28 junho, 2015

A Independência Nacional, a Moeda, o Poeta (e, como pano de fundo, a Grécia)



Hoje, com todo o dramatismo, falou-se da Grécia. Houve, há pouco, quem dissesse que a saída do Euro nunca deveria ser um acto único mas um processo. Há que ligar o hoje ouvido a outras coisas ditas. E até ditas por poetas, com as palavras justas contra gestos desajustados... Oiçamos!


RESGATE
 
Entre nós e o futuro há arame farpado
levaram o que se via além de nós
não resta mais que a ponta do nariz
como esperar agora o inesperado?
Somos do Sul e o saldo somos nós
contra o bezerro de oiro o teu quadrado
o poema tem que ser o teu país.
 
Entre nós e amanhã há uma taxa de juro
uma empresa de rating Bruxelas Berlim
entre hoje e o futuro há outra vez um muro
resgate é a palavra que nos diz
tens de explodir o não dentro do sim
não te feches em torres de marfim
o poema tem de ser o teu país.
 
Toutinegras virão cantar contigo
e os melros que se escondem entre vogais
e o morse aflito e rouco da perdiz
nas sílabas que avisam do perigo
e as lanças das consoantes e os sinais
por dentro das palavras que mais
do que palavras são o teu país.
 
Oiço dizer Europa mas Europa
é uma nau a chegar ao nunca visto
Flor de la Mar: e o Mundo em tua boca.
Navegação: madre das cousas. Isto
é Europa. País no mar. E vento à popa.
Não este não arrisco logo existo
de cócoras à espera de uma sopa.
 
Um cheiro de jasmim a brisa nos salgueiros
entre nós e o futuro um silêncio nos diz.
O saldo somos nós: trinta dinheiros.
Pátria minha quem foi que te não quis?
Entre nós e o futuro a terra e a raiz
e a Flor de la Mar e os velhos marinheiros
e o poema onde respira o teu país."

27 junho, 2015

Um texto de Gonçalo M. Tavares publicado na imprensa Grega

texto em Maio de 2012, parece de hoje
.
Queixei-me de que os intelectuais se auto-demitiam de um espaço de intervenção.
Publico o Gonçalo M. Tavares, e com prazer reconheço que vou perdendo razão.
  .

1. Sobre a Europa (Os anos Pavlov e outras considerações imaginárias)
(...)
Um homem que tem uma dor na Europa deve ser tratado, parece-me. Claro que há órgãos que podem ser extraídos, porém aqui talvez não. Será que podes extrair e deitar fora um órgão da Europa? Há algo que substitua as suas funções?
 
2. Diálogo sobre a Europa
- Posso fazer-lhe uma entrevista?
Ok.
-Falemos de Europa?
Sim.
- E de Pavlov.
Ok. Tudo bem.
Na experiência de Pavlov os cães salivavam, primeiro só com o prato mesmo vazio, depois bastava o som dos sapatos de quem trazia a comida, depois com apenas a campainha. Enfim, uma longa aprendizagem. Não havia comida, mas o organismo e a fisiologia do cão reagiam como se houvesse.
- Portanto, a questão é esta: se substituirmos um cão por um continente o que acontece?
Se os procedimentos forem proporcionalmente idênticos aos procedimentos levados a cabo por Pavlov e pela sua equipa, a Europa também salivará, mesmo sem alimento à sua frente. Salivará só com o som que anuncia a entrada do alimento.
E claro que podemos sempre substituir a saliva pelo medo. A Europa, quando escuta certas palavras que anunciam desgraças, começa logo a tremer, a ter medo, a assustar-se, a pôr-se debaixo da mesa da cozinha ou debaixo dos lençóis da mamã. Eis uma síntese.
- Estamos portanto diante de uma experiência de Pavlov, a grande escala?
Exacto. Não é necessária a desgraça em si, basta o seu anúncio. Tem os mesmos efeitos.
O importante não é um acontecimento, mas sim os seus efeitos
Compreendo.
Por exemplo, um tremor de terra. Mesmo que não exista um tremor de terra, se nós partirmos as casas ao meio, se abrirmos buracos na rua, etc., obteremos os mesmos efeitos.
Portanto, se virmos casas partidas ao meio, tectos caídos, buracos na rua, podemos concluir: houve um terramoto. Mesmo que não seja verdade.
Eu diria, em suma: os efeitos são a verdade.
- Os efeitos são a verdade.
- O cão saliva. A Europa assusta-se e põe-se debaixo da mesa.
Exacto.
Poderemos designar este período como Os Anos Pavlov da Europa.
É um belíssimo nome.
Ou talvez melhor A DÉCADA PAVLOV da EUROPA.
A questão é esta: em vez de colocares um único cão a salivar sem alimento à sua frente, só por causa do toque da campainha… condicionamento clássico…colocas milhões com medo também só com o toque da campainha.
- Mas pode um continente comportar-se como um cão?
- Pode.

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23 junho, 2015

A Grécia vai ter de continuar a pagar para empobrecer?


Nada do que hoje ouvi a Constança Cunha e Sá contraria o lido num outro lado, nem o lido nesse outro lado colide com o por ela dito. Só que ela nunca o diria. De lá retiro um pequeno trecho, para meu registo e para memória futura:
«Não temos qualquer pretensão de prever o desfecho da complexa situação grega, nem nos atrevemos a fazer julgamentos que só ao povo grego competem. É nosso dever, isso sim, observar e retirar ensinamentos do modo como a crise do capitalismo se expressa politicamente, quer no plano nacional, quer supranacional. E ao fazer essa análise há um dado que ressalta com grande força: o da importância da força que emana da unidade de um povo em luta. Será esse o factor que na Grécia, como em Portugal e em qualquer outro país do Mundo, determinará o rumo dos acontecimentos.»

21 junho, 2015

Homilias dominicais (citando Saramago) - 105 [Posfácio 1]

Depois de há muito ter escrito "fim", dou o escrito por não dito e regresso a textos de Saramago. Dispenso razões para tal. Apenas constato: depois de decorridos 5 anos sobre a sua partida (18 de Junho de 2010), ele continua aí. Intervindo. Mais vivo que os que estando vivos parecem que há muito mais tempo terão morrido. Só por isso, não desejo paz à alma dos que por aí andam.


«...Em princípio, a nenhuma comunidade mentalmente sã lhe passaria pela cabeça a ideia de eleger traficantes de armas e de drogas ou, em geral, indivíduos corruptos e corruptores para seus representantes nos parlamentos ou nos governos, porém, a amarga experiência de todos os dias mostra-nos que o exercício de amplas áreas do poder, tanto em âmbitos nacionais como internacionais, se encontra nas mãos desses e de outros criminosos, ou dos seus mandatários políticos directos e indirectos. Nenhum escrutínio, nenhum exame microscópico dos votos lançados numa urna seria capaz de tornar visíveis, por exemplo, os sinais denunciadores das relações de concubinato entre a maioria dos Estados e grupos económicos e financeiros internacionais cujas acções delituosas, incluindo aqui as bélicas, estão a levar à catástrofe o planeta em que vivemos...» 
José Saramago, texto no Expresso 

19 junho, 2015

Mais uma minha sondagem errada (ou a pergunta que eu devia ter inquirido)

A Católica é reputada em estudos de... mercado. O mercado da opinião não lhe é excepção. A imprensa é cliente importante e atenta. Quando determinada tendência cresce, pimba!, a imprensa encomenda. Encomenda para saber orientar o que deve meter em primeira página, como deve criar sobressaltos e casos ou produzir omissões. É assim que tem acontecido. E tem assim funcionado.
Desde cedo percebi que tinha que concorrer com as minhas sondagens e fui-as fazendo utilizando sempre a mesma base e o mesmo modelo de dimensionamento das classes sociais que a Marktest segue. Essa orientação que vinha seguindo está prestes a ser desaconselhada por errada. Está de facto ultrapassada, mas para o efeito o erro até dá jeito.
Diz-me a Lei de Pareto: 20% vivem à custa da insatisfação, dor e empobrecimento de 80% da população. Assim, na minha sondagem de hoje há algo errado. Contudo, ela confirma o outro resultado publicado...
 
Imagens do estado de espírito de cada classe quanto à decisão sobre a sua votação (as classes que alguns querem no "centrão" andam, aflitas, com os programas do PS e PSD/CDS na mão)
Ainda pensei em sondar uma questão concreta, tipo "Se o bolo é maior, porque é que a sua fatia é mais pequena?", mas temi que os inquiridos por entendimento deficitário respondessem que sim e também com os seu contrário. Optei então pela pergunta básica:  Qual o sentido de voto? 
Vejamos os resultados e a sua análise:
  1. As classes A e B, cerca de 17,5% do eleitorado, estão mais radiantes que antes. Nem leram qualquer programa partidário, pois os partidos que assinaram o Tratado Orçamental agora apoiam a criação do FME, agora não iriam propor ou defender o contrário. Estão radiantes pois os paraísos fiscais ficam como eram antes. A quase totalidade tende para votar na coligação PSD/CDS, porque... merece.
  2. A classe C (C1, 24,9% + C2, 31%) andam numa roda vida e, tal como nas sondagens anteriores, a coisa anda distribuída entre o Passos e o Sócrates  Costa, com este a ser ultrapassado. Lêem programas, declarações, insultos, promessas e sermões e não perdem uma só cena do wrestling que passa nas televisões. Passam o tempo em aritmética, não na da economia nacional nem sequer na caseira. Fazem contas e previsões aos resultados e ao número de deputados. Quanto a alternativas, nem pensar pois essa coisa de reestruturar a dívida era logo para doer e, assim, vá se lá saber. Pelo menos até ao fim de 2011 2015, não acontece nada e cada um diz ter a data de férias já marcada...
  3. A classes D, 20,7% continua à rasca mas é firme em não aceitar esta situação. Uns até falam na necessidade do tal susto de que falava Saramago...
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    Ficha Técnica (esta): Foram inquiridos 9 milhões de portugueses, via telemóvel. Os desempregados viram as suas respostas anuladas para não dar um tom demasiado pessimista aos resultados globais. Foi aplicada uma metodologia assente nos critérios usados pela Marketest no que se refere ao dimensionamento das classes sociais. A análise de resultados segue metodologia própria designada por Marketista. Não tem nada de marxista embora, em sonância, o faça lembrar... curioso, nesta sondagem a taxa de resposta foi de 100%. 
A PERGUNTA QUE DEVERIA TER INQUIRIDO

18 junho, 2015

Thémis, Sólon e o arguido detido


Ia um longínquo Junho (2010) no seu inicio quando o "Conversa" lançou um apelo: "leve daqui um selo e faça por merece-lo". O tempo foi passando, passando, e muitos levaram o selo, não sabendo o que fizeram para o merecer ou se tão só e apenas o ostentaram no seu espaço. Dizia eu nesse escrito o que não se podia aplicar ao agora arguido, pois dotes de adivinhação é coisa para a qual o talento me falta. E era isto:
Dizia ainda que entre a verdade e a mentira, o poder usa o que quer. Tal fazia parte das leis aprovadas por sucessivos ministros e parlamentos e não consta que o agora arguido as tivesse corrigido ou fizesse inverter. Nem ele nem um seu ministro que agora se distancia da situação do referido arguido. Quando, mais tarde,  decidi ser Sólon, tomei essa decisão por razões bem claras tendo acrescentado, citando-me a mim próprio, a seguinte sentença:
"As leis são como as teias de aranha que apanham os pequenos insectos e são rasgadas pelos grandes."
Não colocando em causa a citação nem a dimensão do arguido, só existem duas hipóteses: ou ela se confirma ou a excepção confirmará a regra.
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NOTA: A quem queira afirmar que este texto é um ataque a Sócrates, mais uma vez desminto.

17 junho, 2015

Vá lá, desta vez não falou de empreendorismo...

"Hoje, avancei um bocadinho..." parece ter dito
É uma entrevista generosa, pela extensa prosa. Acho que fez um avanço que não minimizo pois (desta vez) não falou de empreendedorismo. Não sei é se chega para convencer um ex-Ministro do seu partido.  Mas isso é lá com ele e... consigo!
 
  

14 junho, 2015

Redacções do Rogérito 25 - "A escola como incubadora de génios"

Tema da redacção: «O que eu espero da escola»

O que eu espero da escola não sei se pode ser o que eu poderei esperar dela pois a escola anda sempre a mudar em cada período escolar e eu nem sequer tenho tempo para pensar ao contrário da Teresinha que é uma namorada minha que quando eu chego à escola já ela lá está e quando eu vou embora ela ainda lá fica pelo que eu entendo que ela sabe mais que eu e ela é quem vai ser um génio ou qualquer outra coisa do género.

A Teresinha anda ultimamente muito estranha e atarefada e já não me liga nada e tem um  comportamento diferente desde que o pai dela passou a ter de cumprir um horário semanal que já nem sei dizer qual e deixou de ter horas para a ir buscar nas semanas em que é ele o encarregado disso pois quando é a mãe já era assim também.

No outro dia foi oferecer uma prenda minha à Teresinha e que era uma prenda engraçada uma caixa por mim pintada e tinha dentro um caracolito uma centopeia dois escaravelhos três bichos de conta mas ela disse-me que era uma prenda tonta que não contribuía para as suas competências de empreendedorismo que é o que ela anda a aprender agora na escola e até me disse que quando as férias forem à vida como por aí já se diz o pai a vai inscrever em coisas clássicas como sejam o latim e o grego que são coisas que eu não entendo mas ela sim pois o pai dela já lhe chama génio.

O que eu espero da escola começo a sentir que não é a mesma coisa que a escola espera de mim para já tomei a decisão de suspender o meu namoro até ao pai dela mudar de opinião e até eu perceber o que vai ser a tal municipalização da educação.

Por mim desisto de ser génio mesmo sem esperar a reacção da stôra ao ler esta redacção tal como eu a faço sem respeitar o tal acordo ortográfico que além de ser mais outra modernice também é uma valente chatice.

13 junho, 2015

Dia de Santo António, uma data de uma célebre desgarrada e de outras coisas que eu me lembro...

Um quadro não é uma quadra. Mas lembra dezenas, em dezenas de comentários e em quase três milhares de espreitadelas, no top do ranking das visualizações. Ao post do top dei por nome «Santo António, à desgarrada: Leve um meu manjerico. Eu, com as quadras fico» e foram tantas as quadras trocadas, ficando-me (ainda) o odor popular dos versos delas. E foi assim os anos seguintes, um após outro, e outro
Mas este ano foi diferente. Não coloquei no beiral qualquer vaso. Não quero correr o risco de ficar com um manjerico  nem ter a decepção de não ter qualquer quadra. Talvez o tempo justifique a ausência de desgarradas e quadras. Talvez a data deva ser apenas lembrada pelo que vale a pena lembrar dela: O nascimento de Fernando Pessoa; as mortes de Vasco Gonçalves, de Álvaro Cunhal, de Eugénio de Andrade. Coincidências que nos marcam, no dia de Santo António, dado a folguedos.
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 Era assim a minha janela, tal como eu a tinha quando me separei dela... se quiser deixar uma quadra, agradeço, mas não leva nada. Não por raiva ou desespero... sei lá, "eu hoje não me recomendo"!


12 junho, 2015

Faz 30 anos, mas o que me ocorre são os sermões, sobretudo o do dia depois

«... Consiste esta traição do polvo primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo: e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque não fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas com os braços fez o sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi traidor, mas com lanternas diante; traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O polvo, escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz, é a luz, para que não distinga as cores. Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor!»

Padre António Vieira, 13 de Junho de 1654, in "Sermão de Sto António aos Peixes"

O governo aprovou a venda do grupo TAP por 10 milhões de euros. Nos últimos dez anos, a companhia aérea não só duplicou os proveitos como conseguiu baixar, desde 2008, uma dívida de 1,4 mil milhões para mil milhões, recorrendo apenas a recursos próprios. (actualizado)

(Jornal i)
Substituí o vídeo que estava aqui. A actualização acrescenta força à força da razão! 

11 junho, 2015

Educação e Jovens, uma paixão que (me) deriva de uma postura não corporativa


Entendo por postura não corporativa o facto de nenhum interesse corporativo me ligar à Escola. Nem é apenas, esse interesse pela Educação, um acto de cidadania. É mais que tudo isso, sou... avô. É como avô, que sou, que retomo o tema "Educação e Jovens" (sem na realidade nunca me ter desligado dele). Retomo-o numa altura em que convenci alguém que muito estimo a regressar à blogosfera, de onde tantos se afastaram, desertando.  

Faço apelo a que outros elejam o tema. 

Há informação disponível, permanentemente actualizada, do que a imprensa vai escrevendo e os blogues vão dizendo, em

10 junho, 2015

Jorge de Sena, o 10 de Junho e a actualidade de um poema

Dia de Portugal
Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela. 
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada. 
Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
(…)
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço.
És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração. 
Eu te pertenço mas seres minha, não 

09 junho, 2015

O latim, o grego, o acordo ortográfico e o ministro Crato

Quando há tempos escolhi ser Viriato, por razões que agora não vêm à baila, não fazia a mínima ideia de que o chefe lusitano nem falava português, que a sua linguagem era  proto-celta e que o latim viera a ser imposto na península pelo invasor como politica colonial associada à romanização dos povos. Nem sei detalhes sobre as origens do português, nem mesmo se D. Afonso Henriques o usava ou se era a língua materna (de sua mãe), já que essa seria a base da conversa doméstica. Presumo, sem ter ido confirmar, que as universidades terão sido sempre (e são) as instituições onde a história e a cultura se arruma e, assim, teremos de agradecer a D. Dinis (Estudos Gerais) a consolidação do português enquanto língua que Camões, mais tarde, iria (tão bem) cantar...
Quando há tempos decidi, entre Sólon e Clistenes, escolher este para intervir em actos de cidadania neste espaço, não foi para me alargar na vasta cultura helénica nem para ir mergulhar na densa (e bela) e variada mitologia grega. Foi ao pensamento grego a que me apeguei e apego.
Por isso, pela língua latina e pelo que julgo fazer parte da minha identidade, não podia discordar da decisão de Crato em introduzir, já no próximo ano lectivo, no ensino básico, uma nova disciplina de cultura e línguas clássicas. Por tudo o escrito não me contradigo: estou de acordo e até saúdo. O problema é outro. E esse repito-o no que disse quando o soube: «Drª, esta gente está louca? Os meus netos 5 e 6 anos precisam de começar já? Se sim para quê e em prejuízo de quê? Com que esclarecimento se opta?». O ministro não responde, é surdo que nem uma porta.
Mas... não é apenas esse o problema. 
Não é o acordo ortográfico uma facada no clássico? O quadro não engana. Será que a escola pública resiste a tanta trapalhada?

08 junho, 2015

"Nós somos os livros que lemos" (Top 10 da Feira do Livro)

As editoras querem vendas rápidas e o encaixe financeiro assegurado. Seleccionam o produto conforme o comportamento do público e os leitores querem ler o prolongamento dos telejornais e de alguns jornais que, sendo gratuitos, são uma boa promoção de quem, se assim não fosse, não teria a reputação para vender um só paragrafo... A cultura dos povos também se avalia pelos autores lidos, pelos temas escolhidos...
 A Feira do Livro talvez seja mais do que o seu top de vendas, mas o seu top de vendas é um triste retrato do que se vai lendo. E o que se vai lendo é premonitor  do que vai acontecendo...
Autores portugueses? Que é feito deles?
(este post é um aditamento ao post anterior


07 junho, 2015

Geração sentada, conversando na esplanada - 90 ("...nós somos aquilo que lemos")

«O homem passou a mão ao de leve sobre o lago. Num jeito de carícia a um animal adormecido. E a água começou a escorrer-lhe de manso nos braços, inundou-lhe a garganta, coou-se-lhe nas espáduas, ressumou no torço, doeu-lhe no ventre em turbilhão. Foi punhais e remoinho. A espaço trespassava-o em cachão e galgava-lhe as veias, depois de novo um movimento quase estagnado, um arfar de bicho esfalfado insaciável.»
Fiama Hasse Pais Brandão, in Em cada pedra um voo imóvel. 
«Ontem, ao passar por uma livraria, reparei que Prometo Falhar, de Pedro Chagas Freitas, saído em  2014, atingiu já cem mil exemplares de tiragem. Vou ali à estante, e retiro, Em cada pedra um voo imóvel, de Fiama Hasse Pais Brandão, que lançado em 2008, com uma tiragem de mil e duzentos exemplares, da última vez que verifiquei (há segundos) ainda é fácil encontrar na edição original. Ou seja, sete anos não chegaram para esgotar mil e duzentos exemplares de um livro maior de Fiama, mas Pedro Chagas Freitas vende, num ano (ou menos), cem mil exemplares.»
Era tal a atenção que um dava ao outro, era tal a conversa de um com o outro, que resolvi não interromper. Abri o livro na página onde ia e preparei-me para ler. Mas a primeira frase ao cimo da página a atrapalhou-me a concentração. E fiquei a olhar, o engenheiro e o cão e a lembrar que "nós somos aquilo que lemos" (e, se não soubermos escolher, seremos aquilo que nos derem a ler...) 

"O que a televisão não mostra, os jornais não falam e os comentadores omitem, existe. Existe sim senhor, e vai-se impor !" - 5

Regresso à máxima já por aí tantas vezes dita:"O que a televisão não mostra, os jornais não falam e os comentadores omitem, existe. Existe sim senhor, e vai-se impor!" 
A TV mostrou. Mostrou imagens escolhidas para serem escarnecidas, pois que o povo quando se junta sempre deixa oportunidade a quem o queira ridicularizar: um velho desdentado, um rosto magro, um discurso mal articulado, mesmo se coerente. A ideia a passar é a "estes gajos são uns cromos". Faz parte da classe dominante a postura arrogante de desdenhar dos humilhados e ofendidos. Esquecem que o povo tem a força que quererá ter quando descobrir que a tem. E aí, nenhuma TV poderá esconder, nenhum jornal poderá calar, nenhum comentador poderá omitir. «Ninguém é dono da vontade e do voto dos portugueses!»

06 junho, 2015

O que a televisão não mostra, os jornais não falam e os comentadores omitem, existe. Existe sim senhor, e vai-se impor ! - 4



Isto vai meus amigos, isto vai! :)
Posted by Bruno Dias on Sábado, 6 de Junho de 2015


03 junho, 2015

AFIRMAÇÃO E LUTA - 6 DE JUNHO - I

Artigo 21.º
Direito de resistência
«Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.»
Constituição da República Portuguesa


Comovo-me com esta imagem.
Semblante determinado e serenidade.
Afirmação exemplar.
(copiado do que vi aqui)

01 junho, 2015

Hoje, dia Mundial da Criança? Não, é engano!


- Mãe?
- Hã? 
- Hoje é o meu dia de levar lanche?
- É!, amanhã será o teu irmão...
- E posso dar um bocado ao Tiago?, ele no outro dia deixou-me dar uma dentada no pão que levava...
A mãe parou de varrer, encostou a vassoura e abraçou-o. Abraçou-o muito "Sim, claro que podes, desde que não fiques tu com fome".