O corpo feito num caco. Um colete a abraça-lo. "É minha coluna, Rogério". A gata afaga-me o braço. Roí-me o sapato. Com a bengala, ela enxota-a. Comentamos a magreza do seu RSI. Deixo-lhe um sobrescrito e um sorriso. Ela dá-me um braçado de poemas. Digo-lhe que começo por aquele que ela publicou aquando falava eu da força da língua portuguesa e ela da sua perda de visão. "Faz como achares melhor!..." Disse-me.
E eu assim fiz:
VELADA VISTA, VEDA-ME A VISÃO
À saída, já à porta, pedi-lhe que me fizesse uma pequena nota. E ela assim fez:Velada vista, veda-me a visão.
Vagas vogais vou vendo vagamente.
Voejam, vertem, vagam... voarão
Vigas e várzeas, verdadeiramente?
Vejo verde/vermelho. Vejo em vão?
Vestígios, viscos, velas e videntes...
Víboras voam vindas do vulcão,
Vermes vomitam vergonhosamente.
Vou vendo, vou... vi vadiar o Verão,
Voluptuoso, válido varão...
Vê-lo-ei vicejar vibrantemente?
Viçoso o vi dos vidros das varandas;
Vivas vergônteas, velhas, venerandas,
Viraram vultos. Verga-se-me o ventre.
Maria João Brito de Sousa – 18.07.2018
«A poesia experimental, no nosso país, parece-me ter explorado mais o campo visual do que o sonoro, embora me seja ainda difícil dar-te uma opinião muito segura sobre este assunto. É muito longo o tempo que me separa do que aprendi sobre ela na minha primeira juventude e muito, muito curto o tempo de aprendizagem mais recente, constantemente interrompido por compulsões criativas, pela demorada execução das minhas necessidades básicas do dia a dia e por algumas leituras noutras áreas do conhecimento.
Resumindo; o tempo voa-me tão mais depressa quão menos os olhos vêem e o corpo se consegue movimentar.
De qualquer forma, estes meus sonetos que exploram os sons consonânticos e também os vocálicos, visam muito mais uma experimentação sonora/auditiva do que visual, sendo que a pauta do soneto entra no experimentalismo sem fazer a menor cedência à composição melódica do soneto.
Quase todos os que compus, até agora, são em decassílabo heróico, com excepção deste (...)
Esse, publico depois...
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