A manhã começou instável, mas o sol ia espreitando de quando em quando e o vento amainara. O casal vestido de claro chegara primeiro e procurou, na explanada, a mesa mais perto do rio, que ali se alargando, já parecia o mar. Sentaram-se. Calados, esperaram. Passou um cargueiro ao largo e um veleiro em sentido contrário. Ambos olhavam vagamente, até que o casal, vestido de tom levemente mais escuro, chegou. Pareciam terem todos a mesma idade, bem no meio da vida. Cumprimentaram-se. Eles efusivamente, elas com cumplicidade, e os cumprimentos restantes, dos casais trocados, com sorrisos e beijos formais. Pediram de beber. Um deles traçou a perna e o outro também. Uma delas tirou um cigarro e a outra também. Eles começaram a conversa, com o tema do costume, lamentando as baixas do clube, as arbitragens desastradas, e ambos concordaram estarem compradas. A do casal que vestia claro comentou o design da mala da outra e falaram de malas, de sapatos, dos saldos e da dureza da vida que lhes tinha limitado os gastos. O sol abriu-se totalmente, a manhã ficou quente e estava no tom certo a música ambiente. Todos comentaram como o sol, meigo, os bafejava. A conversa ia animada e o tempo passava. Já não se avistava o cargueiro nem o veleiro. O Tejo, tendo no meio o Bugio, parecia vazio. Tão vazio como as conversas e as almas que conversavam horas a fio. Podiam, se pudessem ou quisessem, falar da cruz que cada um levava. Mas não falaram disso. Ou porque não quisessem, ou porque desaprenderam a falar de si ou ainda para não puxarem temas desagradáveis, numa manhã tão tranquila, numa esplanada estendida ao sol, em vésperas de mais um domingo de Páscoa. A musica ambiente fazia-se ouvir numa versão de "Always Look On The Bright Side Of Life", no tom adequado. Ao longe, aparecia um barco.
07 abril, 2012
Sábado Santo, na esplanada, com a música de fundo no tom adequado
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As pesadas cruzes, depositadas atrás de cada casal, procuravam lançar suas sombras em outras direções. Não queriam estragar o momento leve que se fazia na véspera do renascimento do sol.
ResponderEliminarUm grande bj querido amigo.
Os casais fizeram uma boa opção em não abordar a cruz de cada um.
ResponderEliminarE porque haveriam eles de abordar as suas cruzes?
ResponderEliminarAfinal a manhã acordava serena e o movimento no rio não se fazia em horas de ponta.
A cruz de cada um está de costas voltadas. Esconderam o rosto do verdadeiro Cristo.
Foi propositado...?
Venho sempre aos comentários quando me fazem perguntas, mesmo se quem as coloca dá a sua própria resposta.
ResponderEliminarCaro Luís,
Falemos então de futebol, de moda e do sol. Problemas?, a nossa cruz?, cada um que carregue a sua... Que cada um carregue também seus pecados. Seremos, amanhã, todos perdoados...
Querdizer... O que tens a perder?
ResponderEliminarSabes como é, quem veio do nada, vai voltar p'ro nada.
O que perdeste? Nada!!
Lembra-te sempre que a vida tem o lado bom...
(É pelo menos o que andam a
dizer -desde sempre- e o grave é que o cidadão-eleitor acredita)
Vai uma amêndoa para acompanhar o trago?...
Tenhamos um intervalo apaziguador ao turbilhão de ideias que nos passa pelas cabeças ao questionar-mo-nos se valerá a pena continuarmos a ser um povo de brandos costumes.
ResponderEliminarPáscoa Feliz com este coelho amestrado
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Abraço
o sol
ResponderEliminarpor enquanto, ainda é de gratuito
ou talvez, não
Páscoa feliz para si, Rogério!
um abraço
Não sei se comente, se fique apenas a reflectir para mim. Esse estilo de conversa mole e superficial não encaixa nos meus dias. Não consigo conviver com gente que só fala de futebois e sapatos e que acha que crise é não poder comprar as marcas do costume, não sou generosa a esse ponto, porque há a falta de sapatos dos outros, a falta de sol e esplanadas na vida de tanta gente.
ResponderEliminarA música é boa e para mim contrastante, apesar de tudo gosto de dar o lado brilhante da vida, não deixando de conversar sobre o sério, um pouco ao estilo do filme "A vida é bela", o ajudar a sobreviver na desgraça, com um pouco de sonho.
Tal como digo atràs já só tem Páscoa quem ainda tem dinheiro para amendoas e ovinhos de chocolate, porque a Páscoa do Cristo crucificado e ressuscitado é de todos os dias.
Eu não compro amendoas, nem pão de ló, nem nada de supérfluo, sou uma funcionária pública sem subsídios, mas tive um utente que me ofereceu uma caixinha de amêndoas. Nasci sem nada e de pouco mais preciso.
Uma Boa Páscoa para ti Rogério, aquela que celebras sempre na luta pelo bem comum e pela expulsão dos vendilhões dos templos, neste nosso tempo.
Beijos
Branca
Eu percebo onde quer chegar e o video é uma pérola... não podia ter sido mais eloquente! Mas deixe que lhe diga, por natureza, não falo de carteiras, roupas ou de futebol, mas vejo-me cada vez mais a falar de trivialidades, para não falar do que me preocupa, não vá desatar a chorar em plena esplanada... beijo
ResponderEliminarO vídeo, se não fosse triste, daria para morrer... de rir.
ResponderEliminarBeijo
Hoje falamos de trivialidades.
ResponderEliminarFalar do que nos inquieta, nos atormenta.
Nada nos liga. Cada um de nós é uma ilha.
Apesar de crucificados,
cantamos o lado brilhante da vida...
Amigo Rogério, acho que não quiseram conspurcar uma manhã tão amena, com conversas tristes e de lamentações, verdade?
ResponderEliminarBeijinhos e boa Páscoa. :)
Oremos!?
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