Ele não era agrário proprietário, apenas rendeiro. A herdade, tendo de tudo um pouco, tinha na boa qualidade da vinha o provento do qual pagava a renda e do qual lhe sobrava algum dinheiro. Vinho de talha era raro e a qualidade produzida era afamada.Face à notícia do noivado da filha promoveu o rendeiro a um evento para festejar tão feliz acontecimento. A reduzida família tinha, assim, já assegurada a descendência e resolveu partilhar a felicidade, com toda a gente convidando meio-mundo para um bem regado banquete.A mesa queria-se grande, e os talheres quase não chegavam para tanta gente. O lugar escolhido, pois que aquele Julho ia bem quente, foi a adega onde a frescura associada ao leve odor a mosto, afigurou-se o lugar certo.Enquanto a mulher ia pondo a mesa e cuidando do assado ele procurou o jarro e foi enche-lo na talha onde guardava a melhor safra. Abriu a torneira com cuidado e, em pequeno caudal para não agitar o pé do fundo, deixou o vinho correndo em pequeno esguicho.Pegou num pequeno púcaro de barro e tirou um pouco para dar um trago. Ao soltar um estalo, olhou o tecto e deu por uma coisa de que nunca antes se dera conta: pendurada, uma velha machadinha já bem enferrujada e de cabo carunchoso baloiçava levemente, quando lhe dava o vento.Ele olhava e ia pensando na filha que ia casar, que iria ter uma criança e no perigo que seria a criança escolher aquele lugar para ir para ali brincar, pois mais dia menos dia a machadinha cairia e se a machadinha caísse nesse dia, seria um desfecho trágico, a morte, certamente. Enquanto tinha tal pensamento, o vinho ia correndo.Chegado ao pé um convidado e ele contava o perigo que tinha adivinhado. Contava, apontava a machadinha, e o vinho corria.Um e outro, após outro e outro, se achegavam e era já meia-aldeia comentando o risco descoberto, e o vinho ia correndo.Até que alguém terá gritado, mas já a talha jazia vazia...No mês seguinte o agrário deu ordem de despejo ao rendeiro por incumprimento do contrato de arrendamento, pois fora-se toda a safra e com ela o meio de pagamento!
Meu pai contava vezes sem conta este conto que hoje recordo. Eu aprendi a lição mas, apesar de conto antigo, há muitos que ainda não
A história da machadinha (Fábula), de Ana de Castro Osório é um pouco diferente da tua história.
ResponderEliminarCom algumas ligeiras diferenças, mas o meu avô poeta, contava-a vezes sem conta, não a mim, mas sobretudo à minha mãe e, vez por outra, ao meu pai, quando entendia que algum deles se preocupava demasiado com algo facilmente remediável.
ResponderEliminarFui ler o conto da Ana de Castro Osório. Creio que era essa a versão que o meu avô contava. Nunca se alongava, porém, até ao final, ou melhor, encurtava-o, mais ou menos conforme aqui fizeste.
Abraço
Conhecia a estória, mas de outro modo.
ResponderEliminarA tua versão prova que sofrer por antecipação nada resolve e, por vezes, provoca uma tragédia ainda maior do que a temida.
Boa semana :)
Gostei de ler. Há gente assim, que gosta de procurar piolhos em cabeça de careca.
ResponderEliminarAbraço, saúde e boa semana
Gostei da notícia que deixou ontem no Sexta. Avise quando sair, vou querer comprar.
Não conhecia e gostei!
ResponderEliminarAbraço
Li e gostei da mensagem.
ResponderEliminarAproveito para dizer que sou um nuvem e não uma nuvem.
Obrigado pelos comentários que faz no meu blogue.
ResponderEliminarExiste quem acredite nessas Estórias. Eu, sinceramente, costumo dizer: " Apenas estórias e nada mais que isso"
.
Uma boa semana
Abraço
Muito bom. Gostei demais!
ResponderEliminar