11 março, 2024

QUEM DETERMINOU OS RESULTADOS DE DEZ DE MARÇO? (AS INGENUIDADES DO PCP) - II

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Se deixei dito que terão sido os comentadores de serviço a determinar os resultados, também não deixei de dizer que não terá sido o único factor. Os que aqui vou referir não são de somenos. Chamar-lhes ou qualifica--los de "ingenuidades" até pode ser desajustado... chame-se o que se quiser ao que a seguir vou dizer:
  • Sobre como vai o Mundo, com guerras por tudo o que é sítio, foi ingenuidade falar de Paz quando se pronunciou sobre a invasão da Ucrânia enquanto "todos" falavam em reforçar a Ucrânia com armamento*;
  • Sobre a composição social a que dirigiu as suas propostas, foi ingenuidade ignorar que, com a desindustrialização, a classe operária está reduzida a quase nada se comparando ao tempo da Siderurgia Nacional, da Mague, da Sorefame, da Equimetal, da Construtora Moderna, da Portucel, da Cimpor (entre outras da industria pesada) e, ainda, de todo o sector de construção e reparação naval onde de cerca de 26 mil trabalhadores hoje apenas por lá estão menos de 900. 
  • Sobre o aumento da pobreza, foi ingenuidade não se dirigir a mais 81 mil pessoas a viverem com menos de 591 euros mensais. E seria importante tê-lo feito pois a pobreza ou exclusão social ameaça agora 2,1 milhões de portugueses. E é desse universo que releva o que Marx identificava como lumpemproletariado o qual, por não ter consciência de classe, tende a assumir comportamentos de contestação pela contestação... 
* Se o Papa Francisco tivesse na altura dito o que hoje disse tinha-se o meu Partido livrado de tanta chatice 


12 comentários:

  1. Respostas
    1. Só para os esclarecidos...
      Para os outros
      apenas apelo a que pensem nisto

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  2. Foi ingenuidade falar de Paz? Fazê-lo foi um acto de corajosa lucidez!

    Quanto ao estrato social que sempre se propôs defender, foi um acto de justiça e de humanismo que não foi por escolha/opção dos que o compõem que o lumpemproletariado cresceu como pão levedado.

    E como não se dirigiu a esses mais de 81 mil que ganham menos de 591 euros mensais? Eu pertenço a esse grupo e nunca me senti excluída dos objectivos pelos quais o meu Partido pugna.

    Quanto a Francisco, já não era sem tempo que dissesse o que disse.

    Abraço forte!

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    1. Tens que me ler de forma mais atenta... eu não escrevi que não se tenha
      dirigido, só que o fez de forma a não atingir a quem se dirigia... os humilhados e ofendidos mas sem consciência de classe são mais de 2 milhões...

      Abraço motivado

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    2. Talvez te tenha lido mal, sim... por acaso estive ainda ontem na CNP - Centro Nacional de Pensões - e tive a sorte de ter sido escolhida para ouvir as lamentações de uma humilhada/ofendida que esperava ser chamada pelo balcão da inclusão social. "Ai, menina, isto agora com o Chega é que vai ser a nossa desgraça". Não pude responder-lhe, chamaram o número da minha senha para o balcão de reclamações sobre não recebimento de pensões que ficava a kms de distância do lugar onde me sentara. Mas trocámos olhares e o meu olhar abraçou o dela.
      Não sei como se chama, mas nunca a esquecerei.

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  3. Caro amigo
    tenho como resposta a este post um comentário demasiado longo, não sei se devo!
    Abraço

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  4. Tenho espaço
    fica o meu desafio...
    Força

    Abraço

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  5. Amigo Rogério

    Aproveito as suas reticências para dizer que não considero que seja ingenuidade, penso pelo contrário que é uma questão de ausência ou deficiente estratégia politica.
    Hoje, num mundo complexo e fundamentalmente individualista não é possível vencer sem uma estratégia multifacetada, parte dessa estratégia passa por uma comunicação e linguagem eficientes, requer entre outras coisas distinguir algumas características das sociedades modernas e utilizá-las a favor.
    Um exemplo muito simples, considera que painéis de rua e arruadas convencem alguém? Esclarece alguém? Transforma politicamente alguém? Eu penso que não!
    Muito mais eficaz é colocar um pequeno pódio num centro urbano movimentado com uma camara de filmar e pedir às pessoas para falar sobre o que gostariam para o país ou para a sua vida e depois dizer-lhes que o depoimento dela vai estar no canal do youtube da CDU, a partir daqui é só adicionar a informação “estratégica”.
    Não é possível hoje, com os atributos que a sociedade valoriza e requer, pensar que a face visível do partido pode mobilizar as massas sem possuir determinadas características, não pode, não consegue.
    Na minha opinião é preciso uma mistura de filósofo, poeta e guerreiro.

    Tive de dividir o comentário, não deixa publicar inteiro.

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    1. Excelente contributo, no sentido de que deve ser discutido... no lugar apropriado para se tirarem conclusões...

      e agora vamos à outra parte.

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  6. Quanto á questão da Ucrânia, assunto que acompanho muito de perto porque considero que é um acontecimento de proporções históricas que vão mudar o mundo tanto quanto a 2ª guerra mundial ou a queda da união soviética mudou e portanto acho que o partido esteve bem em afirmar as coisas conforme elas são, o problema foi a forma como o fez.
    Lembro de ver na televisão dirigentes do bloco a apoiarem a teoria da” invasão injustificada e ambições imperialistas” e pensar para comigo, estes tipos sabem como as coisas se passaram mas para não perderem votos alinham contra o seu próprio conhecimento e racionalidade.
    Portanto concordo que foi um acto de coragem, lucidez e realismo, por outro lado penso que não podia ser de outra forma (o posicionamento do partido).
    A questão não é abdicar dos valores mas sim faze-los chegar as pessoas e o mecanismo para conseguir esse objectivo é que varia com a maré dos tempos.

    Quanto á composição social e á pobreza o meu ponto de vista é o seguinte; ninguém quer ser caracterizado como trabalhador.
    Existe uma classe que trabalha e que mesmo assim é extremamente pobre, esta classe sabe que é pobre mas não tem condições para perceber porque é pobre e que mecanismos contribuem para que se mantenha pobre e por isso não tem consciência de classe.
    Outra é aquela que trabalha, até consegue algum conforto material mas á custa de uma permanente luta contra a possibilidade de tudo se evaporar se por acaso baixar os braços um pouco e não trouxer uma peça de caça para a gruta. Estes não querem ser considerados trabalhadores porque aspiram a subir, percebem até determinado ponto que o acesso á riqueza está condicionado mas não podem admitir pois impediria a luz ao fundo do túnel.
    Depois temos a classe dos que são trabalhadores mas não valorizam que são explorados como todos os outros porque são melhor ou bem remunerados e como tal ninguém muda algo que está bom e confortável, logo que se lixe a consciência de classe.
    Tudo isto enquadrado na desindustrialização, na economia de serviços e na ilusão da ascensão pelo mérito (como se alguma vez tivesse sido regra) obviamente.
    Do meu ponto de vista não se trata de que segmento da classe trabalhadora se apela mas que toda a classe trabalhadora actualmente não responde á luta de classes.
    Agora qual é o ponto em comum que ainda pode unir todas estas pessoas que não respondem ao tradicional conceito de luta de classes mas que são mantidas num estado de necessidade?

    E depois existe o medo, que nunca foi desconstruído nem devidamente explicado.
    Quem fala com as pessoas na rua quotidianamente percebe a dimensão do medo e uma das razões está relacionada com a questão da propriedade e não vou expandir mais… por agora.
    Neste contexto como organizar uma estratégia de acção politica/comunicacional para mobilizar as massas?
    Difícil muito difícil, mas quanto mais cedo começar melhor, sob pena de não se ter dois pés no parlamento.

    São os meus 10 tostões.
    Abraço

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  7. Desculpa a intromissão, Rogério.
    Como continuo emocionalmente ligado ao Partido Comunista Português com o político mais inteligente de Portugal. Lamento a situação precária do partido.
    A campanha e o candidato ambos tediosos.
    O candidato parecia ter engolido a agulha do gramofone.
    E o discurso final, após os resultados das eleições, foi quase patético.
    Não pertenço ao partido, nem votei nele desta vez.
    No entanto, se mandasse no partido comunista português, ouvia com a máxima atenção o que HorizonteXXI1 nos diz e seguia as suas instruções.

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  8. > Questão da UCRÂNIA, de acordo
    > Questão da CONSCIÊNCIA DE CLASSE: Concordo estar em perda e daí as consequências que referes. Contudo há um aspecto muito relevante e que tem a ver com a exclusão social e que refiro ameaçar agora 2,1 milhões de portugueses. E é desse universo que releva o que Marx identificava como lumpemproletariado o qual, por não ter consciência de classe, tende a assumir comportamentos de contestação pela contestação... contestação irreflectida e desesperada. Desesperada e não só, pois a intermitência de trabalho remete milhares de trabalhadores para comportamentos marginais, para o alcoolismo ou, para o isolamento social. Não tenho dúvida de ser aí (e não só) que a extrema direita se move...
    Ainda sobre este assunto há um filme que não deves perder e que tem ver com o encerramento de cerca de uma dezena de fábricas do Grupo General Motors, nos EUA e os impactos na população trabalhadora. É longo, mas vale a pena. Vê aqui https://www.youtube.com/watch?v=jJWh-3VaGAw

    > Quanto ao MEDO - totalmente de acordo sobre o que há fazer... e termino citando Mia Couto: "Há quem tenha medo que o medo acabe"

    Dei-te o troco, de punho erguido
    Abraço

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