04 julho, 2022

RELEMBRANDO A RÃ...

A "minha-mai-nova" convidou-me para jantar. E fui. À conversa falámos sobre tudo... e o Diogo trouxe-nos à memória aquela estória já contada... quando a minha filhota lembrou que também retinha uma fotografia. 

Pedi-a. E ei-la 


 Quanto à estória seria digna de figurar no meu livrinho...

Escolheu a avó a melhor alface do mundo. Limpou-a de folhas velhas e meteu-a no frigorífico, bem acondicionada. Passaram-se uma, duas, três ou mais horas, quando chegou a hora da salada a avó foi busca-la. Cortou-a à mão, como mandam as boa regras e a tradição. Tirou uma folha, duas, três ou mais que foram, quando deu por ela. E disse "olha!", olhando a a folha.
Lá, especada, talvez temendo pela sorte, talvez sem temer coisa nenhuma, estava ela. A rã!
Era tão pequena, tão pequena, tão pequena, que caberia numa só garfada, de salada. Mas não, foi salva!, pois a avó era meticulosa na culinária. Sabendo como o neto gosta e adora todo o bicho que me mexa, logo o chamou. E o neto adorou. Pegou nela. Primeiro com toda a cautela e depois nem tanto. A pequenina rã saltou como um saltimbanco e deu um pulo, e outro, e outro, e outro, daqueles que todas as rãs sabem dar, mesmo que não fujam de quem não lhes sabe pegar. O neto gostou. Gostou, muito mais do que qualquer outro bicho que apanhou. A rã, nem tanto.
Veio o avô, sisudo, com o ar mais severo deste mundo, e sentenciou: "esta rã se aqui fica, estica". E depois explicou o que entendia por esticar. Porque assim, porque assado, porque a rã precisa de um amigo ou de uma irmã, precisa do corpo sempre molhado e dum habitat a preceito, de um ambiente a seu jeito.
O neto, que entretanto diria "este é o melhor dia da minha vida", ficou convencido. Ele, que normalmente teima uma vez, duas, três, aceitou à primeira que a pequena rã tinha que levar outro caminho. E levou. No outro dia, cedinho, avó, avô, neto e rã, procuraram um sitio, com todo o afã: "Ponha naquele lago grande, lá em cima. onde há nenúfares e peixes", aconselhou o chefe dos cantoneiros e jardineiros daquelas paragens. Esta opinião confirmara outra, que na véspera tinha o avô recolhido numa reunião politica, colocando o problema daquele destino, antes da ordem do dia. Assim fizeram, e lá foram avó, avô, neto e rã a caminho do destino indicado e até confirmado.
Chegados lá, o neto pegou na rã e logo que esta viu a água, os nenúfares e o resto, pimba! mergulhou nisso e, de pronto, perdeu-se-lhe o sumiço.
Inquieto, o neto, perguntava "onde está?" Triste, a avó, em coro com o avô, perguntou "onde foi parar?" E ficaram os três a olhar, a olhar, a olhar.
 "Vô, amanhã passas por cá a ver se ela está cá?" "Claro!" (e vou mesmo passar).


15 comentários:

  1. Sem dúvida que é uma história digna de figurar no meu livro de contos infantis. Não compreendo, Rogério, porque não está lá!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Rogério V. Pereira5 de julho de 2022 às 19:09

      Isso é uma pergunta ou um desafio?
      Talvez num próximo livro...

      Eliminar
  2. Toca a continuar a aventura da rã da cozinha em Oeiras ao lago grande lá em cima!

    Abraço

    ResponderEliminar
  3. Sim, Sim! Esqueceu-se desta. Lembro-me bem dela. Custa a crer que tenha passado tanto tempo, mas o Diogo confirma.

    Lídia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Rogério V. Pereira5 de julho de 2022 às 19:24

      "Um livro inteiro de contos para a infância.
      Este já conta, tal e qual como está. Não necessita de mais afã."
      Este era o seu comentário deixado em Setembro de 2015
      De facto sou muito distraído...

      Beijo

      Eliminar
  4. Meu caro Rogério
    Ainda não li o teu livro de contos, mas esta "estória" é lindíssima estaria lá muito bem com certeza. Quem sabe um segundo livro!
    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Rogério V. Pereira5 de julho de 2022 às 19:28

      Pronto, está decidido
      lá terá que ser um segundo livro
      Título? Ainda provisório...
      "A arte de construir um biólogo!"

      Eliminar
  5. Essa é boa demais , pode figurar no próximo ,Rogério
    Se não fosse o cuidado da avó seria uma salada indigesta ...
    Estou muito distraída e atarefada_ já já mando o endereço e
    aguardo o livro ,quero muito ler para os netos. Um abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Manda-me a morada
      e de seguida segue o livro
      mas tens de assumir o compromisso
      de contar a estória mais engraçada

      Eliminar
  6. Esta história , além da tua habitual qualidade de escrita, é uma ternura que nos envolve e me faz começar bem o dia!

    Grato abraço.

    PS_ como é que consigo o teu livro?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Querida amiga
      se tudo funcionar como espero
      vais ao meu perfil (canto superior direito)
      lá tens o meu endereço
      e... basta que me mandes a tua morada
      e... mais nada

      Eliminar
  7. O teu livro é um encanto.
    Eu diria mesmo que é um livrinho perfeito.
    As histórias, as ilustrações, a introdução é tudo maravilhoso.
    A fotografia que publiquei não é famosa, mas tem razão de ser: o livrinho está no focinho do urso de pelúcia da minha filha Vannie.
    Abraço com mil agradecimentos da amiga de sempre Teresa Palmira Hoffbauer 💙

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Depois diz ao urso de pelúcia da tua Vannie
      que lhe conte um conto lido dali
      (ou conta tu
      na versão
      em alemão)

      Boa?

      Eliminar
  8. rssss, pois eu adorei essa história, mas não colocaria essa rãzinha na minha mão de jeito nenhum, acho que teria um enfarto se ela se mexesse!!!! Mas a história, como dizem as crianças daqui, é "massa"! Quer dizer excelente!
    Aplaudo!
    Um feliz fim de semana!
    Beijo

    ResponderEliminar