Caso não tenha cumprido a sua missão, pode admirar a beleza do Chiado. Mas é recomendável que passe por detrás do Fernando Pessoa, não vá ele avinagrar-lhe o juízo.
Resolvi ir de comboio. De casa à estação 7 a 10 minutos mais 20/25, na carruagem da frente, de Oeiras a Santos. Depois seria só subir a D. Carlos I e chegaria à Assembleia da República, ponto de destino dos manifestantes. Na curta viagem, na vertigem cadenciada dos carrís, deixei-me embalar em pensamentos de tempos idos, daqueles que ainda ontem (e também hoje) percorrem os caminhos da memória e fui parar ao Cais do Sodré. Contrariado e receoso por não chegar a tempo de cumprir a minha missão de mirone de “manifs”, subi a Rua do Alecrim, sempre com os tais tempos idos a acompanharem os meus passos apressados (“Alecrim, alecrim/alecrim aos molhos/por causa dos gases/doem os meus olhos”, recordava assim os gritos cantados com que então desafiávamos a polícia de choque e o regime). Venci metade da íngreme rua, na ânsia de chegar ao local combinado para a concentração estudantil. Os putos já ali não estavam… Vi-me assim em pleno Chiado, frustrado. Passei, por detrás do Fernando Pessoa com todo o cuidado, não fosse ele dar por mim e avinagrar-me o juízo. Mas o outro poeta, lá da praça, deu por mim. Não sei se sorriu, mas dei conta duma piscadela de olho, cúmplice, como que a dizer-me: Não perdeste grande coisa, espera por sábado.Quem disse que Camões era cego está redondamente enganado, ele tem é tiques de cumplicidade com quem, como eu, acredita na capacidade dos jovens em se insurgirem contra os velhos… do Restelo, com modos de "trinca-fortes".
Resolvi ir de comboio. De casa à estação 7 a 10 minutos mais 20/25, na carruagem da frente, de Oeiras a Santos. Depois seria só subir a D. Carlos I e chegaria à Assembleia da República, ponto de destino dos manifestantes. Na curta viagem, na vertigem cadenciada dos carrís, deixei-me embalar em pensamentos de tempos idos, daqueles que ainda ontem (e também hoje) percorrem os caminhos da memória e fui parar ao Cais do Sodré. Contrariado e receoso por não chegar a tempo de cumprir a minha missão de mirone de “manifs”, subi a Rua do Alecrim, sempre com os tais tempos idos a acompanharem os meus passos apressados (“Alecrim, alecrim/alecrim aos molhos/por causa dos gases/doem os meus olhos”, recordava assim os gritos cantados com que então desafiávamos a polícia de choque e o regime). Venci metade da íngreme rua, na ânsia de chegar ao local combinado para a concentração estudantil. Os putos já ali não estavam… Vi-me assim em pleno Chiado, frustrado. Passei, por detrás do Fernando Pessoa com todo o cuidado, não fosse ele dar por mim e avinagrar-me o juízo. Mas o outro poeta, lá da praça, deu por mim. Não sei se sorriu, mas dei conta duma piscadela de olho, cúmplice, como que a dizer-me: Não perdeste grande coisa, espera por sábado.Quem disse que Camões era cego está redondamente enganado, ele tem é tiques de cumplicidade com quem, como eu, acredita na capacidade dos jovens em se insurgirem contra os velhos… do Restelo, com modos de "trinca-fortes".
PS - À noite, no telejornal, percebi a dica do Camões. Os jovens terão outras agendas para além do "dia do estudante".
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