Mais que um franzir de testa às ideologias da direita,
as palavras de quem sabia analisar e prever...
A homilia de hoje não está de costas voltadas para a rua, onde a luta continua. Os muitos que ontem, sábado, desfilaram, segurando panos, empunhando bandeiras, dísticos e punhos erguidos, têm cada vez mais, e em simultâneo com a expressão da rejeição das medidas que só podem conduzir o país à miséria, a consciência que esta não é a Europa que ansiaram, se é que algum dia chegaram a ter tal ânsia. A homilia de hoje está virada de frente, cara a cara, com todos aqueles que ignoraram avisos e se transformaram nos parceiros ilegítimos de um sonho parvo, ignóbil, servil, injusto e que contraria toda a história do nosso povo. Agora não restam dúvidas, quanto aos desígnios do chamado "Projecto Europeu", mas há 20 anos atrás já havia alertas lúcidos para as certezas de hoje (que alguns ainda teimam, ou fingem, não compreender). Propostas? Também as houve, (à maneira dele) logo que Portugal aderiu a esta coisa chamada Comunidade:
HOMILIA DE HOJE
"(...)A Comunidade é o Conselho de Administração de uma grande empresa chamada Europa, que tem produtores que são consumidores, consumidores que são produtores, e tudo isso planificado. A distribuição das tarefas, incumbências e obrigações é determinada por esse Conselho. A Comunidade decidiu, por exemplo, que 75% da superfície florestal de meu país será destinada à plantação de eucaliptos. Nós não decidimos. Decidiu uma potência supernacional. E decidiu sobre algo que até agora teria a ver com o que chamamos de soberania nacional. O mais interessante, porém, é o seguinte: o que antes parecia ligar-se apenas à economia, está se transformando em solução política para a Europa. Isto é, uma vez que a aplicação da política económica não pode ser decidida pelos governos nacionais, então é indiferente que os governos sejam conservadores, nacionalistas, capitalistas, socialistas, social-democratas ou liberais. Apagam-se as fronteiras do que chamávamos ideologias, porque isso não tem mais importância.O mais importante – e eu diria, o mais trágico – é que se tira dos povos o direito de decidirem sobre o seu destino. Claro que nada no mundo é definitivo, e os povos sempre encontram as soluções melhores para os seus problemas. Mas o problema da hegemonia, que parecia resolvido com a Comunidade, não está. O que está ocorrendo agora é o surgimento da potência europeia do futuro, que será outra vez a Alemanha. A Europa será o que Alemanha decidir."
José Saramago - in "Quem é o patrão da Europa?"
(Publicado em Jornal do Brasil - 15 de Maio de 1992
Que lucidez, não?
ResponderEliminarBons sonhos, Rogério.
Palavras que de adaptam perfeitamente.
ResponderEliminarEu acho que estão a querer afundar tudo ao mesmo tempo para pouparem trabalho.
Beijo
Meu amigo:
ResponderEliminarSempre ouve mentes brilhantes neste nosso Portugal.
Veja-se também o caso dos textos de Eça de Queiroz por exemplo, ainda actuais.
E tantos outros, como Saramago que previam, educavam e indicavam o caminho.
Pergunto:
-Porque será que o povo nunca os ouviu ?
-Porque será que apesar de saberem que caminham para o lado errado, continuam ?
Afinal somos um povo surdo, cego e parvo!
Beijinhos e boa semana
Uma mente brilhante muito a frente do seu tempo ou muito conhecedora da natureza humana.
ResponderEliminarUm grande bj querido amigo
ja ha algum tempo li um livro, que se nao me engano se chamava a 3 vaga ( mas posso estar enganada) que dizia que o euro foi cirado muito rapido, em cima de muitas incertezas e esperancas...
ResponderEliminarMas se nao fosse assim o mundo ainda nao tinha avancado. Vivam os erros, desde que se aprenda com eles
Bjinhos
Paula
Palavras sábias as do grande Saramago.
ResponderEliminarSempre que a Alemanha decidiu, a Europa perdeu e perdeu-se.
Caro Rogério
ResponderEliminarUma grande parte dos "nossos" analistas cmseguem "explicar" o que vai correndo mal. Saramago neste e em muitos outros textos previu o que iria acontecer, com uma precisão impressionante. Na verdade muito do que disse nem sequer nos foi dado a conhecer.
A chatice maior é que tinha razão...
A Alemanha tenta invadir os povos europeus
ResponderEliminardesta vez por via "pacifica"
Vamos todos perder
até os povos se levantarem
José Saramago foi genial em tudo que escreveu. E ele tem uma maneira muito peculiar de expor um pensamento. Muito bom! :)
ResponderEliminarPois é Rogério, ele sabia e bem o dizia, também por isso ele foi odiado por quem lhe sentia o poder e o saber.
ResponderEliminarFinalmente parece que começaram a acordar alguns sonâmbulos.
É preciso engrossar as fileiras, empunhar bandeiras e gritar nem alto, BASTAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!
Beijo
Ná
Ando por aqui o resto da noite, a ler este texto, a ver o vídeo que está do lado esquerdo de "Gerald Celente: Acabemos com esta farsa de demoracia" e que é assustador na definição que nos dá deste actual fascismo, mas tão verdade e tão lúcido, até porque a censura existe, de forma subtil ela já existe há muito tempo.
ResponderEliminarTambém aqui Saramago nos diz, o que já se vinha prevendo logo após a queda do muro de Berlim, a Alemanha fácilmente recuperaria o abalo para eles "pequeno" da unificação e não deixaria de ser em pouco tempo e novamente a super-potência da Europa. Falava-se na altura que a recuperação poderia fazer-se em pouco mais de dez anos, passaram mais ou menos vinte e aí os temos.
Contudo, resta-nos a esperança de sabermos colher os exemplos do passado e fazermos alguma coisa com eles.
Como diz o Mar Arável "...até os povos se levantarem...", e os povos demoram sempre muito, a maioria vive adormecida...
Beijos
Branca
Bom dia
ResponderEliminarO Rogério fala com bastante clareza de um assunto que os nossos governantes teimam em não ver, não querem ver.........
Alguma coisa está mal e a insatisfação está a tornar-se um gigante a nível de toda a Europa.
Depois que sofre mais são os deserdados da sorte sem nada de comum nem europeu.
Infelizmente...assim estamos...
ResponderEliminarQuerido...alterei os 3 versos finais: fica muito melhor...espreita!
Obrigada,
BShell
De facto, palavras incontornáveis, estas de Saramago.
ResponderEliminarOlá Rogério
ResponderEliminarSaramago sempre brilhante e realista.
beijos querido.
Rogério querido,
ResponderEliminarSábio! Mas o importante é o que você disse no artigo anterior, por em prática, ontem..., o plano B.
Linda semana, apesar de tudo. Girassóis nos seus dias. Beijos
É tudo tão simples... afinal, sempre o foi, mas deixámos que fizessem de nós marionetas. Agora, apodrecidos os fios que nos guiaram as mãos, vêmo-nos no chão. É preciso recuperar a força que abandonámos junto à praia, a única com que poderemos comandar o nosso próprio barco.
ResponderEliminarUm abraço, Rogério
Lúcido, como sempre. Isso o distingue dos «aprendizes».
ResponderEliminarDe todas as palavras a que mais me incomodou foi «servil», pois contra natura assim me ando a sentir.
Beijo
Na altura, quando surgiram estas palavras, andava tudo hipnotizado com a bandeira do consumo, e Saramago foi considerado, no mínimo, um chato. Agora tudo assobia para o lado e a culpa, dizem eles, é do povinho, que teve mais olhos que barriga.
ResponderEliminarE assim vamos vivendo, com a maior desfaçatez de quem nos governa...
Abraço