09 março, 2024

TALVEZ AMANHÃ ME SINTA RENASCIDO... QUEM SABE?


Fala do Homem Nascido
Venho da terra assombrada,
do ventre de minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.

Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.

Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.

António Gedeão, in 'Teatro do Mundo'

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Marx, nem sempre
      Mas Engels... ouve-me, certamente.

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  2. Que ambos te ouçam, Rogério!

    Ainda bem que vieste dar um pouco de cor e de calor a este dia publicando um dos mais belos poemas jamais escritos por um ser humano.

    Que possa o querer do explorado pesar mais do que a ambição do explorador, que hoje todos nós somos chamados a ser verdadeiras muralhas de aço.

    Com licença, com licença... e até logo!

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    Respostas
    1. Um dos mais belos poemas
      a que a canto
      de Adriano
      dá mais encanto

      Até já

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  3. Que bom ouvir o Adriano . Deixa-nos esperança, se é que ela nos é permitida, tanto quanto é necessária.
    Tudo de bom, meu Amigo Rogério.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  4. Nunca é demais ouvir o grande Adriano, que nos deixou tão cedo.
    Beijo
    :)

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