paul éluard / liberdade
Nos meus cadernos de escolano banco dela e nas árvorese na areia e na neveescrevo o teu nome
Em todas as folhas lidasnas folhas todas em brancopedra sangue papel cinzaescrevo o teu nome
Nas imagens todas de ouroe nas armas dos guerreirosnas coroas dos monarcasescrevo o teu nome
Nas selvas e nos desertosnos ninhos e nas giestasno eco da minha infânciaescrevo o teu nome
Nas maravilhas das noitesno pão branco das manhãsnas estações namoradasescrevo o teu nome
Nos meus farrapos de azulno charco sol bolorentono lago da lua vivaescrevo o teu nome
Nos campos e no horizontenas asas dos passarinhose no moinho das sombrasescrevo o teu nome
No bafejar das aurorasno oceano nos naviose na montanha dementeescrevo o teu nome
Na espuma fina das nuvensno suor do temporalna chuva espessa apagadaescrevo o teu nome
Nas formas mais cintilantesnos sinos todos das coresna verdade do que é físicoescrevo o teu nome
Nos caminhos despertadosnas estradas desdobradasnas praças que se transbordamescrevo o teu nome
No candeeiro que se acendeno candeeiro que se apaganas minhas casas bem juntasescrevo o teu nome
No fruto cortado em doisdo meu espelho e do meu quartona cama concha vaziaescrevo o teu nome
No meu cão guloso e ternonas suas orelhas tesasna sua pata desastradaescrevo o teu nome
No trampolim desta portanos objectos familiaresna onda do lume bentoescrevo o teu nome
Na carne toda rendidana fronte dos meus amigosem cada mão que se estendeescrevo o teu nome
Na vidraça das surpresasnos lábios todos atentosmuito acima do silêncioescrevo o teu nome
Nos refúgios destruídosnos meus faróis arruinadosnas paredes do meu tédioescrevo o teu nome
Na ausência sem desejosna desnuda solidãonos degraus mesmos da morteescrevo o teu nome
Na saúde redivivaaos riscos desaparecidosno esperar sem saudadeescrevo o teu nome
Por poder de uma palavrarecomeço a minha vidanasci para conhecer-tenomear-te
Liberdade.paul éluardtrad jorge de sena
Dignas do maior Poeta
ResponderEliminarAs palavras que encontrou
Para consolar a Liberdade,
Fazem jus ao sentimento
Que manifestou Paul Éluard.
A Liberdade está ameaçada de morte se não houver uma célere atitude geral, por parte de todos os que a desejam e dela precisam para sobreviver.
A procurá-la, morrem milhares de pessoas e o mundo nada faz, eis a razão porque cobre o rosto com vergonha!
Um abraço, Rogério!
Excelente, Rogério.
ResponderEliminarA Liberdade num mundo de mentiras jaz aprisionada numa estátua fria, vazia sem pinga de sentimentos.
Veja-se a pouca vergonha do Mediterrâneo. Até quando? Um dia os hunos tomarão o império.
Primeiro, obrigada pela partilha do poema que não conhecia. Segundo, ocorre-me por vezes uma interrogação. Liberdade sem pão, sem saúde, sem educação, sem uma vida com um mínimo de dignidade, será mesmo liberdade, ou um arremedo dela?
ResponderEliminarUm abraço
Pena a Liberdade
ResponderEliminarsem expressão imaculada
por todos aqueles que oprimidos
se deviam libertar
nas urnas
O poema é enorme
Abraço
j´ écris son nom
ResponderEliminarum abraço
A POESIA de Paul éluard traduzida por Jorge de Sena é uma escolha excelente, camarada Rogério.
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ResponderEliminar"O Poeta da Liberdade" que não precisou de margens para ser rio.
Jorge de Sena, um dos nossos poetas da Liberdade. Talvez demasiado "puro" para ser brando.
Lídia
e, no entanto, sente-se falta dela, há uma asfixia a pairar...
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