Sim, para além da derrota que também lhe entra pela porta, Marcelo está condenado a protocolo semelhante ao que se aplica à Rainha de Inglaterra. A maioria absoluta de Costa retira-lhe qualquer papel interventivo:
Sim, para além da derrota que também lhe entra pela porta, Marcelo está condenado a protocolo semelhante ao que se aplica à Rainha de Inglaterra. A maioria absoluta de Costa retira-lhe qualquer papel interventivo:
HOMILIA BREVE
„A esperança é como o sal, não alimenta, mas dá sabor ao pão!
(...)
A esperança, só a esperança, nada mais, chega-se a um ponto em que não há mais nada senão ela, é então que descobrimos que ainda temos tudo.”
José Saramago.
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!
Álvaro de Campos
LISBON REVISITED (1923)
Da companhia
Até há pouco era bom ser sozinho.
Mesmo não sendo sozinho
saber como fazer para ser sozinho:
um recanto qualquer onde a luz não magoasse,
uma música miúda para encostar a cabeça,
um bloco de notas, um lápis…
Quando escrevo, esqueço-me
mesmo que pela lembrança,
seja o esquecimento.
Não há como chegar inteiro ao presente
Sem calcorrear o passado.
O pior de tudo agora é
saber como ir ao Futuro.
Mas… havemos de ir ao futuro,
assim nos garante Filipa Leal, num poema,
e eu acredito. Eu acredito.
Todavia acontece que nesta primavera
sem marços, sem nardos
as palavras massacram-me, molestam-me
e as leituras ardem-me nos olhos
como lágrimas artificiais às quais
faço sérias alergia.
E de repente,
gostava que me pegassem no braço,
de pegar noutro braço
e outros braços se dessem
e, por um dia que fosse,
sermos muitos os “da companhia”.
O que eu mais queria,
nesta primavera sem marços nem nardos,
era abraçar as pessoas todas da minha rua.
[Mas onde estão as pessoas todas
da minha rua que as não oiço,
que as não sinto?]
Lídia Borges
_________________
Fui à "Seara" roubar este poema. Vou dizê-lo à janela. E no final, em tom gritado, vou
desafiar as pessoas do meu bairro. Todos me ouvirão? Julgo que não.
Vivemos num mundo surdo e mudo. Ainda sem abraços
I
Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria,
Ao que desconhecemos
E ao que é do dia-a-dia.Chegamos? Não chegamos?
-Partimos. Vamos. Somos."PELO SONHO É QUE VAMOS - Sebastião da Gama
II
Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominadosELOGIO DA DIALÉCTICA - Bertold Brecht
Porque me falta capacidade de criar imagem mais forte do que aquela que foi criada, não tenho outra saída do que copia-la.
Mas deixo uma palavra de ordem:
JUNTOS, TEMOS MAIS FÓSFOROS!
Segundo Dan Brown "A história
é sempre escrita pelos vencedores." Se ganhar o Rio, o fascismo nunca existiu. Depois de ver o vídeo que abaixo dou a ver, ocorre-me aquele excelente texto "DENEGAÇÃO POR ANÁFORA MERENCÓRIA", do meu amigo Mário de Carvalho, que aqui reproduzo igualmente associado a quem, como Rio, ousou branquear o fascismo.
Diz-se, por todo o nosso Mundo, que errar é humano. Tenho eu dito que se errar é humano repetir o erro é estúpido. Será oportuno, neste contexto*, afirmar que o erro verdadeiramente irremediável é aquele em que, quem o comete mesmo reconhecendo que o tenha cometido, já não tem tempo de lhe remediar as consequências...
Quando tiveres cometido algo
que te amarga,
escreve-o na água
límpida de um lago sereno
verás que nunca se apaga
É como se estivesses escrevendo na alma
Nada pior que entrar num confessionário
de onde se sai
com a disposição
inconfessável
de repetir o erro
E se errar é humano
repetir o erro é estúpido
Ontem, julgava de manhã, ter tempo de tarde, para editar à noite. Contudo, não deu tempo. Não deu tempo, apesar de um dia particularmente longo. Acordar pouco depois das seis, para estar às sete e ficar até cerca das vinte a repetir, como se fosse poema:
Bem-vindo
Senhor
Eleitor
Vai pegar neste boletim de voto, e vota
Dobra o boletim
e mete aqui
no envelope branco
e fecha
Depois mete
no envelope azul
e fecha
Depois trás aqui
para eu pôr
a vinheta
que é uma tranca
uma garantia
que ninguém lá entra!
Depois de assegurar que tudo se desenvolveu como era de desenvolver, grito, "outro!", e "outro!", e "outro!"... 13 horas a fio, de grito em grito (com um interregno, ou outro).
A imagem acima? Foi o resto do lanche, sem tempo para o comer todo. É que é coisa feia, falar ao eleitor de boca cheia.
Apenas uma nota final para enaltecer que tudo estava impecavelmente organizado, mas... inscrever 640 eleitores numa só mesa... não lembra ao diabo (o tempo de espera na fila chegou a atingir 2 horas!)
Ontem, numa troca de comentários a partir de uma provocação minha, por certo descabida, apercebi-me que há quem ignore ser o Entroncamento uma cidade dada a múltiplos fenómenos. Dizia eu que quem não estabelece uma correlação directa entre o seu voto e a manipulação dos média e afirma categoricamente que não passa cartão ao que se diz a televisão será uma pessoa-fenómeno.
Claro que há opções convictas, mas...
Quanto ao Entroncamento ser a cidade de todos os fenómenos, eu, que já sabia, estava longe de supor que já há livro divulgando isso. E mais, há arte que vive disso,
A Casa Carloto, detentora da marca nacional Fenómenos do Entroncamento escreve agora a história de uma nova fase da marca e da linha de produtos dos Fenómenos do Entroncamento (veja aqui)
Não há detalhe, canal a canal, mas suspeito que a ordem do
ranking é igual, assim como é comum a omissão. Afinam todos pelo mesmo
diapasão... o que torna o slogan ainda mais cínico.
«Difícil lutar contra um sistema que anula as vozes de quem é contra o sistema mas... chamam a isto democracia.»
Quando, após o acto eleitoral do próximo dia 30, forem conhecidos os resultados, lembrem-se deste post!
Elis Regina é mais que a voz dela. É tudo o que queiramos reflectir sobre o que cantava. A mim, para outras coisas que não as trago à data, marcou-me muito nesta canção. Por um mundo de razões, mas, sobretudo, porque me serviu sempre que achava chegada a hora de passar a mensagem intergeracional. Uma filha fazia anos, pimba, levava com esta outra versão em cima.
Hoje, por todas as razões e mais uma, trago a versão associada à luta!
Elis foi há 40 anos que morreu? Quem disse?
Tinha pensado num escrito, claro e sucinto. Mas, ouvindo isto, tá tudo dito!
Sempre fiz bem as contas. Contudo, essa competência não me dá mais que o mérito de não gastar mais que a boa economia doméstica recomenda. No entanto, tive uma experiência onde fui chamado a ser um pouco mais que isso. Fui empresário. Fiz sociedade com a minha-mai-nova e o namorado dela. Criámos uma empresa, micro, micro, de dois trabalhadores e visando um segmento de mercado supostamente com bolsa equilibrada para a procura do nosso produto. O resultado foi diferente do esperado e o empreendimento não durou muito tempo... num desses atendimentos entendidos como simplex, a empresa foi fechada na hora, verificada que foi a inexistência de qualquer dívida e os miúdos foram procurar outra vida... se tivessem meia-idade teriam ficados amarrados a um destino... aquele que está traçado a 1.267.893 de empresários (exactamente 96,2% do total das empresas existentes têm menos de 10 trabalhadores ).
Hoje, sinto-me economista e sentencio: aumente-se o salário mínimo (já) e terão melhor destino! E não só. A economia poderá disparar por aí fora, se...
(leia o próximo post, se achar que o tema possa valer a pena)
«...a fé, abençoada seja ela para todo sempre, além de arredar montanhas do caminho daqueles que do seu poder se beneficiam, é capaz de atrever-se às águas mais torrenciais e sair delas enxuta.»
— Saramago, em "Ensaio sobre a Lucidez"
Hoje, não me foi enviado por nenhum camarada, foi-me imposto por Minha Alma. Quis sentir-se Entre Paredes e depois regressar às origens, mas assim, nesta recreação.
Belo. De tão belo, até comove!
Ei-los sorridentes, seguros de si, com a legenda apropriada ao momento. O momento fixa e quase oficializa que a Constituição já passou à história e que, na realidade, o acto eleitoral é para eleger um deles. Num passado, não muito distante, Rio foi o mais votado mas foi Costa quem veio a ser primeiro ministro... Pelo rumo que a barca leva, tal dificilmente voltará a acontecer...
Num passado já distante havia a preocupação dar a todas as forças participantes iguais (equilibradas) condições de disputa eleitoral. Foi chão que deu uvas. Hoje, se todos os debates duraram 25 minutos, este mereceu tratamento especial e se prolongou por 1 hora, 18 minutos e 31 segundos! E esse tempo, é menino se comparado com o tempo dado a comentadores, não sendo nada desprezível o tempo tomado pelas citações e mais comentários ao que os comentadores iam comentando.
Foi assim, porque o sistema determina que não pode ser de outra maneira. Foi assim, porque o sistema não permite que haja alternativa ao "centrão." Foi assim, porque a manutenção deste sistema bi-partidário depende deste "status quo". Foi assim, porque as televisões podem e são um suporte do sistema.
Não irá admirar a elevada abstenção... Na rua, cada vez oiço mais a palavra "palhaçada"!
Sou (estou) demasiado alinhado para agora me vir armar em comentador. Venho tão só e apenas dar a minha opinião sobre o que me parece ter sido o ponto mais elevado do debate. Foi exactamente aquele em que Costa deu uma resposta que eu, juro, já tinha ouvido algures e não há muito:
«... não houve nos últimos 20 anos um crescimento económico nacional tão expressivo como o registado entre os anos de 2015 e 2019, mas que essa conjuntura não foi bastante para o PSD votar a favor de propostas como o aumento do salário mínimo, a redução do passe dos transportes, a gratuitidade dos manuais escolares, a redução do IVA da electricidade (apesar do anúncio do PSD de que iria votar a favor) ou até a redução do IRC para as pequenas e médias empresas – medida que, curiosamente, o PSD resolveu incluir no seu programa eleitoral.»
Vai lançada a pré-campanha e os debates vão avançando. Eu, vendo um ou outro, fixo a minha atenção em alguém bem conhecido. É ao domingo.
Segue amostra! Ora veja!
Cada vez melhor percebo aquele chumbo do orçamento. E hoje, particularmente, sinto-me especialista. Sinto-me um daqueles especialistas que o Expresso nunca ouviria... é que, além de ler em outra cartilha, para mim é claro:
Todos os que registam elevadas qualificações, "dão o salto" por lhes ser oferecido um salário que não lembra o Diabo!
Depois de ler isto e ver o vídeo, perante as ameaças que pairam, tomei consciência do verdadeiro sentido do voto útil
A proposta encaixa num projecto diverso e vasto que é gerido pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Fundação Bissaya Barreto... querem conhecê-lo melhor?
Ora espreitem!
A candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade é um trabalho sério, limpo e belo e que, agora mesmo, alguém reconheceu ser recomendável dar a conhecer. Por acaso, ontem madrugada fora, fui reforçando o que já antes sentira: o fado só é uma canção triste se deixarmos que a tristeza nos invada; o fado só é uma canção resignada, para quem, durante 40 anos de fascismo, nos quis povo resignado...
Hoje trago Saramago ao fado em duas vozes que reforçam e mais valorizam este Património Imaterial da Humanidade.
Teu corpo de terra e água
Onde a quilha do meu barco
Onde a relha do arado
Abrem rotas e caminhos
Teu ventre de seivas brancas
Tuas rosas paralelas
Tuas colunas, teu centro
Teu fogo de verde pinho
Tua boca verdadeira
Teu destino, minha alma
Tua balança de prata
Teus olhos de mel e vinho
Bem que o mundo não seria
Se o nosso amor lhe faltasse
Mas as manhãs que não temos
São nossos lençóis de linho
José Saramago