08 maio, 2017

«Chão de Marés»

VERDADES IMPROVÁVEIS 

Na ausência de palavras
desenhei uma flor encarnada
neste chão de marés

soltei-lhe as pétalas

cadenciadas
silvestres
musicais

agarrei o vento pelas crinas
esculpi um grão de areia
para a vida despontar
num sopro
e se libertar
pelas físsuras da pedra

convoquei pássaros
resgatei memórias
e outros silêncios

escrevi de novo
verdades improváveis

Inesperadamente
hoje não quis salvar o mundo
Eufrázio Filipe
"Chão de Marés"

A sala estava como costuma estar, cheia de cumplicidades e afectos. Ouvíamos. Quase no fim, Manuel Veiga levantou-se e lembrou outro chão. Eu limitei-me a entregar-lhe uma catrefada de abraços encomendados e a dar-lhe uma sugestão: "Para quando um livrinho de prosa poética?"
Respondeu-me lesto:
"Está na calha, ando a escreve-lo para o meu neto!"

4 comentários:

  1. Gosto muito deste poeta. Entre as amigas com quem estive no sábado, uma delas também frequenta o mar arável, e falamos nele no nosso encontro. Pena ser no mesmo dia e à mesma hora. Pode ser que seja para a próxima.
    Obrigada pela reportagem. E por ter levado os nossos abraços.
    Abraço

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  2. Excelente poema! Bela escolha, Rogerito...

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  3. Foi uma excelente cerimónia para um excelente livro carregado mais de emoções que palavras.

    :)

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  4. Um poeta excelente!
    (Quase me sinto presente!)
    Beijinho para ti e para eles.

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