A foto dos três: Ele, ela e a junção de dois (segundo Pilar del Rio)
Para a minha homilia de hoje não faltaram temas e a escolha foi dificil, tanto mais que produzida num interregno do retiro para escrever memórias de guerra e tendo-as, vivas, a povoar-me a mente. Tinha três temas: um (o primeiro que considerei), sobre a criatividade da escrita de jovens do 7º ano, em torno de recriações do conto de Saramago "A Maior Flor do Mundo"; o segundo tema, despertado pelo discurso de Manuel Carvalho da Silva (a finalizar a manifestação convocada pela CGTP-IN) seria sobre a necessária unidade das forças de esquerda ("Fazemos aqui um apelo a todos os trabalhadores, à população em geral e às forças políticas porque se todos se unirem ainda é possível evitar a concretização dos desastres que estão a preparar", dirigindo-se em concreto ao Partido Socialista defendeu a necessidade de este não assumir mais compromissos com políticas neo-liberais).; O terceiro tema, um texto sobre o amor entre dois seres, a sua relação e a bela e enorme participação de Pilar del Rio, ontem no programa do Herman José, onde afirma que eles os dois conseguiram serem três (que expressão mais bela pode definir o amor?).
Não foi fácil a selecção. Optei por critérios, sempre discutíveis, de utilidade mais imediata, ou seja o que de Saramago me fez lembrar o sólido e apelante discurso de Carvalho da Silva na manifestação de ontem:
HOMILIA DOMINICAL
"(...) Quase um mês decorrido sobre as eleições legislativas, tornou-se evidente para a direita que os resultados delas não abalaram o PCP. Em vez dessa esperança enganada, há motivos para crer que a prova de fogo, representada pela diminuição de votos e de lugares de deputados, fortaleceu a consciência política de militantes e simpatizantes, curando-os, Prouvera que definitivamente, de ilusões fáceis. Não tem que espantar-nos, portanto, que a AD acompanhe tão fervorosamente a crise do PS, adulando-a até, se é permitida a expressão. Espanta, sim, ver que o PS, apesar da tão apregoada experiência dos seus dirigentes, não foi capaz de entender a derrota e fazê-la compreender dentro e fora do partido. Espanta ainda mais verificar como Mário Soares conduz friamente o seu partido à ruptura interna. Saberemos um dia por que o faz. Hoje basta-nos ver que para Mário Soares é indiferente que o general Soares Carneiro, tão dotado para suceder ao almirante Tomás, possa vir a ser presidente da República Portuguesa depois do 25 de Abril. Aí fica um tema de meditação para um milhão e seiscentos mil cidadãos que votaram na FRS.
Concluamos. Que os comentadores da AD procurem alcançar resultados acrescidos da vitória, bem está: é o seu papel, é nisso que acreditam ou é para isso que lhes pagam. Mas que outros, afirmando-se de esquerda, levem água ao moinho da direita por arrastamento ou oportunismo, por malícia particular ou ingenuidade, por gosto do paradoxo ou cepticismo elegante - eis o que não pode passar sem reprovação. É possível que a crise do PS tenha já feito recuar os mais atentos. Sobrestejam nessa atitude. A direita não consegue segurar as máscaras. O rosto que está por baixo delas é conhecido. Não querer vê-lo seria sinal de cegueira, mas a esses outros cegos ninguém os levará pela mão para votarem na esquerda que nada fizeram para unir. Quando é essa, e só essa, a esperança da democracia."
José Saramago, "Unir a esquerda, defender a Democracia" (1 de Novembro de 1980), in "Folhas Políticas", pág. 96
Unir a Esquerda, Defender a Democracia
(1 de Novembro de 1980)
Unir a Esquerda, Defender a Democracia
(1 de Novembro de 1980)
Já tinha pensado nisso: porque "cargas de água é que pessoal de esquer..acaba por dar o , bem...acaba por ..."servir" os interesses de uma direita que só nos trás des^nimo e tristes recordações de "outros tempos"!!! Hein???
ResponderEliminarraios...
Olha...aprecio imenso as palavras de requinte e de mestre que deixas nos meus comentários: muito obrigada!
Vivemos tempos de gelatina.
ResponderEliminarbjs
Sei: é mais que "triste cinza"! É grito estrangulado na garganta, é núvem sem céu, é ver na Morte a única amiga, é dor constante, sem remédio, é algo que permanece até hoje...mesmo quando os dias têm mais cor...ele, o remorso, lá está...ensombrando vidas e toldando-nos a vista...com lágrimas que se choram em silêncio maldito...sei...é termos no presente a dor passada...que se intui a cada gesto. A sua cor...é a cor dos meus dias...mesmo quando há esperança...
ResponderEliminaré a cor do sono sem regresso, é vertigem que ensandece...é ter tudo e nada ter...
É sentir das flores o orvalho...e saber que tudo é ilusão...saber que afinal quem gere tudo é o remorso...é ele que ainda e sempre nos terá na mão...
Oh, sim...bem sei a cor do remorso...que é mais do que eu...mais do que minhas palavras...ele me envolve e me vilenta a cada instante...inda agora...mesmo agora ele me fere e me tortura....
Caro Rogério
ResponderEliminarO tema que escolheu para hoje é muito oportuno.
O texto De saramago remete-nos para os anos 70. Já muita água passou debaixo das pontes. Mas está actual. Trata-se do papel das esquerdas.
Das poucas vezes que estive com Jose Saramago, uma delas foi no forum Picoas numa reunião de constituição do INES (instituto de estudos sociais) constituida por cerca de 1000 militantes comunistas preocupados com os caminhos que o seu partido estava a tomar e as consequências.
Isto foi no final dos anos 80 ou principíos de 90.
Espero que não entenda isto mal. Mas Saramago tambem aí fez uma intervenção que gostava de ler, porque a memória tem limites.
Sobre a Manif. Apreciei sobretudo o discurso de Carvalho da Silva. Espero vê-lo ampliado e secundarizado.
Abraço
Caro Rodrigo, O texto transcrito está bem datado (Novembro de 1980), logo a seguir à vitória eleitoral da AD.
ResponderEliminarQuanto ao que José Saramago dizia e pensava, ele quase sempre passava à forma escrita. E não sendo homem de escrever coisa contrária ao que dizia, irei procurar textos dessa altura... se for caso disso publicarei.
O meu amigo optou pelo tema do amor entre Saramago e Pilar e fez muito bem.
ResponderEliminarPorque é o amor que nos pode ainda dar alguma esperança.
beijinhos
A tónica é de grande preocupação, ontem, como hoje. Um "marcar passo" antigo, inaceitável que "mata" esta terra à força de tanto desamor.
ResponderEliminarAs esquerdas, também me parecem muitas, o que não ajudou a evitar este quadro que agora "aguentamos".
Ouvi ontem a Pilar e tive saudade de Saramago, da sua presença física.
Um beijo
esta na altura de novos ideiais, os velhos e ja muito corrompidos ideiais, ja nao nos servem
ResponderEliminarBjinhos
Paula
Esperemos que mudem os tempos e mudem as vontades, como diz o poeta.
ResponderEliminarA vontade de um povo que parece despertar... parece!!!
Vi o programa pela Pilar e por Saramago e por uma história de amor sublimada a dois que foram efectivamente três.
Infelizmente que já há muito tempo que não suporto o Herman José.
Beijinho
Ná
"Mas que outros, afirmando-se de esquerda, levem água ao moinho da direita por arrastamento ou oportunismo, por malícia particular ou ingenuidade, por gosto do paradoxo ou cepticismo elegante - eis o que não pode passar sem reprovação."
ResponderEliminarTambém no Brasil os políticos e partidos de esquerda tanto fizeram e fazem, especialmente seguindo as trilhas da corrupção, que conseguiram desmantelar a esquerda organizada. Há que recomeçar.
Girassóis no seu retiro.
Beijos
O nosso Saramago
ResponderEliminarsempre vivo e actual
Sempre boas escolhas meu amigo
Abraço
Gostei muito do seu post. Saramago tem palavras sábias.Passei pra conhecer seu blog, e gostei muito e já estou te seguindo... Convido pra conhecer meu blog e me seguir se gostares. Um abraço!
ResponderEliminarSmareis