Canta bem Centeno e Bruxelas encanta-se. Os portugueses, muitos deles, nem fazem a mínima ideia que a pauta é a pauta errada. Tivesse Centeno a pauta certa e lhe ouviríamos, com a mesma voz grave e aquele mesmo sorriso de menino, falar de como o deficit podia dar uma grande volta ("Sem juros, Estado teria superávite de quase 3% do PIB").
Se por um lado a pauta é a errada, também não pode ser certa a canção que canta.
E se Centeno enquadrasse as metas do défice pela redução da desigualdade na repartição da riqueza?
«... Almeida Garrett escreveu em Viagens na Minha Terra: "Aos economistas políticos, aos moralistas pergunto se já calcularam o número de indivíduos que é preciso condenar à miséria (...) para produzir um rico."
Por mais que o recusem, a questão está na crescente desigualdade da repartição da riqueza criada entre capital e trabalho. Dados do Instituto Nacional de Estatística revelam que, em média, as remunerações do trabalho representam metade do valor da produção em Portugal. Em sectores como o petrolífero, o valor acrescentado bruto (em linguagem menos económica mas mais entendível, a riqueza criada) por hora de trabalho é de 198,4 euros, enquanto o valor da remuneração por hora de trabalho é de 40,1 euros, o que significa que o trabalhador em oito horas de trabalho por dia trabalha para pagar o seu salário em 1,6 horas, sendo as restantes 6,4 horas trabalho não pago, logo mais-valia da Galp. Ou se se olhar para o sector energético, em que a EDP e a REN acumulam lucros obscenos, a remuneração por hora de trabalho é de apenas 9,2% do valor produzido, o que significa que ao fim de 44 minutos o trabalhador tem o seu salário retribuído, dando mais de sete horas do seu trabalho em regime não pago.
Os que se opõem ao aumento real dos salários, agitam o espantalho da competitividade em defesa de uma economia assente em baixos salários ou persistem numa legislação laboral afeiçoada aos interesses de exploração do trabalho melhor fariam se, em vez de lamuriosas palavras, guardassem recato perante as desigualdades e a pobreza. Continuar a falar de pobreza à margem da exploração, ou seja, da apropriação da mais-valia produzida pelo trabalhador, é um exercício de cegueira política que só servirá aos que reproduzindo o empobrecimento vão subindo uns lugares na lista dos mais ricos da revista Forbes.»
Jorge Cordeiro, in "A pobreza não cai do céu"
Estou sem saber se vou sair, ou não. A pobreza, efectivamente, não cai do céu mas, tal como o vento, entra-nos pelas frinchas de todas as portas e janelas... sem hora marcada.
ResponderEliminarResumindo; li na diagonal e terei de voltar para ler mais atentamente.
Abraço
Política não entendo nada. São tantas as trafulhices que acabamos por não saber qual o estado do Estado.. KKkk
ResponderEliminarHoje:- Sou a flor que renasce na primavera.
-
Bjos
Votos de um Óptimo Sábado