António Lobo Antunes passou a figurar na Biblioteca La Pléiade. A notícia veio acompanhada de entrevista. Registo, dela (como já antes fizera), o esforço da câmara que agarra o grande plano
do seu rosto, vendendo dele a sinceridade do olhar e das rugas. Não
tenho dúvidas, à força de tanto encenar, o rosto tornou-se um personagem de encenação. A arrogância não é ostensiva e é servida
adocicada, perante a câmara, rendida. Em tempos recordei palavras suas dizendo ele que no mundo, haveria apenas cinco grandes
escritores" e deixava no ar, com charme insinuante, que seu nome poderia muito bem ser um deles. Quanto a prémios literários?
Desdenhava-os e afirmava te-los quase todos. Sobre o Nobel, dizia, só é diferente dos outros, porque é maior.
Na entrevista, agora, afirma que há coisa ainda maior que o Nóbel. E foi-lhe atribuído. Curioso destino juntar o seu génio àquele outro por ele antes tão desqualificado:
«O livro do não sei o quê [Livro do Desassossego] aborrece-me até à morte. A poesia do heterónimo Álvaro de Campos é uma cópia de Walt Whitman; a de Ricardo Reis, de Virgílio. Pergunto-me se um homem que nunca fodeu pode ser um bom escritor.»
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