Pensando bem, não se sabe quem faz propaganda a quê e a quem
Num comentário a um dos últimos posts, um amigo escrevia algo que merece o realce que hoje lhe dou:
"Que eu saiba os intelectuais nunca fizeram uma revolução (1). Podem, quando muito, através da análise, aperceber-se das razões por que ela não é feita. Outros nem isso fazem. Limitam-se a louvar a pinga (e a publicidade pinga sempre, dado que há um "mercado" de publicidade) que o Pingo Doce lhes oferece. Não vou citar nomes, por escusado. Estando vivos fisicamente, e gostando da pingoleta (palavra muito expressiva, utilizada por Camilo Castelo Branco no “Amor de Perdição” a propósito de uma freira…) morreram ideologicamente inebriados antes da morte física de Saramago, que continua a "viver" para muitos de nós. Mas basta de chorar sobre os intelectuais, sejam escritores ou não. Choremos sobre nós. Consignar unicamente aos intelectuais o dever de elucidar pode esconder várias coisas, entre elas o complexo de o não ser, o medo de errar na apreciação, a falta da prática. Pensar a realidade é o dever de todo e qualquer cidadão. Mas há muitas maneiras de pensar. Desde seguir acriticamente todos os conteúdos que nos são inculcados por diversos órgãos de informação ou até, frente ao próprio erro de apreciação, a falta de autocrítica. Por que terão surgido tantos blogues de esquerda na informação diária disponível? Que eu saiba nenhuma “operadora de caixa” (expressão bonita que esconde a realidade “operária”) terá tido a benesse de promover uma qualquer marca de vinho. Alguém me poderá apontar a razão? Intelectual foi Adolfo Hitler, com as consequências que todos nós conhecemos. Mas o Chico sapateiro (Francisco Miguel), operário, ele reflectiu sobre a sua condição e a dos outros e agiu. E até já houve quem, sendo um intelectual, se considerasse “filho adoptivo da classe operária”. Dos que morreram e continuam “vivos”. Leia-se, a propósito, de Miguel Urbano Rodrigues, "Da utopia à revolta, da indignação à revolução"
(1) Aceite-se a afirmação. Contudo, veja-se que não há revolução que não tenha tido seus precursores
Caro Rogério
ResponderEliminarLi os seus post e acredite que não comentei, só porque não tinha nada a acrescentar. Sempre foi para mim difícil perceber o que é um "intelectual". O que tem uma série de canudos ou o que usa o "intelecto". O que tem um título académico e alguma capacidade de usar a palavra e é transformado em opinador de uma coisa qualquer.
Partilho em parte com a análise que deu à "estampa". De facto os intelectuais não fazem revoluções, mas as principais da história foram dirigidas também por eles e nalguns casos em primeiro plano.
Creio ser um tema complicado para comentar, mas interessante.
abraço
Rodrigo
Os intelectuais não fazem as revoluções, mas que seria/será delas sem a participação deles.
ResponderEliminar"por quem os sinos dobram?"...
ResponderEliminardigam-me.
assino o comentario do JRD - sintético e... sábio!
abraço
Merece mesmo o destaque que lhe deu...
ResponderEliminarBeijo
Intelectuais?Eles falam, falam, mas...
ResponderEliminarNo outro teu post, comentei "aos poucos os economistas foram afastando os intelectuais. Alguns compraram-nos outros apertaram-lhes o garrote". Neste eu comentaria de igual forma e se calhar com mais propriedade. Temos nomes até para os que compram e para os que se vendem. E há muitos que já não conseguem respirar...
ResponderEliminarPois é... mas na revolução francesa e em 1917 não havia televisão!!! Agora bem podemos esperar sentados porque a anestesia das novas tecnologias tinha um fim em vista. Portugal como sempre vai à frente! É a cobaia do comportamento de massas! Foi por isso mesmo, que o Bilderberg Balsmão "ganhou" esse título. Vendeu o País inteiro à engenharia social! Somos os 1ºs mas não únicos.
ResponderEliminar"A ideologia pós-modernista é responsável por grande parte das derrotas dos movimentos sociais nestas duas décadas, não só porque esse modismo teórico influenciou parte da juventude e lideranças dos movimentos sociais, como também porque levou à frustração milhares de lutadores sociais. Isso porque as lutas fragmentadas geralmente se desenvolvem de maneira espontânea. No início tem uma trajetória de ascenso, empolga milhares de pessoas, mas logo depois o movimento vai enfraquecendo até ser absorvido pelo sistema.
Por outras palavras, o pós-modernismo é o fetiche ideológico típico dos tempos de neoliberalismo e representa a ideologia pequeno-burguesa da submissão sofisticada à ordem do capital. Mas essa ideologia carrega consigo uma contradição insolúvel: no momento em que o capital mais se globaliza, com a internacionalização da produção e das finanças, é justamente neste momento que os pós-modernos pregam a fragmentação da realidade, a setorização das lutas sociais, a especificidade dos combates de género, etnia, raça, sexo, etc. Só mesmo quem não quer mudar a ordem capitalista pensa desta forma.
Na verdade, todos os que seguem esse ritual teórico, de maneira direta ou indireta, estão abrindo mão de um projeto emancipatório e escondem sua impotência mediante um discurso cheio de abstrações sociológicas, mas muito conveniente para o capital. Por isso, combatem as lutas gerais, para fragmentá-las em lutas específicas, que não afrontam abertamente o sistema dominante.Trata-se do varejo da política fantasiado de moderno.
Esses setores cumpriram, nos últimos 20 anos e ainda cumprem até hoje, um papel muito especial na luta ideológica atual: eles são a mão esquerda do social-liberalismo capitalista. Influenciam as gerações mais jovens, desenvolvem um discurso com aparência de modernidade, influem na organização das lutas sociais. Com seu discurso eclético e fatalista, cheio de senso comum, desorientam setores importantes da sociedade no que se refere à ação política e, na prática, ajudam a organizar, mesmo que indiretamente, a submissão de vários setores sociais à ordem capitalista e aos valores do mercado.
Essas duas décadas de experiências fragmentadas nos levam à conclusão de que, mais do que nunca, as vanguardas revolucionárias têm um papel fundamental no processo de transformações sociais. São elas exatamente que podem conduzir e orientar os vários movimentos sociais com uma plataforma estratégica de emancipação da humanidade, o que significa derrotar o imperialismo e o capitalismo."
Vinha ainda comentar este post que vi ao princípio da noite, mas perdi-me pelos poemas de Abril e vejo que chego um pouco tarde porque já outro nasceu.
ResponderEliminarNão quereria acrescentar muito sobre os "intelectuais" porque também não sei muito bem o que são, a palavra soa-me sempre a um certo elitismo, não vejo Ary dos Santos como um intelectual, nem Pablo Neruda, nem Sophia de Mello Breyner e muitos muitos outros, teria que fazer uma lista interminável de nomes e como aqui alguém diz é um tema muito complexo, às vezes difícil de traduzir por palavras.
Esta fotografia que aqui publicas, caro Rogério, vi-a ontem à tarde pela primeira vez, no Pingo Doce de Leiria, numa das visitas que por lá tenho feito durante um ano que está a terminar e a minha alma pasmou de espanto, abri bem os olhos, olhei de perto e voltei a olhar para verificar se estava a ver bem e cheguei à conclusão que o mundo realmente enlouqueceu e dou a mão à palmatória porque nunca imaginei, nem me passava pela cabeça que pessoas destas descessem tão baixo. Já não me é fácil aceitar que um ou outro artista, um ou outro jornalista ou apresentador recorram à publicidade, mas o António Barreto é o cúmulo do que alguma vez possa ter visto e isto para mim não é um intelectual, é um intelectualoide, como muitos comentadores que andam para aí, que falam, falam e não dizem nada...
Como é que um homem destes se pode vender assim? Como pode ter passado de um ar tão grave a este ar tão ridículo e apalhaçado? Temos que chamar os bois pelos nomes e é isso que vejo ao olhar para esta fotografia.
Beijos
Branca