20 março, 2017

Porque me falas como se tudo dependesse da Primavera e nada dependesse de nós?

(reeditado)


DESERTIFICAÇÃO
Fala a pedra com a pedra: Onde a erva?
Fala a terra com a terra: Onde o húmus?
Fala a porta com a janela: Onde a gente?
Fala a parede com o sobrado: Tens saudade dos passos?,
onde pára o espanta pardais, esse espantalho de falsos braços
que afastavam os pássaros?
Onde param as searas? e as eiras? e os cantos? e o pão?
Flor? Que é uma flor?
Flor era essa coisa de pétalas e cor que tu trazes na memória
e que segundo o calendário do tempo devia povoar esses campos?
Árvores? Que é uma árvore?
Árvore era essa coisa de raízes, folhas, ramos, frutos
que juras te ter no passado dado meiga e fresca sombra?
Água? Que é a água?
Água é essa coisa que te molhava o rosto, a roupa o corpo
e que as escuras nuvens teimam levar para outro lugar?
Ah, meu amor, este abandono
Ah, meu amor, este deserto
Se cada um de nós somos três
porque me falas
como se houvesse apenas Minha Alma?
Porque me falas
como se tudo dependesse da Primavera e nada dependesse de nós?
Rogério Pereira 

13 comentários:

  1. tem razão a tua Alma
    é fácil culpar a Primavera que chegou tarde demais!
    ou cedo, como por vezes acontece...

    forte abraço

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  2. A tua Alma questiona...eu não te posso responder, pois sei bem da beleza estonteante do meu Alentejo! (Apenas a incultura e o abandono o tingem assim...).
    BJ

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  3. Tão bonito, isto, Rogério!

    Beijinhos :)

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  4. Gostava de saber comentar o que acabo de ler. Infelizmente não encontro palavras capazes de exprimir, o que senti.
    Abraço

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  5. Culpamos nem que seja a primavera para desculparmos as nossa falhas... É humano.

    Beijinho primaveril

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  6. Jamais te falaria como se TUDO dependesse da Primavera, mas... que gostei muitíssimo deste teu texto poético, gostei!

    Abraço.

    Maria João

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