A questão, tal qual me surge, lembra aquela, bem colocada, de saber o que teria aparecido primeiro, se o ovo se a galinha.
Transposta essa para este post, a pergunta é outra, o que apareceu primeiro?
O grunhido* ou o papelinho?
Dizia um amigo que nem Mia Couto se livrara da tendência de enveredar pelo trocadilho curto, ele que é hábil nas palavras. Certamente que Mia não foi o único e instalou-se a generalizada tendência, com sucesso absoluto. Quanto mais curto, mais os cliques no "gosto", chegando estes a atingir centenas a que se juntam largas dezenas de comentários, esses inexplicavelmente longos e quase sempre adulatórios.
O marketing facebookiano, sempre atento, passou a disponibilizar ambientes coloridos para trocadilhos e grunhidos* e, assim, passar a concorrer com o seu mais aguerrido concorrente, o twitter**.
E que tal regressarmos ao tempo da comunicação escrita?
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* "Nem sequer é para mim uma tentação de neófito (escrever no Twitter). Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido." - José Saramago, entrevista à GLOBO, Setembro de 2009
**(...) Um dos maiores riscos para o mundo é ter um presidente dos EUA que governa pelo Twitter como um adolescente, com mensagens curtas, sem argumentação, que, para terem efeito, têm de ser excessivas e taxativas.(…) Se acrescentarmos que muitos consumidores das redes sociais obtêm aí quase toda a sua informação, percebe-se os efeitos devastadores no debate público e como servem para a indústria das notícias falsas e para alicerçarem o populismo com boatos, afirmações infundadas, presunções, invenções (...)Ler só aquilo com que concordamos pode ser satisfatório psicologicamente, mas destrói o debate público fundamental numa sociedade democrática.» - José Pacheco Pereira in "A ascensão da nova ignorância"
Os "botõezinhos do Zuckerberg", bem como o excesso de imagens, caixinhas de notificações, anúncios e citações incorrectas repetidas à exaustão, foram toleráveis enquanto eu tinha um mínimo de saúde física, mas... sim, concordo que sejam uma forma extremamente eficaz de destruir o debate público saudável, maduro e desejável.
ResponderEliminarAbraço!
Maria João
Já dei conta desses "papelitos", mas, como sabe, não sou muito atenta e como tal também não são muito atentos comigo, o que acho muito bem feito. Escrevo poucas vezes, quase sempre mais que três linhas e isso é um atrevimento, para além dos assuntos serem sempre muito "chatos". Claro que não tenho "gostos".
ResponderEliminarAs redes sociais não promovem o debate de ideias nem a diversidade como seria de esperar, antes pelo contrário, o pensamento tende a afunilar-se e as relações de "amizade" são, na maioria das vezes, interesseiras. Ainda não experimentei o Twitter nem vou experimentar...
Bj.
Lídia
Felizmente que ainda não tinha dado por estes grunhidos e ainda por cima coloridos :(
ResponderEliminarEstamos no caminho certo para a idade da pedra!
Livra!
Beijinho