05 dezembro, 2024

MÁRIO SOARE: EM SUA MEMÓRIA, AQUI LEMBRO O QUE DEIXEI ESCRITO, NA HORA DA SUA MORTE...


Mário Soares, em tudo  o que se empenhou, no essencial, nunca errou.

Quando soube, tomado pelo respeito pela morte de Mário Soares, guardei relativo silêncio sobre o que se ia dizendo sem acrescentar mais do que uma reservada chamada de atenção sobre o que não ia sendo dito e sobre o dizer distorcido, remetendo para a História a reposição do rigor que a esta assiste.
Perante a jactância da imprensa escrita e televisiva em continuo laudatório (sem contraditório) decidi alterar o comportamento e alinhar alguns textos. 
Este é o primeiro
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Maio de 1969 - «Naquela manhã tomara a decisão de ir. Era então revisor supranumerário do "Diário de Lisboa" o que me proporcionava o contacto e a facilidade em me fazer aceitar como pendura na carrinha que sairia para a distribuição dos vespertinos em direcção ao Norte. Mal instalado, a um canto da pequena viatura, com as pernas encolhidas para não danificar os jornais, lá ia me acomodando à medida que o percurso ia sendo cumprido e os jornais sendo entregues. Em cada local, o funcionário disso encarregado, abria as portas traseiras e ia, ao mesmo tempo que a marcha abrandava, atirando maços entrelaçados dos jornais, para os pontos que a rotina diária determinava. Diário de Lisboa, Diário Popular e Republica iam sendo distribuídos, distraindo-me, aquela  habilidade certeira, do mal estar da viagem. "Nunca erro o alvo", dizia-me, orgulhoso, o dono desse feito. Chegámos a Aveiro, a meio da tarde, mais cedo do que a rotina normal. Recordo que me reparti entre o interior do cine-teatro, ouvindo comunicações, o átrio e o que se passava na rua, onde pequenos grupos comentavam ou discutiam vivamente a situação de pré-anunciada cisão sectores da oposição democrática. De quando em quando a minha atenção era distraída pela passagem de uma figura conhecida.(a

A dada altura, dei por um grupo pouco numeroso mas agitado que rodeava um homem que ouvia com serenidade sem desarmar a agressividade de linguagem de quem o rodeava. Aproximei-me na precisa altura em que o homem-calmo convidava o grupo para entrar num café próximo, "terreno" por ele escolhido para dirimir a contenda.  Segui-os e percebi que a proposta funcionou bem pois o tom da discussão baixou para dar lugar a uma troca de opiniões. De um lado, o do grupo, defendia-se que o Congresso deveria claramente tomar uma posição contra a guerra colonial o homem-calmo argumentava, sem contestar, quer seria mais adequada uma posição menos radical e explicava ter de haver o aproveitamento da "Primavera Marcelista" para provocar a discussão a nível nacional. Ele depositava esperança em Marcelo Caetano, o grupo não. Apesar de estar com o grupo, simpatizei com ele e perguntei quem era. "Carlos Candal, um gajo lá do grupo do Soares" (recentemente, um amigo o definia como um homem capaz de convencer as freiras a deixar votar as meninas que elas aprisionavam mal o sol se punha)
Saímos com a impressão do que mais tarde, em Outubro desse ano, iria acontecer. E eu com a certeza de a guerra colonial não iria ser combatida com a oposição unida. 
Com essa convicção, em Junho partiria para Luanda.
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Novembro de 1969 - Recordei (no meu livro) comentando em Maquela do Zombo as eleições de Outubro: «A «primavera marcelista» dava os frutos que o salazarismo nunca tinha conseguido de maneira tão clara: a cisão da oposição. Mário Soares, reputado opositor antifascista, tinha optado pela ruptura com os comunistas, republicanos e católicos progressistas, dividindo também estes. (...) Os socialistas punham a questão colonial na gaveta, por troca de esperadas benesses marcelistas..».
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2 comentários:

  1. Foi bom rever os pontos que aqui nos trouxeste, Rogério. Quanto a Mário Soares, um homem extraordinariamente hábil em levar a água ao seu moinho, dividindo para reinar, se tanto lhe parecesse necessário. Eu estaria rica se tivesse tantas moedas de euro quantas as vezes em que ele errou.

    De Carlos Candal não consigo recordar-me. Mas confio na tua prodigiosa memória e na imparcialidade dos teus apontamentos.

    Forte abraço!

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  2. Mário Soares o político que evitou que a direita fizesse o trabalho sujo.

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