Venho da terra assombrada,
do ventre de minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.
Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.
Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.
Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.
António Gedeão, in 'Teatro do Mundo'
Que São Marx te ouça.
ResponderEliminarMarx, nem sempre
EliminarMas Engels... ouve-me, certamente.
Que ambos te ouçam, Rogério!
ResponderEliminarAinda bem que vieste dar um pouco de cor e de calor a este dia publicando um dos mais belos poemas jamais escritos por um ser humano.
Que possa o querer do explorado pesar mais do que a ambição do explorador, que hoje todos nós somos chamados a ser verdadeiras muralhas de aço.
Com licença, com licença... e até logo!
Um dos mais belos poemas
Eliminara que a canto
de Adriano
dá mais encanto
Até já
Que bom ouvir o Adriano . Deixa-nos esperança, se é que ela nos é permitida, tanto quanto é necessária.
ResponderEliminarTudo de bom, meu Amigo Rogério.
Uma boa semana.
Um beijo.
Nunca é demais ouvir o grande Adriano, que nos deixou tão cedo.
ResponderEliminarBeijo
:)