acordo de Nkomati, em 1983, Moçambique adere ao FMI facto que é aqui recordado nos seguintes termos:

"A nossa adesão ao FMI (1984) merece um rememorar de episódios curiosos. Quando aderimos ao FMI, defronte ao Hotel Shorham em Washington, onde decorria a Assembleia Geral Anual do FMI, nas imediações, assistimos a uma manifestação na qual os seus autores transportavam um caixão simulando o enterro do FMI. Ironicamente, nós estávamos a um passo da adesão ao FMI e, este, a ser “enterrado”... Foram emoções difíceis de gerir."

"Os condicionalismos impostos pelo Fundo Monetário Internacional na concessão de créditos para a educação impedem o governo moçambicano de contratar metade de professores necessários nas escolas públicas, uma vez que aquele banco limita as despesas de salários do Ministério da Educação e Cultura."

A legenda da foto é retirada do blogue "Diário de um sociólogo" e o texto que se segue também: De acordo com um estudo, o país precisa de 109 mil professores até 2005. Quando o Fundo Monetário Internacional diz que estamos no bom caminho, é evidente que o caminho é apenas um: o da alma privada. Quanto mais privada estiver a alma, mais o FMI nos premeia. E, então, por que deveria o FMI preocupar-se com os salários dos professores das escolas públicas em Moçambique?"

A fotografia (retirada daqui) não engana. Terá entre 10 ou 12 anos. Pertencerá a uma qualquer escola descontente e terá na família um heroi da guerra civil (saber lá de que lado) ou mesmo um luto mal resolvido pela memória. Sabendo que o aumento de preços é uma imposição do FMI acatada pelo Governo, ter-se-á sentido impelido para a acção com o convencimento de que ainda há lugar para ele na história do seu país.

Alertas preocupantes: ele não está mascarado de povo; ele soube que o funeral do FMI era falso; teve disso conhecimento a partir de um telemóvel que nunca usou nem irá usar nos anos mais próximos (outros o usarão por ele...)

CONTINUA

10 comentários:

  1. Coitado do país que cai nas garras do FMI, que só visam os próprios interesses, em detrimento de uma população que fica cada dia mais pobre.
    Grande abraço

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  2. Continuo a acompanhar este seu testemunho reflexivo tão bem escrito.

    :)

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  3. Preparemo-nos, novamente, para ter cá, o FMI ou qualquer outra coisa parecida, mas a culpa é toda nossa e das opções que se vão tomando na escolha de quem nos governa e quem não se sabe governar, paga a factura no final, a bem ou a mal.
    Há anos que só sabemos receber dinheiro e a não fazer nenhum, por cá, o governo foi dando dinheiro só para criar serviços e até a comida tem que vir de fora. Será injusto que uma minoria vá pagar pelas más escolhas da maioria, mas, quem sabe, talvez, assim, aprendam à força ;)

    Bjos

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  4. Moçambique é responsabilidade das nações que ao longo do tempo os exploraram de forma abusiva e predadora. "A penetração portuguesa em Moçambique, iniciada no início do século XVI, só em 1885 — com a partilha de África pelas potências europeias (!!!!!!!????)durante a Conferência de Berlim — se transformou numa ocupação militar, com a submissão total dos estados ali existentes, levando, no início do século XX, a uma verdadeira administração colonial" No meu modo de entender, foi vergonhosa a maneira como os povos africanos foram tratados depois de "descobertos" pelas potências imperialistas. Agora, desestruturados, pobres, arrasados como povo, arcam com as consequências da ganância e da ignorância dos poderosos povos "civilizados".
    A humanidade por vezes me enoja.

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  5. Pelas razões já aqui expostas, sigo atentamente estas exposições. A terrivel realidade é verificar que não se vislumbram alternativas ao FMI...

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  6. Wenderley,
    No seu comentário, que agradeço, sobra-me a duvida se de facto o FMI tem interesses próprios ou se serve outros interesses. Estou inclinado para que seja instrumento de interesses. Quais? Os de sempre, os que beneficiam com a globalização e a desregulamentação das economias bem suportados por correntes ideológicas que defendem a liberdade total...
    do Capital!

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  7. MdSol,
    Obrigado.
    A escrita não é um fim em si mesmo. Por isso, agrada-me que as minhas reflexões despertem o seu interesse...
    Se quiser dar contributos não olhe á qualidade da sua escrita (que conheço e reconheço ser melhor que a minha)

    Não leve a mal, mas precisamos de ideias. É que "sem ideias não vamos a parte nenhuma".

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  8. Isa,
    Será igualmente injusto que uma máquina perfeita, de manipulação e terror macio, leve ao engano milhões de portugueses.
    Não me espanta...
    A eficiência é tanta...

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  9. Não Lua
    Não digo, como toda a gente, que a Lua é mentirosa.
    Digo que uma Lua Nova precisa de fazer o seu ciclo. O seu comentário é próprio de uma Lua adolescente...
    entre no Quarto Crescente!

    Não, não a trato como criança...
    Espero é que lhe nasça a esperança

    Boa?

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  10. Ariel
    A alternativa passa pelo verdadeiro funeral do FMI.
    Simular para protestar? Tá bem, porque não?
    Mas não é solução...
    É preciso com ele acabar
    Tarefa impossível de caber
    a uma única nação...

    Né?

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