Imagem criada por Sílvia Mota Lopes |
“A LUA DE MEL DO GAFANHOTO MAROTO”
Estava o avô do menino, fazendo o que tantas vezes fazia, contando, desta vez não um conto, mas sim um acontecimento há muito, muito tempo, ocorrido e que o deixara muito, muito aflito. A ele e a milhares de agricultores desde o Algarve até à cidade à beira Tejo, que se chama Barreiro.
Contou, que uma praga imensa de gafanhotos, devastou muitas plantações, sobretudo searas de trigo, centeio e milho. Os insetos de todas as cores e tamanhos, não o faziam por maldade, mas por uma fome medonha. Não tinha sido uma presença demorada. Numa só manhã, “enquanto o diabo esfrega o olho” quase toda a sementeira foradevorada. Foi preciso muito esforço e tempo para repor tudo como agora estava.
“Avô, só vi gafanhotos em livro, nunca vi nenhum vivo... anda ainda algum por aí?
“Sim, um ou outro... ali para os lados do pomar até deixei um canteiro com comidinha escolhida para seu alimento... e acontece uma coisa engraçada um gafanhoto, muito maroto e traquina namora uma “gafanhota” que, ao que parece é bonitinha. Para onde um salta, salta o outro. Para onde o gafanhoto voa, voa a “gafanhota” atrás...
“Será que se eu for lá, os vou encontrar”?
O avô alimentou-lhe a esperança de ir ver quem nunca tinha visto ao vivo. O menino lá foi andando e pulando, pulando e andando em direção ao pomar, entrando pelo lado do laranjal. Mal tinha dado dois passos, pimba, um objeto bateu-lhe no rosto e ficou-lhe colado à face. Tentou tirá-lo e conseguiu isso sem grande custo, mas doeu-lhe um pouco. Olhando a mão, percebeu que era o gafanhoto que tinha acabado de agarrar e que a bochecha lhe ficara a sangrar. Zangado, mas sem pensar em fazer-lhe mal, ouviu o gafanhoto, com voz trapalhona pedir-lhe desculpa, que fora sem querer, um erro de salto mal avaliado, que elenão fazia mal nem a uma mosca...
Logo de seguida, ouviu-se a voz da joaninha: é verdade, ele até me salvou quando fiquei presa numa teia de aranha. E o louva-a-deus, dizendo que ele ajuda toda a comunidade. De seguida deu testemunho a borboleta contando que, quando um acidente lhe tinha quebrado umaasa, o gafanhoto a transportava levando-a até onde precisasse ir até a asa se curar. A abelha, que ia ouvindo tudo, lembrou como ele mobilizou a colmeia para fazer fugir um camaleão. A libelinha que ia passando, deu conta de como o gafanhoto a convenceu a regressar ao lago e deixar de comer os insetos daquela comunidade.
O menino, ouvindo tudo isto, largou o gafanhoto que de pronto se foi juntar à sua namorada que assistindo à cena, ficou ainda mais apaixonada e lhe disse baixinho para que nenhum inseto ouvisse: vamos fazer uma lua de mel e depois acasalar?
O gafanhoto deu o braço à namorada e saíram dali, cantando uma canção muito querida mas só pelos dois ouvida...
Depois de tudo isto, cada um dos outros ficou onde estava e o menino regressou a casa onde contou tudo ao avô, depois da avó lhe tratar da cara que ficara levemente arranhada.
O avô, pediu para que ele se sentasse ali, junto a ele. Começou por dizer que ele assistira a um belo momento, depois fez um prolongado silêncio como que a tomar coragem para o que ia dizer a seguir. Começou com uma breve pergunta: “sabes quanto de vida têm esses simpáticos insetos?” e depois, sem esperar pela resposta, assegura, “No máximo 16 semanas, vê lá...”
Com a resposta na ponta da língua, comentou o menino “Quem determina isso é o destino. Se tiveram vida curta, de uma coisa me fica sem dúvida: foram respeitados e felizes”
O avô sorriu e abraçando-o foi dizendo:
"Dure a vida o tempo que durar o que é importante é espalhar o bem e saber amar".
Quando ia a sair, voltou atrás para perguntar “Porque lhe chamavam gafanhoto maroto?”
O avô respondeu sorrindo “Porque fazia tudo, mesmo o muito sério, com um sorriso de gozo!”
Rogério Pereira
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Este conto é a resposta a um desafio proposto pela Teresa (Ematejoca) e conta com o apoio da Lídia Borges (revisão do texto) e a bela arte da Sílvia Mota Lopes
A descrição da lua de mel vem a seguir... : ) ?
ResponderEliminarUm conto muito bem contado.
Catarina, não há lua de mel que contar... dura dois ou três dias...
EliminarConcentra-te no namoro. E atenção tens que estar preparada para, se alguma criança te fizer a mesma pergunta saberes dar ao teu jeito a resposta adequada. Lê isto:
https://www.ideiasinteligentes.com/animais-de-estimacao/quanto-tempo-os-gafanhotos-vivem/
Se é “apenas” namoro, o título é enganador! : )))
EliminarDeveria ser “O namoro do gafanhoto maroto”. : ))
Li o artigo do link. Obrigada, Rogério.
Rogério adorei ler o conto!
ResponderEliminarUm beijinho sorridente!
Gratidão!
😍💋😍 Megy Maia
É adorável. Mas no dia em que resolveres contar a uma criança, lê mais sobre a vida dos gafanhotos...
Eliminarhttps://www.ideiasinteligentes.com/animais-de-estimacao/quanto-tempo-os-gafanhotos-vivem/
O gafanhoto e o vovô é simplesmente maravilhoso.
ResponderEliminarA ilustração é um encanto.
A menina que detesta livros 📚 vai adorar a história.
Outro conto para contar ou para ler. A ilustração está muito engraçada.
ResponderEliminarLídia
Obrigado pelo la tua colaboração...
EliminarBjinho
Gostei imenso do conto e da ilustração tal como disse ontem no FB. Ontem o blogger não me deixou fazer comentários. Hoje tenho estado a fazê-lo sem problemas.
ResponderEliminarAbraço, saúde e uma boa semana
Sabia que irias gostar...
EliminarAbraço de amizade
Gostei deste conto e da ilustração.
ResponderEliminarComecei ontem a ler o livro "Contos para serem contados". Estou deliciada, tanto com as histórias como com a ilustração. Estou a ler devagar, como se estivesse a contá-los a mim mesma, já que em criança nunca ninguém o fez para mim. E fico sempre fascinada. Muito obrigada por este prazer que me torna a criança que imaginava as histórias impossíveis.
Gostei do texto da Lídia Borges, escritora que muito admiro.
Uma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
Não sei se já te tinha dito, mas a Lídia é a madrinha do meu livro... foi ela que me ajudou a que o texto saísse mais escorreito e com melhor oralidade...
EliminarUm beijo
Bem imaginado mas... ainda não está descrita a lua de mel.
ResponderEliminarLê a resposta dada à Catarina...
EliminarE deu um belíssimo conto com uma não menos bela ilustração, este teu Gafanhoto Maroto! :)
ResponderEliminarUm grande abraço!
Calhou estar rodeado de gente competente...
EliminarAbraço agradecido pelo elogio
Belo conto maroto!
ResponderEliminarAbraço
Ainda bem que gostaste...
EliminarAbraço largo
Gostei muito.
ResponderEliminarBeijinho, excelente semana :)
Que bom, teres gostado
EliminarAbraço
Gostei muito do maroto, rss
ResponderEliminare não tem criança que não vá gostar.
Momentos ternos! Adorei a ilustração.
Uma feliz semana, beijo, Rogério.
Mas cuidado ao contar... lembro o link que deixei à Catarina...
EliminarA ternura que referes está bem espelhada na ilustração da Sílvia...
Beijo
Meu caro Rogério
ResponderEliminarMais um belíssimo conto para ser contado ou lido, trouxe-me à memória um conto que minha saudosa mãe contava "era uma vez um baguinho de milho"
Imagem de ilustração excelente
Um abraço forte
Xavier Longo
"era uma vez um baguinho de milho"
Eliminaracabas de me dar uma ideia... vamos ver...
Abraço