Estava eu sentado, escrevendo e fumando, quando ele se aproxima e depois de me saudar pede-me um cigarro. Fiz o que sempre faço, dou-lhe dois. Fez um sorriso rasgado em forma de agradecimento e quando se preparava para ir lancei-lhe um "Olha lá!" e depois questionei-o sobre o facto de ele andar, como sempre andava, de estojo de guitarra a tiracolo. "Tocas isso?", e sem esperar pela resposta, lancei-lhe o desafio "Ora toca lá qualquer coisa, lá da tua terra. E vou filmar-te. Mas descansa, não te filmo a cara". O que aconteceu depois de ele ter tocado o que certamente irão ouvir, deixei-o ir dando-lhe uma solidária palmadita nas costas.
São frequentes encontros destes. A comunidade de marginalizados da vida, os sem-abrigo, são imensos. Não parecem tantos pois estão dispersos. Um deles, um cabo-verdiano, anda por aqui há anos e não consegue regularizar a sua situação. Como resultado, não consegue o que outros imigrantes vão conseguindo... nem sequer do Banco Alimentar...
O caso mais deprimente é de um outro, também meu amigo. Nem acrescento qualquer palavra, a imagem fala por si...
O Marcelo ia acabar com os sem abrigo. Se calhar com o da viola não porque... ele tem viola mas não toca.
ResponderEliminarToca toca, só que há anos que a música é a mesma...
EliminarÉ uma tristeza pensar que o nosso país tem tanta gente assim: sem nada ter, a lutar pela sobrevivência, por pão, por saúde, por algo que os faça sentir bem. Não há nunca políticas certas para acabarem com este estado de coisas. Gostei da tua história.
ResponderEliminarTudo de bom.
Uma boa semana.
Um beijo
Cada um faz o que pode!
ResponderEliminarAbraço
Cada um não faz nem o que pode, nem o que deve... a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) para ajudar na regularização dos processos dos 300 mil pedidos pendentes de imigrantes... ainda não mexeu uma palha
EliminarAbraço entristecido
Acompanho uma família brasileira vinda do Japão nessas andanças mas estava a falar por mim.
EliminarAbraço
Já percebi que a AIMA não está a mexer uma palha, mas nem todos os sem abrigo são imigrantes. Em Lisboa sei eu que há grupos organizados - raio de memória que me não recordo do nome de nenhum! - que vão tentando mitigar a desgraça de alguns. Será sempre tratar de uma pneumonia com rebuçados do doutor Bayard, todos o sabemos, mas deixa-me que aqui traga o caso de uma idosa pensionista que viu a sua renda de casa subir até ao monte Olimpo e não teve outro remédio senão ir para a rua, sob um céu estrelado, na melhor das hipóteses. Não a conheço, reporto um caso que vi num programa da RTP. Esta idosa trabalhou toda a sua vida para acabar os seus dias a dormir num passeio público, e não creio que seja a única porque quando começou o grande boom das rendas, muitos devem ter tido a mesmíssima sorte. Não sei se o mesmo terá acontecido a esse amigo sobre o qual não te pronuncias, mas a verdade é que me parece demasiado idoso para tentar concorrer a qualquer programa de reinserção social. Esta é uma população muitíssimo heterogénea por isso é imperioso que diversas as entidades competentes comuniquem entre si e façam qualquer coisa por estas pessoas que jogam aos dados com a morte cada dia de sobrevivência.
ResponderEliminarEstará tudo a funcionar a meia-haste, neste nosso florido jardim à beira mar plantado?
Um abraço triste e até amanhã.
Sim, claro! A situação ultrapassa e muito a condição de marginalidade a que estão a ser remetidos os imigrantes... Se estes serão 300 mil não imagino quantos serão os nacionais que, vivendo na miséria, passaram a viver ao relento...
EliminarEstá mesmo tudo a funcionar a meia-haste, neste nosso florido jardim à beira mar plantado!
E amanhã lá estarei no sítio combinado