Por Carmo Afonso
Público - 29 Dec 2023Na sondagem da Intercampus para o Jornal de Negócios, Correio da Manhã e CMTV, há uma nova descida do PCP. Numa sondagem anterior, tinha sido ultrapassado pelo PAN, agora foi a vez do Livre. Sabemos que as sondagens não passam disso e sabemos também que, mais do que prever resultados, elas condicionam o voto. Mas vamos assumir que estes resultados são credíveis.
Tenho visto muitas pessoas genuinamente contentes com a descida do PCP. São anticomunistas; não reconhecem a importância de termos este partido entre nós e com uma representação parlamentar expressiva. A primeira coisa que lhes quero dizer é que estão enganadas. Como afirmou um querido amigo, “Portugal não é grande coisa, mas sem o PCP seria muito pior”. São inúmeras as dívidas de gratidão que temos para com o partido. Inúmeras. Sem o PCP, a grande maioria dos direitos de trabalhadores não estaria consagrada na lei, como está. Ninguém põe em causa a justiça de trabalharmos 11 meses para recebermos 14 salários, mas tempos houve em que isso era uma miragem. O PCP esteve sempre lá.Mas isto não é apenas sobre gratidão pelo passado. É também sobre acautelar o futuro. A presença do PCP garante uma rede de estruturas, como as sindicais, de apoio efetivo aos trabalhadores. O desaparecimento, ou o simples enfraquecimento, dessas estruturas fará diferença na vida da maioria dos portugueses, mesmo daqueles que pouco se importam com o tema desta crónica. Sobretudo, o PCP costuma estar ao lado das boas causas. Alguns dir-me-ão: “E a guerra da Ucrânia?” A esses respondo que a posição do PCP foi um pretexto para o que já tinham, há muito, vontade de fazer: excluir o partido. O PCP defendeu, e ainda defende, uma paz negociada para a Ucrânia. Os militantes foram insultados por isso. Mas reparem que agora, em relação à guerra no Médio Oriente e estando do lado da Palestina, o PCP continua a defender uma paz negociada. Não falou em enviar armamento ou em dar qualquer espécie de apoio militar à Palestina. Consistência é isto. A paz, o primeiro valor do 25 de Abril, continua atual no PCP. Ainda bem.
No mesmo dia em que soubemos dos resultados da sondagem, morreu Odete Santos. À esquerda e à direita, ouvimos palavras sentidas de apreço e reconhecimento pelas qualidades de Odete Santos e pelas lutas que travou. Tudo foi pouco. Era uma mulher autêntica. Nada na Odete Santos — salvo a honrosa exceção do seu cabelo — era artificializado. Defendia apenas aquilo em que acreditava, e acreditava em coisas boas, como os direitos das mulheres e a causa dos trabalhadores. Não tinha medo do ridículo nem do espalhafato. Isto é a definição do oposto de uma pessoa chata. Ninguém poderia aborrecer-se a ouvir ou a olhar para Odete Santos. Para quem não me conhece, ou seja, quase todos vós, esclareço: não me ocorre melhor qualidade. De pessoas chatas, está o mundo cheio.Foi triste saber que a Odete Santos deixou de existir. Foi metafórico ter acontecido no mesmo dia em que as perspectivas eleitorais do PCP não se revelaram grande coisa. A Odete Santos representa o melhor do PCP, mas o PCP representa também o melhor da Odete Santos. É belo ver os vídeos em que se entregou à defesa dos seus pontos de vista. Mas não era só a forma que era boa, o conteúdo também era. O conteúdo que ela apregoava é a matéria de que é feito o PCP e que podemos resumir como sendo a abolição de quaisquer relações de domínio.Comunista é um substantivo, mas cresci a ouvir a palavra ser usada como adjetivo e não num sentido elogioso. Existe um sentimento anticomunista profundamente enraizado em Portugal. Assimilámos os preconceitos da Guerra Fria e diabolizamos pessoas que são provavelmente as melhores entre nós.Ser comunista não é apenas meter uma cruz no quadrado do PCP. Calma que também não é um voto de pobreza como muitos pretendem. Deixemos isso para as ordens religiosas. Mas significa acreditar no partido e num mundo melhor. “As causas perdidas são exatamente aquelas que poderiam ter salvado o mundo”, escreveu Gilbert Keith Chesterton, cheio de razão. Não sei se o comunismo integra a categoria das causas perdidas, mas admito que, à distância a que estamos de uma sociedade comunista, tivessem de rolar cabeças para a instituir. Por mim, não acontecerá. Afeiçoei-me à vida da social-democracia europeia. Digo-vos isto para que percebam que não é o sonho comunista que me move. Mas insisto que precisamos de um PCP forte para termos uma social-democracia saudável.E junto-me ao grupo dos que sentirão falta da camarada Odete Santos. Foi cedo e deixou um lugar impossível de preencher.
30 dezembro, 2023
2023 EM BALANÇO (a nível nacional): O QUE CORREU BEM; O QUE CORREU MAL
29 dezembro, 2023
2023 EM BALANÇO(no plano pessoal): O QUE CORREU BEM; O QUE CORREU MAL
28 dezembro, 2023
AINDA ODETE SANTOS... AGORA E SEMPRE!
"Uma comunista tem de ser maior que a televisão para que a televisão dê notícia da sua morte. Da minha pequenez, direi apenas que Odete Santos foi grande até eu lhe perder a vista. E tenho a certeza que aqueles que a veem pequena é apenas devido às cataratas do preconceito anticomunista.
A primeira vez que senti Odete Santos em despedida foi em abril, abril de 2007 e registei:
Dela, guardarei as últimas palavras que disse no hemiciclo:
"Enquanto houver estrada para andar eu vou continuar!"
Não acredito que tenha sido pensada a frase ( duma canção de Jorge Palma com a merecida alteração do "eu" de ocasião em vez do "a gente") e ver Odete Santos citar Jorge Palma no Parlamento é para mim um sinal de esperança em Novos Tempos!
Agora não me vou despedir outra vez, era o que faltava! Nós vamos continuar, "subindo e descendo a calçada, as escadarias dos edifícios do poder e a avenida", enfrentando, como eu a vi um dia, o humor pequeno e inteligente do Araújo Pereira rendido à lagosta da burguesia, ocupando a tribuna da república para prostar pelo verbo a voz da mediocridade dos adoradores dos microfones da era da eletrónica, com um verbo de cada um mas com a razão coletiva.
Obrigado camarada Odete! Haja alguém que te atire uma pedra!"
27 dezembro, 2023
ODETE SANTOS MORREU? QUEM DISSE?
26 dezembro, 2023
CANTATA DE NATAL 2023
CANTATA
(Que ano a ano tende a ser diferente)À entrada são distribuídas as prendasBeijos e oferendasDe cada a um a cada qualPassando por serO Pai de Natal
Os miúdos poucos brincaram
Mas jogaram, e jogaram, e jogaram
Enquanto...
Na cozinha, o Luís trabalhouA Sandra ajudouO Paulo ajudou a Sandra, que o Luís ajudouA Dulce o peru não cozinhouPois desta vez tal acepipe faltouMas em compensação, que belezaVeio de sonhos aviada e os colocou na mesa.A Andreia ajudou a Luísa que ajudou a JoãoA servir a refeição
Na cozinha e na salaNinguém se calaO Mário, fala com o Pedro, que falaCom o Luís, que fala com o Paulo
O Fernando também não se dá caladoE conversa com o Alberto e com o outro Mário
Num outro lado, a VandaCochicha com a Carla e com a SandraTodos falam com todosPor todo o ladoE ninguém se dá caladoAs poucas criançasEscolhem correrias, andançasGargalhadas, meiguices, mimosEntre irmãos e primos todos mais crescidosQuase todos maiores, e já poucos pequeninosDa Marta à CarolinaQue é a mais pequeninaE assim foi o jantar de NatalEntre guloseimas e afectosDe cunhados, filhas, genros,Primos, sobrinhos e netos
Porque quem se estima
Também se esmurra
Fui andando e fui esmurrando
Até que a Carla tal regra fura
Para o ano será ainda mais diferenteRogério Pereira
24 dezembro, 2023
CEIA NATALÍCIA (ESTA MINHA PANCREATITE É UMA CHATICE)
Quando olhei a mesa, com doces e guloseimas bem atrativas, Meu Pâncreas remexeu-se e segredou-me "vê lá bem... nada de asneiras" e de repente a mesa ganhou recreativa vida e retorqui-lhe "Esquece! Vou-me fixar no espectáculo!"
23 dezembro, 2023
22 dezembro, 2023
CRIANÇADA, EM ANIMADA BATUCADA EM TEMA NATALÍCIO
21 dezembro, 2023
NATAL DOS SIMPLES
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza
20 dezembro, 2023
NATAL! (UMA PRENDINHA MINHA)
19 dezembro, 2023
ESTE MEU CÉU PASSOU A TER MAIS UMA ESTRELA...
17 dezembro, 2023
SORRIA, APROXIMA-SE O NATAL!
15 dezembro, 2023
... E COMO NÃO PÁRO, ONTEM FOI DADO MAIS UM PASSO...
Numa ampla sala, uma assistência atenta... todos avós a quem foram oferecidos "Contos Para Serem Contados"... aos netos! |
De entre a assistência, esta imagem foca gente mais amiga José Marreiro (Voz de Paço de Arcos) Manuel B. da Cunha (Clube Alto da Barra) e Maria João Brito de Souza (a nossa sonetista) |
Patrocínio Costa (atriz amadora), lendo o seu conto preferido com uma oralidade que só ela... |
A encerrar a tertúlia, duas dezenas de dedicatórias... |
Também presentes, as ilustrações da autoria da Sílvia Mota Lopes |
14 dezembro, 2023
13 dezembro, 2023
SEMPRE FUI UM GAJO UTÓPICO... MESMO QUANDO NÃO SABIA QUE O ERA
Pelo sonho é que vamos
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria,
Ao que desconhecemos
E ao que é do dia-a-dia.Chegamos? Não chegamos?
-Partimos. Vamos. Somos.Sebastião da Gama - 1953
12 dezembro, 2023
A VERDADEIRA VISÃO DAS COISAS
11 dezembro, 2023
E COMEÇO HOJE (E AQUI) A MINHA PARTICIPAÇÃO NA PRÉ-CAMPANHA ELEITORAL
Isto dizia um antigo. Modernamente eu digo o mesmo que esse antigo disse. Mas faço uma declaração de interesses: eu olho e não paro!
10 dezembro, 2023
ONDE PARAM OS DIREITOS HUMANOS? CELEBRAR A "DECLARAÇÃO" É MERA... NEM SEI O QUE DIZER!
O Dia dos Direitos Humanos celebra-se todos os anos, no dia 10 de Dezembro, (...) Se foi importante o reconhecimento dos direitos, mais importante é cumpri-los, mas há ainda muito por fazer.
Foi neste sentido que o Movimento Erradicar a Pobreza, emitiu um documento para assinalar e lembrar a data. O documento em questão tem um conjunto de dados que demonstram que erradicar a pobreza é um desafio longe de estar concluído e a realidade confirma-o.
No documento pode ler-se que «a crua realidade da situação da pobreza surge-nos como um filme quando lemos a informação do Instituto Nacional de Estatística e as notícias que nos trazem os jornais» e dá um conjunto de dados que sustentam a afirmação.
Em 2022, 2.006 milhares de pessoas encontravam-se em risco de pobreza ou exclusão social;
Em 2020, existiam 49.694 reformados a receberam pensões até 111,52€; 217.533 a receberem pensões entre 111,53 euros e 275,29 euros; 1.101.218 a receberem pensões entre 275,30 euros e 438,81 euros;
Sem-abrigo aumentaram 78% em quatro anos;
Seis em cada 10 pessoas têm dificuldade em pagar casa;
O número de jovens com casa própria cai para metade. Numa década, proprietários entre os 24 e os 34 anos recua de 300 mil para 150 mil. Baixos salários e dificuldades em obter crédito impedem acesso a habitação;
Dispara desemprego entre jovens e 50% do emprego é precário;
42% da riqueza concentrada em 5% da população;
Dados de 2022 revelam recrudescimento de fluxos para offshores. Portugueses enviam 7.400 milhões de euros;
11 milhões de euros por dia. Foi este o lucro dos grandes bancos na primeira metade do ano;
09 dezembro, 2023
REDACÇÕES DO ROGÉRITO - 56 (esta minha escola vai-me ficar na memória)
Tema da redacção: o tema de hoje foi-me inspirado pelo Noah
Saio cedo de casa pois no caminho vou-me distraindo e quando podia levar poucos minutos quase sempre levo meia-hora até porque me pesa a sacola com todos os livros tabuada e cadernos e no inverno o frio é de rachar e eu por causa de tal peso preciso de ir devagar.
Quando chego a turma já lá está quase toda sentada e à minha chegada eu digo bom dia e quase todos me respondem em coro excepto um ou outro e até parece que perderam a língua mas dá-se o caso de serem filhos de gente rica que não liga a malta maltrapilha.
Por ser pequeno estou sentado na primeira carteira ao lado de um puto da Curraleira e à frente de dois um da Picheleira outro da comunidade de Chelas e são todos meus amigos e me ensinam coisas que até o senhor professor aprende embora ele se veja às aranhas para nos manter sossegados e atentos.
Quando for crescido quero manter viva a memória da minha escola das conversas com os meus colegas e das lições do meu professor!
Rogérito
08 dezembro, 2023
TERESA SILVA CARVALHO, DEIXOU-NOS
07 dezembro, 2023
ARY, FARIA HOJE 86 ANOS...
Foi como se não bastasse
tudo quanto nos fizeram
como se não lhes chegasse
todo o sangue que beberam
como se o ódio fartasse
apenas os que sofreram
como se a luta de classe
não fosse dos que a moveram.Foi como se as mãos partidas
ou as unhas arrancadas
fossem outras tantas vidas
outra vez incendiadas.À voz de anticomunista
o patrão surgiu de novo
e com a miséria à vista
tentou dividir o povo.E falou à multidão
tal como estava previsto
usando sem ter razão
a falsa ideia de Cristo.Pois quando o povo é cristão
também luta a nosso lado
nós repartimos o pão
não temos o pão guardado.Por isso quando os burgueses
nos quiserem destruir
encontram os portugueses
que souberam resistir.E a cada novo assalto
cada escalada fascista
subirá sempre mais alto
a bandeira comunista.
Ary dos Santos
06 dezembro, 2023
UM POEMA ROUBADO...
Monia Melro |
05 dezembro, 2023
UM TRABALHO DE CRIANÇAS QUE HUMANIZA A ÉPOCA NATALÍCIA
04 dezembro, 2023
UMA TRISTE NOTÍCIA: FALECEU UM HOMEM BOM!
03 dezembro, 2023
SE PRECISO DO "GARRETT"? NÃO! QUANDO CHEGAR O MOMENTO, DISPENSO!
Como referido tenho uma peça pronta de guião e texto, falta encontrar quem a encene e interprete e é aqui que cabe lembrar que, pelo menos três teatros têm uma dívida de gratidão que espero poder ser paga com o trabalho de montagem do espectáculo... amanhã vou almoçar com o Teatro Nova Morada... vamos ver...
Se, para encher a sala, preciso de um Garrett? Não! Quando chegar o momento, dispenso!
02 dezembro, 2023
ESCREVI UM TEATRINHO (PARA AS CRIANÇAS DAS ESCOLAS)
Daqui, só copiei o cenário... |
O tema não é original, mas o meu texto e guião saíram-me da inspirada inspiração, sem pitada de plágio. Como o segredo é a alma do espectacular desvendo só a canção... podem cantar ( e como o António Variações o fazia bem)
I
Quando a cabeça não tem juízo
Quando te esforças
Menos do que é preciso
O futuro é que paga
O futuro é que paga
Deixa-o pagar, deixa-o pagar
Se tu estás a gostar
Quando a cabeça não se liberta
Das graçolas, imitações
Toda essa distração, que te alegra
O futuro passa a coisa incerta
Cheia de privações, ilusões
II
Quando a cabeça está convencida
De que ela é a oitava maravilha
O futuro é que sofre
O destino é que sofre
Deixa sofrer, deixa sofrer
Se agora isso te deu prazer
III
Quando a cabeça está nessa confusão
Estás sem saber que hás de fazer
E usas todo o teclado que te vem à mão
O corpo é que fica parado
Sem vontade de ir a qualquer lado
Quando o jogo toma conta do tino
E teu teclado é pequenino
A unha é que paga
A unha é que paga
Não paras de roer
Nem que esteja a doer
IV
Quando a cabeça não tem juízo
E te empenhas, menos do que é preciso
O futuro é que paga
O futuro é que paga
Deixa pagar, deixa pagar
Se tu estavas a gostar
Irás sofrer, deixa sofrer
Se isso te deu prazer
V
A ser cantado com toda a plateia
Quando a cabeça mostra ter juízo
E usa o telemóvel só quando é preciso
O futuro é que ganha
O futuro é que ganha
E se esta canção te soa a incentivo
Queres ser escritor: vamos a isso
Vamos a isso
Vamos a isso
Pois mostras já ter juízo
_________________________________________
01 dezembro, 2023
VIVA PORTUGAL E ... A RESTAURAÇÃO!
O puto já tinha ido onde o avô nunca fora: Paris, Londres, Praia, Rio e conhecia bem Portugal do eixo A1, A2, Lisboa e Albufeira.
O avô encantara-se por Idanha-a-Velha porque os naturais, apesar do peso histórico da povoação, não se deixaram intimidar pelos turistas nem foram na cantiga de estudiosos e projetistas de terra alheia que lhe prometiam mudança de modos e rendimentos de vida. Nas ruas apertadas viam-se garrafas de gás com o tubo a entrar na parede de cozinha, aparelhos de ar condicionado a pingarem na calçada, tanques de lavar a roupa, estendais e a venda, que resistia, tinha caricas de cervejas e beatas junto à porta de entrada, pormenores que o tinham feito gostar da vida viva da histórica aldeia.
Deram voltas por ruínas e muralhas e, com o meio-dia, o puto começou com o "tenho fome" e não se via sítio de matar a dita e a mulher da venda não tinha por negócio servir pratos.
- Mas a senhora não vende aqui latas de atum?
- Vendo.
- Não tem por aí uma cebola?
- Tenho.
- Um pingo de azeite?
- Também.
- Um pão?
- Também se arranja!
Bela refeição, bela a solução do avô, bela a mulher da venda e a venda. O puto indagou que ela não tinha ar de quem gostava de heavy-metal pelo que não percebia porque se vestia totalmente de preto.
De regresso a Lisboa, a avó fez questão de passar por Fátima para agradecer o dinheiro que tinha para passear por onde quisesse e a saúde que tinha para comer o que lhe apetecesse. O puto desconfiado da história e das crenças da mãe da mãe fez perguntas até chatear.
- Cala-te! Não vês ali escrito "silêncio"?!
A avó a aproximar-se dum orifício com duas notas dobradas. O puto avança com ela.
- Com esse dinheiro bem podíamos ir a um restaurante e estávamos na mesma a ajudar! As gentes daqui são das que mais dão à Santa como forma de agradecer o sucesso dos seus negócios!
O moço que servia à mesa usava calças pretas e camisa branca.
- Meio viúvo? Morreu-lhe a namorada?
Perguntou o puto acrescentando que o tipo não tinha pinta de gostar de heavy metal.
O moço era estagiário da Escola de Hotelaria de Fátima e tinha a simpatia e a educação suportadas na utilização abusiva de diminutivos.
- Pretendem uma mesinha? Temos bifinhos, um bacalhauzinho, pãozinho, um vinhinho. A comidinha está boazinha? Uma sobremesazinha? E, no final, a continha: oitenta e cinco euros.
Se tivesse dito "eurinhos", o avô teria ido aos arames!
Atum enlatado com cebola é bom. Não formatem o bacalhau, a sopa, os moços e as moças que nos servem e lembrem-se, lá prós lados de Idanha, a Senhora do Almortão também faz milagres: para o ano o puto quer passar de novo o Dia da Restauração com os avós e não quer ir ao Algarve nem a restaurantes com rapazinhos de fatinho.