16 novembro, 2011

A CPLP... Porque não faz parte de um Plano B? (3)

Ontem, Evanir, deixou-me este comentário: 
"Já li muito referente ao Brasil ser dependente de Portugal também da luta pela sua independência. A muitos anos essa dependência terminou sei da grande riqueza extraida do Brasil e levada para Portugal. Mais agradeço Pedro Alvares Cabral por ter descobrido o Brasil. Tenho Portugal como Patria mãe e amo profundamente os dois Países."
Que bom ter lembrado coisas que agora vêm a propósito. Sobre a dependência de Portugal, para uma prática de potência, que então era a senhora da globalização mercantil a nível mundial. Fizemos patifarias de certo modo contidas, até porque denunciadas. "O pregão de Santo António aos Peixes" é uma peça de oratória que nos marca. 

O ouro do Brasil pagou a dívida de Portugal - Querida amiga, quanto à riqueza levada do Brasil para Portugal, veja para que serviu:
“…a dependência económica de Portugal em relação aos ingleses marca um período histórico da economia europeia. Enquanto os lusitanos perdiam o antigo posto de nação rica e desenvolvida, galgado entre os séculos XVI e XVII, a Inglaterra alcançava as condições que a transformaria na maior potência económica do mundo entre os século XVIII e XIX. Para entendermos estas situações distintas, podemos tomar a assinatura do Tratado de Methuen como um interessante exemplo histórico.

Em 1703, esse acordo firmado entre ingleses e lusitanos estabelecia a compra dos tecidos ingleses por parte de Portugal, enquanto a Inglaterra se comprometia a adquirir a produção vinícola dos lusitanos. Com isso, a especulação sobre a garantia de compra dos ingleses sobre o vinho de Portugal ampliou enormemente o número de terras cultiváveis destinadas ao plantio de uva. Por conseguinte, a demanda da economia lusitana por produtos importados aumentou bastante.
Conforme apontado por vários pesquisadores interessados no assunto, a Coroa portuguesa conseguiu montar um enorme império mercantil, mas não buscou meios eficientes e sistemáticos para dinamizar sua economia interna. As expressivas quantias obtidas com a actividade colonial eram revertidas na forma de gastos que somente mantinham o elevado padrão de vida dos nobres e membros da família real portuguesa.
A assinatura do Tratado de Methuen não pode ser considerada como a origem única de todos os males que atingiram a economia de Portugal. No entanto, ele ressalta bem as condições políticas e económicas distintas de cada uma das nações envolvidas na situação. Com o passar do tempo, a dependência económica portuguesa se agravou e o ouro encontrado em terras brasileiras serviu para tapar o grande deficit que dominava as finanças de Portugal.” - (ler aqui)
Mas tem mais que se lhe diga a história que nos une, perante os maus tratos europeus. Depois do que a Inglaterra nos fez, a França napoleónica nos invade:
“O príncipe regente apenas nos dia 23 de Novembro de 1807 recebeu a notícia da penetração de tropas francesas em território português. Convocou imediatamente o Conselho de Estado, que decidiu embarcar o quanto antes toda a Família Real e o Governo, servindo-se da esquadra que estava pronta para o Príncipe da Beira e as infantas. Nos três dias seguintes ainda se aprontaram outros navios, que viriam a transportar para o Brasil cerca de quinze mil pessoas. Em 26, foi nomeada uma Junta Governativa do Reino para permanecer em Portugal, e difundidas Instruções aos Governadores, nas quais se dizia que "quanto possível for", deviam procurar conservar em paz o Reino, recebendo bem as tropas do Imperador."
(...) Vejo que pelo interior do meu reino marcham tropas do imperador dos franceses e rei da Itália, a quem eu me havia unido no continente, na persuasão de não ser mais inquietado (...) e querendo evitar as funestas conseqüências que se podem seguir de uma defesa, que seria mais nociva que proveitosa, servindo só de derramar sangue em prejuízo da humanidade, (...) tenho resolvido, em benefício dos mesmos meus vassalos, passar com a rainha minha senhora e mãe, e com toda a real família, para os estados da América, e estabelecer-me na Cidade do Rio de Janeiro até à paz geral." (palavras do então príncipe regente e que viria a ser D. João VI).

A capital de Portugal já foi no... Rio de Janeiro. Chamava-se então: Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (ver aqui)

Outra amiga, Celina Dutra, citou-me sonho de Leonardo Boff: 
"Uma das marcas do povo brasileiro é sua capacidade de se relacionar com todo mundo, de somar, juntar, sincretizar e sintetizar. Por isso, ele não é intolerante nem dogmático. Gosta e acolhe bem os estrangeiros. Ora, esses valores são fundamentais para uma globalização de rosto humano. Estamos mostrando que ela é possível e a estamos construindo".
Isto que ele diz do seu povo, disse de nós um japonês, há muitos séculos atrás, chamando-nos nambam-jin...
.
Que se cumpra o sonho, connosco e com toda a Lusofonia. 

15 comentários:

  1. Caro Rogério Pereira
    Um conjunto de ideias bem fundamentadas. No que me diz respeito não caiem em saco roto. Num País onde se navega há muito à vista e onde as ideias são um deserto é bom ver alguem a pensar em soluções "obvias".
    Abraço

    ResponderEliminar
  2. Rogério querido,

    Refrescar a memória é sempre útil! Mas vamos sonhar com a globalização de rosto humano de toda a Lusofonia e de quem mais quiser aderir à ideia de conciliar economia e humanização na gestão de um País.
    Essa marca do brasileiro de predisposição para a miscigenação, para juntar, sincretizar é herança da terrinha, com certeza! Obrigada pela citação.
    E o livro, vai bem?
    Girassóis nos seus dias. Beijos

    ResponderEliminar
  3. nao sei se por bem ou por mal

    portugal sempre foi um pais de descobridores , sonhadores, e cientistas, nunca de negociantes

    Bjinhos
    Paula

    ResponderEliminar
  4. (miscigenação)Povos no Brasil, Brancos, Negros, Índios.
    Na verdade é isso mesmo que somos uma grande mistura de raças e cores de todas as nações.
    Querido Amigo.
    Sua postagem não poderia ser melhor
    acredite aprendi muita coisa até então desconhecida.
    Com muito carinho agradeço pela maravilhosa postagem .
    Eu realmente fui sincera ao dizer que amo Portugal embora nunca realizei meu sonho de conhecer seu Pais.
    O mundo não se divide em raças e cores mais seria maravilhoso se fosse dividido por uma simples palavra.(AMOR)
    Te agradeço pelo carinho estou feliz por ter se importado com minha simples visita.
    Bjs no coração .
    Evanir

    ResponderEliminar
  5. Olá Rogério,

    Esta bela lição de História, já a tinha lido ontem à noite, mal foi publicada, mas fiquei tão esclarecida e os ensinamntos são tão profundos, que já não tive cabeça para o comentar a horas tardias, precisamente porque merecia um comentário igualmente profundo e não é ainda hoje que estou capaz de o fazer.
    De qualquer forma não haverá muito a acrescentar, de tão completo e estruturado que o texto está. Uma lição que nos leva a soluções que seriam as mais acertadas, mas que infelizmente nem todos querem ver.

    Recordei e aprendi muito aqui e estou cada vez mais inclinada para as soluções do plano B e até já acredito que não seria um desastre a médio prazo arriscar voltar ao escudo, aliás creio que já o sugeriu por aqui.

    Estou a ver muitos a chamarem-nos loucos, mas muitas vezes é de loucuras saudáveis. que se fazem novos mundos.

    Voltarei
    Beijos

    ResponderEliminar
  6. Meu amigo:
    Excelente este seu desenrolar de acontecimentos históricos, sublinhados por comentários tão oportunos.
    Este seu post toca-me particularmente porque tenho a minha filha no Brasil, lugar onde lhe está a ser dada a oportunidade que aqui lhe negam.
    Acabo com a mesma frase do meu amigo:

    "Que se cumpra o sonho, connosco e com toda a Lusofonia."

    beijinhos

    ResponderEliminar
  7. Rogério ainda não foi esta semana. As coisas não são mesmo como queremos. Só vim dizer que não me esqueci e desejar bom fim de semana

    ResponderEliminar
  8. Gostei de ler

    ou relembrar esta parte da nossa História!

    Um abraço

    ResponderEliminar
  9. Uma boa lição de história, que ficará na minha memória. A sacar dos desgraçados sempre fomos heróis, a negociar com os grandes, sempre temos perdido, da última vez foi com os Alemães os submarinos, carros de luxo e supermercados, se a gente nem dinheiro tem para comprar comida.

    boa semana.

    ResponderEliminar
  10. Oie Rogério

    Como sempre torcendo aqui por vcs, que se cumpra os sonhos de todos os portugueses.

    beijos e um ótimo fim de semana querida, carinho nessa familia linda.

    ResponderEliminar
  11. MUITO BOM.
    E é caso para dizer" quem te viu...e quem te vê, Portugal"!

    Te beijo
    BShell

    ResponderEliminar
  12. Os brasileiros estudam na escola, que são pobres porque os portugueses roubaram~lhe o ouro todo.

    De quando em quando manifestam-se nos meeios de comunicação que tiveram o azar de serem colonizados por nós, portugas.

    Então «aí» uns preferiam que fossem os americanos, outros os espanhois, outros os Holandeses.

    Enfim, mas no fim lá fazem as contas e a maioria teve um avô português e resignam-se.

    ResponderEliminar
  13. Por tudo o que deixei dito
    podia o retornado (encapuçado)
    ser mais explicito...

    É que relativamente aos ancestrais não adianta ter pecados ou orgulhos...
    Foi o que foi e deixou marcas... Na história, na cultura e até no sangue...

    ResponderEliminar
  14. Ainda há muito para aprender na área dos estudos pós-coloniaias, mas esta visão revela bem as dificuldades que os Portugueses sempre tiveram em gerir e aplicar os recursos numa perspetiva de futuro. Tem sido sempre um "salve-se quem puder" traduzido numa dificuldade de colocar o coletivo acima do individual. Logo, parece-me que as nossas permanentes dificuldades resultam mais de um problema cultural, um problema de falta de ética e de sentido de estado que nos tem conduzido a este caos.

    Excelente trabalho.

    L.B.

    ResponderEliminar