A candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade é um trabalho sério, limpo e belo. O meu amigo Rodrigo (Folha Seca) sobre isso postou e é recomendável conhecer (eu não conhecia...)HOMILIA DOMINICAL
Hoje não cito Saramago, ou não o faço directamente. Não acho abusivo falar por palavras de quem o acompanhou e amou: Pilar del Rio deu voz à Fundação José Saramago no apoio à candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade.
Acredito profundamente que Saramago, se estivesse connosco, o faria com palavras suas. Atrevo-me a imaginar que seriam palavras de destino nosso, ligado a esse nosso cantar. Imagino (sonho) que daria à expressão do fado aquilo que lhe está destinado e para tanto estamos fadados: Novas sonoridades, novas palavras e vozes espalhadas por todas as partes que guardam o povo português no seu coração. Acho que o Mundo nos estima, mais do que nos estimamos nósBeijo de Saudade
"Ondas sagradas do Tejo
Deixa-me beijar as tuas águas
Deixa-me dar-te um beijo
Um beijo de mágoa
Um beijo de saudade
Para levar ao mar e o mar à minha terra
Nas tuas ondas cristalinas..............................................................Mariza/Tito Paris (ver letra)
Deixa-me dar-te um beijo
Na tua boca de menina
Deixa-me dar-te um beijo, óh Tejo
Um beijo de mágoa
Um beijo de saudade
Para levar ao mar e o mar à minha terra..."
Fado Tropical
.
“... Com avencas na caatinga, alecrins no canavial
Licores na moringa, um vinho tropical
E a linda mulata com rendas de Além-Tejo
De quem numa bravata arrebata um beijo
"..."
Guitarras e sanfonas, jasmins, coqueiros fontes
Sardinhas mandioca num suave azulejo
E o rio Amazonas que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca desagua no Tejo
Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial”
..............................................................Chico Buarque (ver letra)
Mesmo não sendo a homilia dominical habitual, Rogério, li-a com imenso prazer, achei-a formidável.
ResponderEliminarAqui já são quase 2 horas da manhã, mas mais tarde vou visitar a "folha seca".
Que trabalho fantástico fez aqui Rogério!
ResponderEliminarAdmirável!
Passei por "Folha Seca", voltei e estou deslumbrada. Eu que sempre disse não gostar de fado, o tradicional e mais castiço, o fado como destino e eterna saudade, como símbolo de um "nacional-cançonetismo", mas que sempre fui fã incondicional de Carlos do Carmo, que aprecio Mariza, fiquei pasmada com a beleza do documentário no "Folha Seca", com as declarações de Pilar del Rio e para finalizar traz-me a cereja no cimo do bolo, não só um belíssimo poema, cantado por Mariza e o Cabo Verdiano Tito Paris, como este lindíssimo "Fado Tropical" que há tanto tempo não ouvia e me leva à voz linda e à alma de Chico Buarque.
Destes fados sim, eu gosto, desta evolução e desta lusofonia que afinal não é só um objectivo e comunhão literária, mas também fadista.
Depois de tudo o que vi por aqui, tenho que dizer que gosto de "fado", aliás sempre disse que gosto do fado ligeiro, o chamado fado-canção, não sei se isto é um grande disparate, mas não tenho tendência para a tragédia, no entanto respeito e reconheço o grande valor na contribuição de alguns artistas mais tradicionais na história do fado.
Não apareceu no documentário ALfredo Marceneiro, Hermínia Silva, que me parece terem sido de grande importância. Curiosamente Hermínia era uma fadista que me despertava alguma curiosidade.
De todas as maneiras estou apaixonada pela beleza do documentário e deste post.
Um trabalho minucioso e extraordináriamente bem feito.
Parabéns Rogério.
Branca
É a canção representativa da nossas identidade, mas ao mesmo tempo é um canto de alteridade, pois foi no contacto com o outros povos que melhor nos definimos, que melhor nos conhecemos.
ResponderEliminarCito Saramago:
" A busca do Outro talvez seja o caminho pelo qual cada um de nós consegue chegar a si próprio. Para aproximar-nos àquilo que somos temos de passar pelo Outro. É preciso saber o que os outros pensam."
José Saramago
O diálogo entre estas duas letras, estas duas canções é uma prova de que o hibridismo cultural (e não só)pode ser positivo e muito enriquecedor.
Um beijo
Lídia
Uma homilia diferente, mas que mantém a coerência do rumo. Esteve bem, Rogério!
ResponderEliminarAbraço
Não sou grande apreciadora de fado, mas também assinalei a decisão da UNESCO.
ResponderEliminarUm bom domingo.
Postei sobre o tema e comentei-o em vários blogues. Percorro ainda o caminho para entender o fado (não se trata de o apreciar, ou não, isso é outra questão) e para me libertar de um dia o ter considerado (ao fado) vendedor de coisas inúteis.
ResponderEliminarDeixou na minha cubata este comentário:
["É que a seiva da Mãe África, que por mim corre, vive em harmoniosa coabitação com o sangue orgulhoso de ser Português!"
Antes de falarmos no sangue que nos corre, falemos na alma que nos envolve...
E se disser que hoje a minha Homilia coloca dois fados: uma ser cantado por uma Moçambicana e um Caboverdiano e outro por um brasileiro?]
A minha frase, citada, exprime, tão só, o bem que me sinto pela UNESCO ter considerado o fado Património Imaterial da Humanidade.
Quanto ao resto, porque haveria de falar da alma, antes do sangue? É que tenho um coração de carne que sangra todo o dia. A alma, essa, enfim…é demasiadas vezes linfática para o meu gosto.
Também já ouvi uma japonesa e um angolano cantarem o fado. Agora, no Youtube, também por lá há uma búlgara e uma ucraniana a fazerem o mesmo. E, então!?
Caro Rogério
ResponderEliminarAntes de mais nada o agradecimento devido ao link para o vídeo que só ontem encontrei e que remete para a candidatura do fado a patrimóneo imaterial da Humanidade, que acabei por reeditar após conhecidos os resultados.
Peço desculpa pelo tempo que demorei, mas os seus posts, nunca são para ver, ouvir e ler a correr.
O conjunto do que transcreve e no que nos dá a ouvir marcam um dia que tambem foi grande para o nosso País e para os Portugueses. Mas o meu caro mostrou que a nossa lingua vai muito para além do rectângulo.
Obrigado por tudo.
Abraço
Carlos
ResponderEliminarE então?
Que se use também a canção...
É ou não é uma arma? Ou apenas é uma alienação?
O fado será, como alma nossa, o que o povo vier a ser.
Invista-se culturalmente nisso... Hoje são muitos os poetas a serem cantados através do fado. Outros nos cantarão. Que seja pois esta (e não outra)a nossa canção...
O Fado é imortal!
ResponderEliminarO Fado( A CANÇÃO)tem um encanto que só quem é romântico percebe bem... é linda, o Rio Tejo* a
embalar os mais apaixonados, mesmo:)
"O Mundo* nos estima mais do que nos estimamos nós!"
Não sou portuguesa, mas sou filha de um português, que era adorador do fado. Um beijo da amiga Mery*, me visita se tu puderes, estou com sério problema no blog, e preciso de amigos, agora.
Lindo este post. Mostra as influências (africana e brasileira).
ResponderEliminarDe facto, o nosso sentir, chame-se-lhe alma ou Fado, vai muito para além das fronteiras de nós.
"Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal..."
Beijo
O nosso fado= destino, resignação, abulia, bem poderia ser designado Património Material da Humanidade. Como um bom exemplo a não seguir. Talvez Saramago tenha pensado nisso um dia...
ResponderEliminarAmigo Rogério:
ResponderEliminarQuando se une, competência, trabalho e dedicação, o resultado é sempre positivo.
Adorei, pois desconhecia o Fado a duas vozes da Mariza e Tito Paris e
que saudades deste fado tropical:
"Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:
Ainda vai tornar-se um império colonial!"
Parabéns" Um post perfeito!
beijinhos
O orgulho de ver reconhecida como património da humanidade, a voz e a identidade do povo ao qual pertenço. Um povo lutador e resiliente que sempre acreditou na força da sua alma, cantada entre a saudade e o gemido de uma guitarra.
ResponderEliminar"
Povo, povo, eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida não. "
Um abraço
A canção.
ResponderEliminarArma ou, apenas, alienação? Posta assim, à boleia do fado, a questão não é, para mim, questão. A cantiga é uma arma? Claro! Quantas vezes a ela recorri, quando, algemado pela ditadura, trabalhava na rádio e a censura me riscava os textos de alto a baixo. Mas nunca o fado entrou na liça. Nada tenho contra o fado. Prossigo apenas no caminho de o tentar entender como “alma do povo”…
Problema meu, sem dúvida!
Investimento cultural. Pois! Quando lei o comentário do actual secretário de estado da “cultura” sobre a atribuição da UNESCO, sinto um arrepio. Enfim!
Um aparte:
Sempre me disseram que sou um romântico (eu próprio me considero como tal) mas, ao ler num comentário que “O Fado( A CANÇÃO)tem um encanto que só quem é romântico percebe bem... “ concluo que tenho andado enganado…))
Afinal, ser ou não ser romântico, eis a questão! ))
PS
Encosto às minhas as palavras do Carlos Barbosa de Oliveira.
Carlos Barbosa de Oliveira
ResponderEliminar- Os fados por mim colocados não são isso que diz que o fado é... (e outros que em miúdo ouvi, também o não eram não)
- O destino é uma coisa complicada, bem produzida e quase sempre manipulada. O Estado Novo era brutal a fazê-lo. Actualmente é-se mais sofisticado a impor um destino acocorado... e usa-se (para tal) uma certa interpretação do que é o fado
- Se Saramago tivesse pensado isso que admite que ele pensou, não estaríamos agora a comentar em homilias minhas e duvido que tivesse escrito as palavras que escreveu ou que uma academia sueca sequer lhe conhecesse o nome...
E o fado sempre é Património Imaterial da Humanidade!!!
ResponderEliminarTens razão amigo Rogério, a nossa auto estima está pelas ruas da amargura, mas diga-se que há razões para tal...
Li por aí que o teu livro sairia hoje, como é? Não sei de nada!
Conta lá, porque o que faz falta é dizer à malta.
Beijinhos
Ná
Vim cá de novo para lembrar Dulce Pontes, que anda muito esquecida e é também uma grande voz do fado.
ResponderEliminarFiquei de olhos arregalados para o comentário da Ná, mas não acredito...afinal como é?
Quero saber quando sai o seu livro, já estou a fazer a minha lista de Natal e ela é composta de alguns livros, o seu também.
Quando o estado nos corta nos subsídios, tem que ser a família a enriquecer a nossa biblioteca:) e eu tenho a dupla vantagem de ter duas vezes prendas em Dezembro por ter nascido pouco antes do Natal, daí que dá para muitos livros.
Para já a capa e o que leio quando clico lá agrada-me imenso, estou à espera do resto.
Um abraço
O meu livro
ResponderEliminarestá acabado
tem capa bela
(minha filha tratou dela)
tem editor
Mas
Não tem assegurado o distribuidor
DAREI NOTICIAS, LOGO QUE AS TENHA
Amigo Rogério.
ResponderEliminarGostei de ver aqui juntos o Fado Tropical e o da Saudade, neste dia em que o Fado, canção nacional, galgou definitivamente fronteiras e ficou a pertencer ao mundo.
Falando ainda da raíz do fado no conceito de fatalismo, sina, resignação, penso que precisamos libertar-nos dele se quisermos encontrar novas "sonoridades" que nos façam encontrar novos caminhos de liberdade.
Só assim nos poderemos estimar mais do que aquilo que o mundo nos estima.
Isto o Rogério sabe-o bem!
Um beijo.
Janita
Ótimo. Ótimo!
ResponderEliminarAbraço
Pela parte que me toca, faço minhas as palavras de Carlos Albuquerque. Procuro entender o fado, mas há qualquer coisa dentro de mim que tende a rejeitá-lo. Talvez porque durante o fascismo o fado foi tão associado à passividade, ao fatalismo (como o próprio nome "fado" sugere), ao sebastianismo, etc.
ResponderEliminarAplaudo, contudo, a inclusão neste post da moçambicana Mariza, do cabo-verdiano Tito Paris e do brasileiro Chico Buarque, embora o Fado Tropical deste último não seja propriamente um fado (faltam-lhe algumas características). Permitam-me que acrescente mais um nome: Sonia Shirsat, que é indiana de Goa e também canta o fado. No seguinte vídeo poderemos ver e ouvir Sonia Shirsat cantar o fado em Goa: http://youtu.be/rVGBmacjJck.
Agradando ou não, seja qual for seu significado, se há algo intrinsecamente ligado a Portugal é o fado. Nada mais justo que seja elevado a Património Imaterial da Humanidade. Eu gosto de fado. O Brasil também carrega marcas que não agrada a todos os brasileiros. Mariza maravilhosa.
ResponderEliminarGirassóis nos seus dias. Beijos.
E a Mãe Preta pela Amália que foi proibido pelo regime e transformado em Barco Negro? Ambos belos e pesados, diga-se!
ResponderEliminar