Ontem, na minha homenagem a Jaime Serra, prometi o que hoje aqui vos trago. Não é uma tese é uma mera reflexão que achei oportuno trazer logo a partir das palavras iniciais do militante e lutador comunista. Refere ele, que iniciando a actividade na construção civil, cedo ingressou indústria, primeiro na Construtora Moderna e depois nos Estaleiros Navais do Alfeite. Logo aí, ingressou no Partido.
Nesses tempos era relativamente fácil assumir consciência de classe e desenvolver laços de relação solidárias. Tal facilidade resultava tanto da percepção de haver uma enorme (e injusta) distância entre o valor do trabalho e o do produto, como dos próprios laços de relação impostos pelo modo operatório, em que um posto de trabalho depende do anterior e condiciona o que se lhe segue.
Com a desindustrialização tudo isso se vai reduzindo... Com o desaparecimento da Construtura Moderna, foram à vida, para além da Siderurgia, as jóias da coroa da metalomecânica pesada: a Cometna; a Mague; a Sepsa; a Equimetal; a Sorefame; a Fundição de Oeiras e, ainda agora, a EFACEC luta pela sobrevivência.
Nada disto é novidade por razões já ditas. A minha surpresa foi constatar que a industria de construção e reparação naval, por onde Jaime Serra andou lutando, jamais será aquilo que já foi. Dê-se ao trabalho de analisar o quadro. Dele apenas destaco que o sector, em três décadas, passou de mais de 26 mil trabalhadores para cerca de 900...
Quadro retirado daqui
Nada voltará a ser aquilo que já foi. Digo eu sem ter feito análise ao quadro, cujo conteúdo mal consigo ver distintamente. E não só no sector da construção e reparação naval. Há décadas que o capital se virou para a comercialização e o sector imoliário em detrimento da anterior industrialização.
ResponderEliminarPodemos nem estar a falar da mesma coisa, Rogério, mas querer voltar a um tempo ido que implicava um outro Regime político, é para mim o mesmo que querer sol na eira e chuva no nabal...
Querida amiga,
Eliminardesculpo o insulto, implícito
de ser um gajo retrógrado
O que eu queria e advogo
é que desejo e sonho
de um fogão
produzido numa nossa fundição
viajar
de Oeiras ao Porto
em carruagem nossa
sem dar conta do transbordo
Quanto ao quadro
nem precisa de óculos
as linhas a branco
são estaleiros
que foram para o estaleiro
O futuro bem podia assentar
na "Economia do Mar"
não vai ser
e nem é por azar
tem razão
a especulação
é que está a dar
Rimas, sonhos e poesias à parte, especular, falar por falar, faz parte desta publicação em forma de arte.
EliminarTem sido esse o mal, muito sonho, pouca mudança.
Voltei só para lhe dizer que esta noite me sinto um pouco amarga e desencantada, pelo que nem devia ter comentado, nem aqui nem noutro lado onde já comentei.
EliminarAté amanhã, Rogério.
Tivesse quem sonha
Eliminarforça
e a nossa conversa
seria outra
Agora, tenha paciência
estou num minuto de silêncio
por quem
lutou a vida inteira
Cada um sabe da sua luta.
EliminarUns lutam em sentido figurado, com palavras, com cantos, com poemas. Outros, entre os quais me incluo, lutam ou lutaram, literalmente, pela sobrevivência. Saiba o meu caro amigo defensor da classe operária, sem nunca operário ter sido, que eu passei a minha adolescência e parte da juventude - enquanto vivi em Moscavide - a trabalhar em várias indústrias. Sendo que a primeira, foi de lanifícios e a última de embalagens de celofane.
Alguma vez ouviu falar no Consórcio Laneiro de Portugal? Pois saí, após reclamar contra um aumento de salários no qual não fui incluída. Quando me dirigi à entidade que respresentava o patronato, foi-me respondido, após uns dias, que não havia sido abrangida dada a minha pouca idade.
Ao que respondi: -"Se não tenho idade para receber um mísero aumento no salário, também não tenho idade para me esforçar para dar a mesma produtividade que as minhas companheiras de secção dão. A partir de agora vou fazer só o que a minha idade permite"
No dia seguinte tinha uma repreensão registada, por insubordinação, no painel de entrada. Nem subi. Saí e fui Avenida D. Afonso Henriques acima a pedir trabalho. No dia seguinte era operária na Fábrica Barros, onde o meu futuro cunhado - que eu, na altura, não conhecia, era «debuxador».* Tinha eu quinze anos incompletos.
A última empresa chamava-se Neocel. Algum destes nomes lhe diz alguma coisa?
Não foi o trabalho que me "azedou", não foi a luta pela igualdade. Foi muito mais tarde ter conhecido uma outra luta discriminatória de género, contra a qual hoje tanto se luta e, não obstante, alastra como pólvora.
Fico por aqui, pois já lhe provei que não sou uma aburguesada mulherzinha mimada, a estudar em Paris ou Londres, que se dizia/m de esquerda só porque era bonito lutar pelos mais desfavorecidos da sorte...pobrezinhos dos opérários, camponeses e marinheiros...
Por isso, não me diga para ter PACIÊNCIA. Nunca mais!
Fique bem.
Uma resposta cinco estrelas 🌟 embora eu tenha sido essa burguesa tipo caviar, que tinha como ídolo o Álvaro Cunhal porque ele era um intelectual, aprecio MULHERES com garra, que te respondem sem peias. Reflecte e enfia o carapuço 😜
EliminarObrigada, Teresa! O Álvaro Cunhal também foi o meu ídolo.
EliminarNão quis ofender o nosso amigo Rogério nem atingir ninguém, mas há alturas em que o meu passado de labor intenso e tão digno como qualquer outro mais qualificado, em que tive de lutar contra a ignorância, lendo e aprendendo tudo o que podia para fugir ao obscurantismo, me faz subir o sangue à cabeça, com certas e determinadas coisas que observo, leio, e calo...até um dia.
Janita e Teresa,
EliminarRetomando o tema
aí se versava
que a metalomecânica pesada
foi para o galheiro
e hoje tudo o que é de ferro e chapa
vem do estrangeiro
Era o sector, em conjunto com a industria naval, que foi berço de homens da tempera do meu camarada Jaime Serra.
Perder um sector com a capacidade do sector naval é condicionar uma economia do mar a ter de comprar todo o tipo de navios, excepto os de recreio e a pequenos pesqueiros.
Por último, trazer para o tema questões que se prendem com a nossa coerência e vivência pessoal até pode ser interessante, só que rebenta com o sentido do conteúdo em apreço.
(Álvaro Cunhal nunca foi operário!)
Este comentário foi removido pelo autor.
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EliminarResumindo e concluindo: Não há Festa como esta.
EliminarO Rogério dá o mote prá Banda tocar mas, como a música não lhe agrada, descarta-a, é pessoal não serve pra nada.
Depois, não havendo entre a assistência pessoal a quem entregar a pauta, pega na batuta, canta o refrão, lança os foguetes, apanha as canas e termina encantado com o seu Fado.
CLAP- CLAP-CLAP.
«Janita11 de fevereiro de 2022 às 01:00
EliminarVoltei só para lhe dizer que esta noite me sinto um pouco amarga e desencantada, pelo que nem devia ter comentado, nem aqui nem noutro lado onde já comentei.
Até amanhã, Rogério. »
Até amanhã, Janita
Rogério, vou levar uma eternidade a ler essa tese final de Mestrado...
ResponderEliminarEntretanto, algumas estruturas industriais sobrevivem e outras vão tomando novos formatos, sem deixarem de ser espaços de trabalho, logo espaços de exploração da força de trabalho e potenciais fontes de grupos capazes de desenvolver consciência de classe.
Quereria estar muito segura ao responder-te que sim, mas sinto que ainda tenho muito que reflectir sobre o assunto.
Forte abraço!
PS - Refiro-me à pergunta que nos fazes no título desta publicação, claro.
ResponderEliminarMaria João,
EliminarPoupa-te. O link à tese era uma mera forma de situar a fonte (embora lá esteja boa informação, digna de leitura caso estivesses interessada em ir mais longe do que formar opinião)
Quanto à existência de industria que tenha sobrevivido e onde formas de exploração permitem a formação de uma consciência de classe, claro que existe. E até proporcionando grandes e fabulosas riquezas aos seus donos ou accionistas. É o caso do têxtil e do calçado. Mas onde os grandes espaços albergando milhares de operários deixaram de ser necessários pois os processos produtivos deixaram de requerer concentração. Por exemplo, a DIELMAR (onde fiz um pequeno trabalho) passa por um processo de insolvência porque nunca, entre outros problemas, resolveu bem a lógica do seu processo produtivo. No norte, é frequente a subcontratação a pequena unidades ou até mesmo a costureiras individuais que vão à fábrica levantar o corte que depois devolvem em peça acabada...
No calçado, passa-se o mesmo. Na rolha de cortiça, o mesmo se passa.
Nesses casos, mesmo quando há consciência das formas de exploração é muito difícil a organização dos trabalhadores e, desde logo, a actividade sindical...
Forte abraço