29 abril, 2016

O Paço, a Quinta Real de Caxias e uma unanimidade que talvez a salve...


Parámos junto ao lago e perguntei ao professor-cirurgião-de-pedras-e-estátuas se aqueles meninos não eram os que eu vira em imagens partidas. Respondeu que aquela imagem (agora inteira) era uma réplica e que a original jazia, já recuperada, numa sala que a seguir me iria ser mostrada.

A visita, percorrendo o Paço Real, foi demorada tendo o professor o cuidado de dar todo o detalhe do seu trabalho de restauro e do tanto que havia por fazer.  Era visível a degradação e abandono a que tinha sido votada, pasto da natureza que não se compadece com a incúria dos humanos e de actos vândalos. 
O discurso do professor-cirurgião-de-pedras-e-estátuas fluía com emoção e a sua voz, por momentos se embargou quando eu lhe confessei que seriam os meus netos a agradecer-lhe tais cuidados.
Cerca de duas horas demorou a visita, e tanto não teria sido preciso pois antes me tinha documentado quer sobre o que queria ver, quer sobre a alienação que ameaça tão importante e histórico património. 
Ontem, apresentei moção sobre o tema. Sujeitei à votação da Assembleia onde têm acento as mesmas forças politicas que ditaram destino incerto àquela memória. Altera aqui, altera acolá, foram ajustados os temos finais a contento de todas as partes, gerando-se a unanimidade.
Talvez seja o impulso necessário para manter a Quinta e o Paço na esfera do usufruto público (a bem da memória, pois as pedras falam).

A moção, ontem aprovada por unanimidade, talvez salve a Quinta Real...
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"Este magnífico jardim, parte integrante da denominada Quinta Real de Caxias, outrora tida como uma das maiores do seu tempo, constitui um dos mais importantes elementos arquitectónicos e paisagísticos do concelho de Oeiras. Com origem no início do século XVIII, este agradável complexo recreativo, que incluía um modesto paço, constituía um prolongamento do palácio de Queluz, distante apenas 7 km, permitindo desfrutar do ar fresco do rio nos dias quentes de Verão. Da extensa propriedade resta o Jardim da Cascata, uma invulgar e monumental edificação, revela-se o cenário ideal para o relato da cena do livro de Ovídio, Metamorfoses: o Banho de Diana, deusa da caça e da natureza selvagem."

"Junto à Avenida Marginal num local, onde em tempos idos, o grande portão abria directamente para a praia ergue-se o Palácio de veraneio dos Infantes da Casa Real, com a sua quinta, pomar e jardim de buxo.
Edificada na primeira metade do século XVIII, a Quinta Real de Caxias é actualmente considerada um dos conjuntos de maior relevância histórica e arquitectónica do concelho de Oeiras, englobando elementos de raro valor patrimonial.
Nesta visita convidamo-lo a fazer uma viagem no tempo e descobrir os encantos deste emblemático jardim, casa de deuses e deusas que povoam o espaço, veja o bater das asas da cegonha de cerâmica, levadas pelo vento, passeie-se pela grandiosa cascata e suba ao pavilhão do Aquário de onde poderá desfrutar da vista sobre a barra do Tejo ao som dos jogos de água."
- texto editado pela EMACO-Espaço e Memória, Associação Cultural de Oeiras

7 comentários:

  1. Se falam, Rogério! De melódicos cantos a doutos e claríssimos discursos... de toda uma imensa panóplia de idiomas as pedras são capazes...

    Maria João

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    1. Sabes Poeta
      o que custa
      fazer com que não calem as pedras?
      (atenta ao tudo escrito, e o que lhe figura por trás
      e saberás)

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    2. Estarei atenta! É-me caro o vosso trabalho de preservação da voz das pedras!

      Mª João

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  2. Os jardins são uma maravilha. Pena que o Palácio esteja em ruínas. E a quantia dispensada para a sua recuperação, é irrisória.
    Abraço

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    1. Os jardins são
      mas quase já não estão
      (a imagem trai a realidade)

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  3. boas causas, as tuas! sempre

    abraço, meu caro Rogério

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    1. Boas causas
      mas em esforço de razão e persuasão

      Nem imaginas!
      Salvar o Paço e a Quinta Real de Caxias (será mesmo salva?)
      custa à brava.
      O texto da moção apresentada, quase não passava...
      Valeu a capacidade de diálogo
      e talvez um pouco
      a vergonha e o desconforto
      de os opositores figurarem como agentes de uma estúpida alienação que a memória jamais esqueceria!

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