Biografia
Sonho, mas não parece.
Nem quero que pareça.
É por dentro que eu gosto que aconteça
A minha vida.
Íntima, funda, como um sentimento
De que se tem pudor.
Vulcão de exterior
Tão apagado,
Que um pastor
Possa sobre ele apascentar o gado.
Mas os versos, depois,
Frutos do sonho e dessa mesma vida,
É quase à queima-roupa que os atiro
Contra a serenidade de quem passa.
Então, já não sou eu que testemunho
A graça
Da poesia:
É ela, prisioneira,
Que, vendo a porta da prisão aberta,
Como chispa que salta da fogueira,
Numa agressiva fúria se liberta.
Miguel Torga, in "Antologia Poética", D.Quixote
02 fevereiro, 2015
Poesia (uma por dia) - 73
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A poesia parece-me agora um grito lançado debaixo de água, um rasto de azul gélido entre as mãos e a surdez sombria dos espaços vazios em redor.
ResponderEliminarUm bom domingo!
Lídia
.
ResponderEliminar~ Lavas ardentes
~ que aspiram liberdade
~ em sãs palavras
~ que servirão de adubo.
~ ~ ~ Excelente seleção. ~ ~ ~
.
Torga, um homem igual a nós e paradoxalmente maior - grande!
ResponderEliminarUm abraço entre versos
grande foi e ficou maior, o indignado Torga.
ResponderEliminarUm poeta/escritor que nunca me canso de reler.
ResponderEliminarMorreu faz 20 anos, mas as suas palavras e alertas permanecem cada vez mais actuais.
Bonita homenagem.
beijinho
Fê
Grande o Poeta e o homem que não o esquece...
ResponderEliminarBeijo
Boa memória, Rogério, a do Torga.
ResponderEliminar...
espírito livre
tronco vertical
raízes profundas
fixas na firmeza
a terra gerou-o inteiro
homem verdeiro ...
O Torga é assim. Coloca as palavras no seu outro sentido certo e, com isso, ajuda-nos a recentrarmo-nos a nós próprios, mormente aqueles que se deixam perder do sentido das palavras. Um poema do poema. Bela malha, caro Rogério!
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