14 dezembro, 2019

Quem deve mudar os comportamentos? O consumidor ou a Jerónimo Martins e afins?


Ambientalistas, empresas e sindicatos afirmaram esta sexta-feira que a conferência do clima da ONU em Madrid está à beira do “desastre completo”, com países como o Brasil a tentarem “arruinar” o acordo de Paris sobre combate ao aquecimento global.

Em conferência de imprensa (...) a diretora executiva da organização ambientalista Greenpeace, Jennifer Morgan, disse a jornalistas que “neste momento, há países como a Austrália, Brasil e Arábia Saudita que só querem completar as suas agendas e arruinar o acordo de Paris, carregando-o com tantos subterfúgios que não conseguirá ser eficaz”. A Jennifer dá desconto ao que se passa por aqui... se não, vejamos:

403 mil toneladas de laranjas saíram dos pomares portugueses em 2018. Portugal teve, no último ano, a maior produção de laranjas dos últimos 33 anos. Contudo, o aumento da produção trouxe excesso de citrinos ao mercado e fez cair 20% o preço no produtor. Enquanto isso acontece, o Pingo Doce vende laranja importada, e não se importa nada. Quem distraidamente lê o rótulo julga tratar-se de laranja do Algarve, mas em boa verdade, esta laranja chegou de fora, da vizinha Espanha, transportada com elevada pegada ecológica...


Mas não se pense que a coisa fica por aqui. Outro caso. Uma garrafa de água num país onde ainda a vai havendo, não se dando prova de que não haja falta, é importada de... França e percorre inimaginável distância.

Se é verdade que o sector dos transportes continua a ser um dos sectores de actividade com maior consumo de energia ele também é, em consequência, um dos que mais contribui para as emissões de gases com efeito de estufa. 
E não se pense que fui à procura de casos extremos. Eles apenas ilustram duas situações extremas de como as grandes superfícies não só concorrem para agravar as condições da produção nacional não a escoando, como também, com as suas politicas comerciais, concorrem  para o aquecimento global. 

Se a COP25 está à beira "do desastre completo"? Quem esperava outra coisa nunca olhou para as prateleiras  de um supermercado com olhos de ver.


18 comentários:

  1. Penso que todos nós somos culpados. Se ninguém comprasse esses produtos, eles não os compravam. Antigamente quando comprava um produto nem sequer olhava o rótulo. Hoje tenho o cuidado de ver se é ou não português. E sempre que possível compro diretamente ao produtor, Normalmente naquelas quintas em Santa Susana, perto de Leiria.
    Abraço e bom domingo

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  2. Também faço como a Elvira e sou da mesma opinião, somos todos culpados. Há anos perguntei a uma amiga, engenheira agrónoma, por que razão havia tanta fruta de Espanha - lembro-me de laranjas - quando havia tantas no Algarve. Ela disse-me que a fruta de Espanha era mais barata. Agora do que não me recordo foi a explicação da disparidade de preços.

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  3. Elvira,Catarina

    Eu, a Elvira e a Catarina não somos culpados.
    A minha família e as vossas, não são culpadas.
    Não é culpada a minha vizinha do lado
    nem a de cima, nem a debaixo
    Não são culpadas as famílias delas
    e todas as suas vizinhas
    É que não podemos colocar-nos de fora
    deste sistema...
    desta economia...

    Amanhã, vou ao Pingo Doce e trago-vos uma lista

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  4. Quando estou em PORTUGAL só compro produtos portugueses, embora os produtos de Espanha sejam mais baratos.
    Quando estou na Alemanha só compro produtos da NRW, região onde vivo, embora os produtos holandeses sejam mais baratos.
    NENHUM sistema me obriga a comprar os produtos, que eu não quero comprar!!!
    Ninguém me obriga a comprar no Pingo Doce!!!
    TODOS nós somos responsáveis dos nossos comportamentos!!!
    Culpar o sistema das nossas asneiras, não leva a lado nenhum!!!

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  5. Não percebi o que quis dizer.
    Depois de (eu) resumir as primeiras 6 frases em "a população não é culpada" aparece "É que não podemos colocar-nos de fora..."
    ??
    :)

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  6. Cara Teresa,

    Faça um esforço para sair do seu umbigo
    e acompanhe-me o raciocino

    PRIMEIRO - O Eu, eu também tenho... eu assim, eu assado... A economia é o somatório de milhões de "eus" sujeitos a um sistema sem o qual a economia não funciona
    SEGUNDO - O sistema está montado para obrigar a comprar onde o marketing agressivo determinar. Ele é a manha dos pontos, dos saldos, dos selos, das cadernetas e dos descontos... estampados em folhetos e prospectos
    TERCEIRO - Ninguém obriga a comprar no Pingo Doce. Pois não. Pode optar pelas lojas Amanhecer. Pode comprar no Continente ou, em alternativa, nas lojas Bom Dia. Pode ainda ir ao Lidle... ou ao Intermarché ou ao Leclerc... Todo esse retalho tem as mesmas formas de trabalho. Diferente, só a loja lá do bairro, que agoniza (e estão fechando)

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  7. Catarina,

    O não nos podermos colocar-nos de fora do sistema significa que, por mais cuidados que tenhamos, somos (na generalidade dos casos) "obrigados" a comprar o que não queremos...

    Dou-lhe um exemplo. Todas as grandes cadeias (Pingo Doce, Continente, etc) inundam as caixas de correio com folhetos que contém os produtos, as promoções e os descontos. Aí não se refere a origem dos produtos (na net, também não). Se fizer a lista de compras por aí ( o que é frequente) acaba por seguir o que o sistema determina que siga...
    É isso!

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  8. Tem razão, Rogério.
    É muito difícil resistir a estas estratégias de marketing, mesmo que tentemos consumir produtos nacionais. Até a colocação estratégica dos produtos ... ou mantemos a lista em frente dos olhos ou saímos com um carrinho cheio de compras de que não necessitávamos nesse dia ou nessa semana.

    Todas as famílias tentam tirar proveito das promoções, tanto as mais "abastadas" como as que têm que ter mais cuidado.

    Lamento que o comércio de bairro esteja a sofrer, mas é uma realidade à qual não podem fugir.

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  9. O meu umbigo diz-me que o Jerónimo Martins e afins mudavam de comportamento, se o consumidor também mudasse o seu comportamento.
    Discutir contigo, Rogério, NÃO vale a pena. Bom dia 🌻

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  10. Teresa

    Ia a responder, mas a Catarina deu-te a resposta.

    Apenas um indicador sobre quanto vale a função que nos faz comprar aquilo que não queremos:

    Os valores vão dos 14 mil euros do chefe de vendas aos 110 mil do diretor comercial. Na área do Marketing, um diretor é o melhor remunerado, com 100 mil, números redondos.

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  11. Caríssimas,

    Entrei no Pingo Doce
    sai como entrei
    e nada comprei

    mas vi com estes olhos que a terra há-de comer
    aquilo que, francamente, não esperava ver

    Banana, oriunda da Costa do Marfim
    Melão, vindo do Brasil e para mim
    a surpresa das surpresas, castanha
    importada de Espanha

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  12. E isso são produtos frescos. Imagino os enlatados.
    Há dias quis comprar sardinhas enlatadas, portuguesas que são as melhores. Este supermercado não tinha. Então comprei o que vi na prateleira, mas apenas duas latas de cada. Tenho o hábito de querer saber de onde são importados todos os produtos que compro. Os mexilhões fumados são da China, sardinhas em molho de soja da Tailândia, outras são canadianas, mas nada saborosas,as ostras fumadas tb da China. Quanto às hortaliças, as fora de época, são importadas da Califórnia, assim como os morangos. Mirtilos, amoras e agora os espargos são do México.

    Rogério, num resumo, muito resumido, por que razão a fruta importada, por exemplo, é mais barata que a portuguesa?

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  13. O povo tem de ser menos consumistas e procurar as lojas tradicionais...

    Hoje : Deslumbras-te na essência da minha tez

    Bjos
    Votos de um óptimo Domingo

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  14. Catarina,

    Porque razão a fruta importada, por exemplo, é mais barata que a portuguesa?

    Não há uma única razão. Por exemplo, considerando a Espanha e os produtos de fruticultura:

    > IVA em lá é 4% cá é 6%
    > Custos dos factores de produção, nomeadamente o gasóleo agrícola que lá é muito mais barato...
    > estrutura da produção. Enquanto em lá há cooperativas por tudo o que é lado. O emprego cooperativo lá era 21,6% do total de emprego, cá é apenas 1,3%.

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  15. Obrigada, Rogério.
    A palavra "razão", na minha pergunta, tinha sentido pluralizado, evidentemente. As que me dá justificam, naturalmente, a diferença de preços. A mão-de-obra será outra. Os pequenos produtores portugueses estarão sempre apreensivos e inseguros.

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  16. Eu faço questão de comprar produtos portugueses!

    Abraço

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  17. É engraçado como tentamos ter razão. Discutimos, teimamos, tentamos que os nossos interlocutores vejam a nossa perspectiva sob vários prismas, chegamos mesmo a ter conflitos abertos. Tudo isto pelo simples motivo de 'ter razão'.

    Eu não gosto de ter razão, mais não quero mesmo tê-la. Normalmente não acreditam em mim quando o digo, mas é de facto verdade!!!

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