O puto já tinha ido onde o avô nunca fora: Paris, Londres, Praia, Rio e conhecia bem Portugal do eixo A1, A2, Lisboa e Albufeira.
O avô encantara-se por Idanha-a-Velha porque os naturais, apesar do peso histórico da povoação, não se deixaram intimidar pelos turistas nem foram na cantiga de estudiosos e projetistas de terra alheia que lhe prometiam mudança de modos e rendimentos de vida. Nas ruas apertadas viam-se garrafas de gás com o tubo a entrar na parede de cozinha, aparelhos de ar condicionado a pingarem na calçada, tanques de lavar a roupa, estendais e a venda, que resistia, tinha caricas de cervejas e beatas junto à porta de entrada, pormenores que o tinham feito gostar da vida viva da histórica aldeia.
Deram voltas por ruínas e muralhas e, com o meio-dia, o puto começou com o "tenho fome" e não se via sítio de matar a dita e a mulher da venda não tinha por negócio servir pratos.
- Mas a senhora não vende aqui latas de atum?
- Vendo.
- Não tem por aí uma cebola?
- Tenho.
- Um pingo de azeite?
- Também.
- Um pão?
- Também se arranja!
Bela refeição, bela a solução do avô, bela a mulher da venda e a venda. O puto indagou que ela não tinha ar de quem gostava de heavy-metal pelo que não percebia porque se vestia totalmente de preto.
De regresso a Lisboa, a avó fez questão de passar por Fátima para agradecer o dinheiro que tinha para passear por onde quisesse e a saúde que tinha para comer o que lhe apetecesse. O puto desconfiado da história e das crenças da mãe da mãe fez perguntas até chatear.
- Cala-te! Não vês ali escrito "silêncio"?!
A avó a aproximar-se dum orifício com duas notas dobradas. O puto avança com ela.
- Com esse dinheiro bem podíamos ir a um restaurante e estávamos na mesma a ajudar! As gentes daqui são das que mais dão à Santa como forma de agradecer o sucesso dos seus negócios!
O moço que servia à mesa usava calças pretas e camisa branca.
- Meio viúvo? Morreu-lhe a namorada?
Perguntou o puto acrescentando que o tipo não tinha pinta de gostar de heavy metal.
O moço era estagiário da Escola de Hotelaria de Fátima e tinha a simpatia e a educação suportadas na utilização abusiva de diminutivos.
- Pretendem uma mesinha? Temos bifinhos, um bacalhauzinho, pãozinho, um vinhinho. A comidinha está boazinha? Uma sobremesazinha? E, no final, a continha: oitenta e cinco euros.
Se tivesse dito "eurinhos", o avô teria ido aos arames!
Atum enlatado com cebola é bom. Não formatem o bacalhau, a sopa, os moços e as moças que nos servem e lembrem-se, lá prós lados de Idanha, a Senhora do Almortão também faz milagres: para o ano o puto quer passar de novo o Dia da Restauração com os avós e não quer ir ao Algarve nem a restaurantes com rapazinhos de fatinho.
01 dezembro, 2023
VIVA PORTUGAL E ... A RESTAURAÇÃO!
Porque não resisti, trouxe o texto para aqui:
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VIVA PORTUGAL E A RESTAURAÇÃO — a minha data histórica favorita.
ResponderEliminarLi a história que nada tem a ver com a restauração.
Nada tem a ver com a restauração?
EliminarOlha, não
Do prato ao pão
Do preço pago pela refeição
Das palavras "restaurante" e "sopa"
bacalhau, atum e cebola
_____
e agora, diz lá então
se tem a ver ou não
com a restauração
Confirma-se uma vez mais, que eu não tenho sentido de humor‼️
EliminarSó que, quer-me cá parecer,
ResponderEliminarque a restauração pelo
rei dos leittões falada
não se trata da independência
que foi pelo outro rei instaurada.
Tem mais a ver com
a sagacidade do puto
que gostaria
de ter ido comer
uma boa almoçarada.
Nas crónicas, como na vida,
tudo é feito de trocadilhos.
É mem´isso
EliminarBem visto
Para rir... sem dúvida.
ResponderEliminarClaro que é para fazer rir... embora a questão da independência seja coisa séria... até pelo facto de a termos perdido
EliminarEsse anónimo é cá o je
EliminarBom dia, Rogério!
ResponderEliminarVê lá se concordas que o nosso Carlos Paião venha ajudar à festa com ESTA MARCHINHA de dias especiais, entre eles o da Restaurção, claro...?
Abraço matinal.
Se concordo? Claro!
EliminarTua memória
é um... espetáááááculo
Abreijo soalheiro
Viva o 10 de Junho e a Restauração...
ResponderEliminarGrande Carlos Paião!
Como já disse no Facebook é para rir!
Abraço
Lá li
EliminarE, claro que é para rir
Não sei se conheces o dito
"Rir, desopila o fígado"
Abraço revolucionário
Que restaurações, querido amigo!
ResponderEliminarVenho só deixar-te um grande, grande abraço!
Dizes que vens "só" deixar-me um abraço...
EliminarSó?
Mas esse só é... tanto!
Abraço agradecido