14 março, 2024

O CHEGA, O VOTO DE PROTESTO E... O RESTO - II (continuação)

 O texto de ontem explicava (ou tentava explicar) que o Chega, chegou até onde chegou, porque nele votaram os desesperados, os desatinados e os descrentes de uma qualquer solução dentro do sistema. 

Este meu texto, sem se afastar de tal tese, trata do resto. Trata de uma questão que vai à memória do tempo e, quanto à profunda da alteração da composição social da classe trabalhadora, relembra a frase "Um País, sem siderurgia, é uma horta". É que se associava à produção do ferro e do aço a "responsabilidade de desempenhar funções de motor de um crescimento industrial que permitiria recuperar atrasos e construir um País industrializado e economicamente desenvolvido".

Caiu a Siderurgia, ruiu (quase) toda a industria e a economia é o que todos sentimos que está sendo. O País, não sendo uma horta (pois até perdemos os hortelãos) assemelha-se mais a um condomínio fechado onde o turismo se vai progressivamente instalando, bem servido pela precariedade de quem nesse sector trabalha.

Hoje a classe trabalhadora luta, e luta, e luta, mas a adversidade e a exploração radicam não só na própria estrutura da economia como também nos poderes instalados e nos comportamentos marginais que tendem a isolar a luta e a dissolver a solidariedade por parte de quem deixou de ser solidário.

Mas tudo isto não é novidade. Não sendo a cidade de Flint (EUA) um Seixal. Nem a SN uma General Motors. Nem Ventura um Trump. Reduzindo a escala, temos as mesmas causas produzindo os mesmos efeitos. Está tudo no filme "Roger and me". Ora veja-o:


11 comentários:

  1. As premissas enunciadas pelo marxismo continuam a existir já que o sistema é capitalista. No entanto, com os meios que o capital tem vão adiando o avanço da luta de classes. A concentração do capital já nos mostra situações em que os capitalistas também entram em disputas e até guerras entre eles. O mundo continua a avançar e a história não pára, apesar dos avanços e recuos.

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    1. É isso! Apanhei as bases disso lendo "O Processo Histórico" de Zuan Clemente Zamora"... e mais... aprendi que há que fazer acontecer pois o determinismo histórico é uma falácia! Né?

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  2. Trump chegou à Casa Branca porque os americanos nunca consideraram Clinton como favorita e nem estavam (e continuam a não estar) preparadas para ter uma mulher como presidente.
    The lesser of two evils… o menor de dois males ... ou assim pensaram. Erradamente.

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    1. Até pode ser... mas eu creio mais que seja porque na sociedade americana coexiste com o bem estar de muitos americanos a crescente pobreza e marginalidade bem como a descrença num equilíbrio
      Trump é o Ventura lá do sítio
      Ventura é o Trump deste pobre país à beira-mar plantado

      Abraço

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  3. Por aquilo que percebo parece-me claramente um voto de protesto, de revolta.
    O Chega em 2022 teve 399 mil votos, agora em 2024 teve 1 milhão 108 mil ou seja 709 mil votos a mais em 2 anos, não me parece que seja possível crescer 700 mil votos por convicção em 2 anos.
    Isto se entendermos por convicção o voto consciente/formado/informado acerca da doutrina apresentada, se por outro lado convicção significar a crença de que quem se apresenta vai resolver os problemas então a conversa é outra.
    Conheço um nanocosmos do chega, parece-me só crença.

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    1. Só crença?
      Se queres dar contributo válido no sentido de concordar ou rebater a minha tese tens:
      > que entender os efeitos e sequelas da desindustralização e seu impacto numa população de operários que são obrigados em converter não só a sua actividade com a sua (frustrada) realização pessoal...
      > que ver o filme... não é ficção

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  4. Não estou a discordar dos efeitos e sequelas da desindustrialização, aliás lembro bem nos anos noventa os cafés e mercearias abrirem como cogumelos. penso que não há conversão de operários de forma massiva, atenção de forma massiva, porque praticamente não há industria com escala á muito.
    O que se seguiu foi a economia de serviços e a sua concentração na mão de alguns poucos grupos económicos e um sistema financeiro predador.
    isto de forma rápida, não tenho tempo para elaborar mais agora.
    O filme é de 1989
    Abraço

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    1. Claro que as transformações não implicaram conversão massiva pois essa foi sendo feita à medida que a indústria ia encerrando e esta foi desaparecendo ao longo do tempo... tenho dados que referem que a Sorefame só desapareceu depois da manobra de fazer integrar as empresas desse grupo na CP Carga para depois privatizar em 2015... também os estaleiros de construção e reparação naval não morreram de morte súbita. Não, antes foram (e eram muitos) ficando pelo caminho...
      Não é a primeira vez que me de<tenho no tema, como podes ver aqui
      https://conversavinagrada.blogspot.com/2022/02/quando-industria-e-fraca-pode-classe.html#comment-form

      O filme é de 1989 mas antecipa muito do que mais recentemente se passou entre nós.

      E para. finalizar (por agora) uma pergunta: desde quando o PCP vem perdendo eleitorado? Essa perda nada tem a ver com a minha tese?

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    2. Amigo Rogério

      Claro que tem tudo a ver com a sua tese. Comecei por dizer que o mundo do trabalho mudou com a desindustrialização sendo portanto a origem das alterações nas relações sociais do trabalho e suas consequências na construção e desenvolvimento do individuo que vivemos actualmente.
      Tendo compreendido isso o meu foco é no que se seguiu, é na economia de serviços, na sua organização do trabalho e redesenhar das relações sociais, mais, começamos progressivamente a entrar noutro tipo de economia e a sua própria organização do trabalho e relações sociais, a economia digital em que o trabalhador nem sequer vai ter local de trabalho, como vai este trabalhador desenvolver uma sensação de pertença, empatia e solidariedade, como vai separar o trabalho do seu espaço de lazer quando o local de trabalho e o local onde vive são o mesmo.
      E minha questão é como vai o trabalhador á distância ou o nómada digital perceber quem defende uma organização do trabalho que lhe é favorável.
      Faço-me entender?

      P.S- Só como ponto de interesse o Varoufakis por exemplo apresenta a tese de que o capitalismo pode vir a ser substituído pelo Tecnofeudalismo.

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    3. Meu caro amigo, como é evidente a minha tese não cobre a complexidade e variedade que, nos dias de hoje se perdem com as relações de trabalho e com a dinâmica social. A minha percepção é que, tocando eu numa questão central, não devo perder de vista o seu foco (tenho duas das minhas três filhas em teletrabalho) nem outros como seja a financeirização da economia...
      ... modelo que faz Varoufakis entrar na ribalta. Aliás a ribalta vem estando aberta e... o impossível é, tão só e apenas, aquilo que ainda não aconteceu!

      P.S. - Fui ler um artigo do grego e de imediato fui convidado a inscrever-me num novo movimento o DiEM25...

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    4. Corrijo, onde se lê perdem
      deve ler-se prendem

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