Os gráficos acima (constam de um estudo, cuja leitura recomendo) mostram várias coisas, nomeadamente: as variações da distribuição do emprego; de como pesa a tercearização da economia com a deslocação do sector secundário (indústria) para o terciário (serviços); de como isso, sendo patente na Península de Setúbal, é dramático no Município do Seixal.
De facto, no Seixal, o emprego na industria é transferido em mais de 52% para os serviços. Não sou especialista em medicina no trabalho nem em sociologia para poder avaliar dos traumas e/ou os efeitos sociais de tão radical mudança operada nos operários da Siderurgia Nacional, na corticeira Mundet para só apenas citar as duas maiores empregadoras das tantas outras industrias encerradas...
Como referi, os gráficos dão as transferências entre sectores mas não mostram o que, entre os anos em análise, se passou com o desemprego. A imprensa, dá uma ideia ao referir que a pobreza ou exclusão social ameaça agora 2,1 milhões de portugueses e mais uma vez é oportuno voltar a referir a minha incapacidade para poder avaliar traumas e efeitos sociais de tão elevada ameaça...
Mas tal incapacidade não me impede de poder afirmar que é difícil, senão mesmo impossível, manter consciência de classe por parte de quem, afinal, a perdeu...
Vem tudo isto a propósito da percepção (e explicação) sobre a "bombástica" votação no Chega se dever ao desespero, ao protesto, ao desatino...
E sobre o que se diz por aí de a votação no Chega se dever à transferência de votos do PCP veja-se, a não perder, o artigo publicado no Diário de Notícias de hoje, cito:
"No Distrito de Setúbal, o Chega ganhou quase 63 mil votos. A CDU perdeu cerca de 4700. De onde vieram os 58 mil votos a mais do Chega?No Distrito de Évora, o Chega ganha 10 mil e 600 votos e a CDU perdeu 1723. Os quase nove mil votos de diferença também vieram do PCP? Como?!...Em Beja o Chega ganhou 9663 votos e a CDU perdeu 872 e em Portalegre o Chega ganhou 8779 e a CDU perdeu 454. Houve pelo menos 17 116 votos que vieram de algum lado para o Chega e não foram do PCP."
continua aqui
Interessante desmontar as ideias propagadas pelos "sábios" comentadores.
ResponderEliminarOs "sábios" comentadores estão, exactamente à hora em que te comento, sob a pressão das redações de tudo o que é imprensa...
EliminarTalvez o que se está passando inverta o que se tem passado, em que essa gentalha é que vem fazendo "notícia"...
A luta continua
nas redações e na rua!
Caro amigo
ResponderEliminarNa elaboração de uma estratégia eu partiria de dois traços largos:
Primeiro, esta legislatura vai ser mais curta, o tempo para preparação e apresentação a novas eleições vai ser reduzido, independentemente de vir a acontecer ou não.
Segundo, o resultado do partido nas eleições de 10 Março tem de ser obrigatoriamente considerado o fundo do poço, não pode ser admitido cair mais.
A partir daqui… avante.
Abraço
👍
EliminarSem dúvida! Até concordo! Mas se leres bem, nem sequer esse é o tema de fundo do meu estudo. A minha tese vai no sentido de perceber quem são os eleitores do Chega e se são votos de convicção ou de desespero... e, para melhor entendimento, não percas a 2ª parte!
EliminarAbraço
Houve transferência de todos os partidos para o Chega e ainda os abstencionistas!
ResponderEliminarMuito grave!
Abraço
Sim, foi assim... mas se reparares bem nem esse é o meu tema central...
EliminarAbraço
Será que 'isto' responde de algum modo ao que pretendes, Rogério?
ResponderEliminarOra, vê, ou melhor, lê:
Nas suas '10 IDEIAS SOBRE AS LEGISLATIVAS' , Miguel Carvalho diz isto na sua 2ª Ideia:
"2 - Para aqueles que achavam que antigos eleitores de esquerda nunca votariam no Chega, eis a resposta, contundente. Ou acham que aqueles 18 por cento vieram de Marte? Pois, é outra tese que ando a pregar há mais de dois anos, quase sempre em minoria. E nem um certo jornalismo que vive numa bolha consegue ouvir ou perceber. Sim, há muitos eleitores ex-PCP, ex-BE, ex-PS que votaram Chega. Ontem como hoje, por fé, sem terem lido Marx nem Mussolini. Mais do que estigmatizá-los, talvez fosse melhor ouvi-los e perguntar-lhes porque escolheram Ventura. "
Achas que esta ideia responde em alguma coisa àquilo que pretendes?
É que, a bem da verdade, ainda não entendi bem o que gostarias de saber e não encontras respostas.
Beijinhos
Dizendo então de outro modo. Imagina um operário que trabalha numa fábrica. Votava CDU embora não fosse militante. A fábrica fechou e fechou outra no mesmo concelho. Foi para o desemprego e foi recebendo muito menos do que recebia se estivesse trabalhando, pois o patrão não declarava a necessidade do salário...
EliminarProcurou emprego onde havia, trabalhou numa obra enquanto a obra durou... ficou várias semanas procurando sem sucesso até que foi convidado a ingressar noutra obra... a obra acabou e repetiu-se a cena, e empregou-se num café servindo na explanada durante o verão. Passada a época de praia foi dispensado. Procurou trabalho... mas desta feita não foram semanas mas dois meses, período em que para suprir a ansiedade, meteu-se no álcool e passou a andar meio embriagado ... ia ouvindo falar no Partido à mistura com outros e o Chega mexeu-lhe no ouvido... de raiva e protesto sentiu-se Ventura.
Se fores ao gráfico este é um rapaz que passou de sector do secundário para o de serviços e com a industria em queda são, como este, muitas dezenas de milhar de casos...
Beijinho