Ontem, quase em simultâneo com o meu texto era publicado outro. Em ambos, se vislumbra aberta a porta que dá acesso ao entendimento que é requisito para a paz. Esta manhã, não faltou quem falasse em insucesso, em fracasso e mais o diabo a sete.
Eu por mim mantenho a esperança, e não estou só como aqui se pode perceber, passo a transcrever:
Notam-se tímidos sinais de paz. O caminho está encetado.
A China, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, declarou estar disponível para promover as negociações de paz e ser mediadora no conflito. Não se consegue pensar em melhor mediador.
Zelenskii, numa entrevista à estação de televisão ABC News, afirmou ser possível um compromisso para a Crimeia e para o Donbass (que integra as regiões separatistas de Lugansk e Donetsk). Declarou igualmente um recuo na sua pretensão de adesão da Ucrânia à NATO. Desde o início ficou clara, para quem quis dar atenção aos antecedentes desta guerra, a importância da possibilidade de adesão à NATO na infeliz decisão de Putin.
Do lado de Putin – e atendendo à lista de condições para a paz que a Rússia deu a conhecer – parece ter existido a desistência da suposta desnazificação e a concretização da solução pacífica assente nos exatos pontos (apesar de em moldes diferentes) que Zelenskii referiu na entrevista; Putin insiste no reconhecimento da independência das regiões separatistas e numa revisão constitucional que impeça a Ucrânia de aderir à NATO, ficando obrigada a manter a sua neutralidade. Parece que nada é dito sobre a UE, o que indicia que poderá ser mais uma razão de entendimento. A Ucrânia pretendia essa adesão.
Falta muito para um entendimento e existem claros sinais que apontam para a intensificação do conflito. Mas hoje vamos continuar a falar sobre a possibilidade da paz.
Ela pode chegar só depois de mais mortes e de mais destruição, mas acabará sempre por chegar. Diz-se no ditado: “Não há bem que sempre dure, não há mal que não se acabe”. Esta expressão da sabedoria popular parece indicar que o futuro é mais risonho para quem está mal do que para quem está bem. É certo que traz bom augúrio para quem mais precisa.
O bom senso costuma exigir que se privilegiem os esforços para a paz; que seja valorizado cada pequeno avanço. Por estranho que pareça este é um tema entre nós. E é também esse o tema aqui e não uma qualquer adivinhação acerca do bom ou mau desfecho destas negociações: porque é que tão poucos acreditam nas negociações? Porque se nota apego pela ideia da derrota militar de Putin em detrimento da solução pacífica?
Dá-se o improvável: quem está envolvido no conflito parece estar disposto a negociar. Quem assiste não. As negociações para a paz contrariam o princípio da maldade intrínseca e gratuita de uma das partes. Assim sendo, contrariam quem a tem defendido. As pessoas ficam de facto reféns das posições que defendem e ninguém gosta de perder. Agora reparem que este é o princípio que leva à guerra e que a agudiza.
Na guerra existe sempre um derrotado, numa negociação não pode, e não deve, ser assim
Não obstante o conflito que está a decorrer, as partes entregam esforços a um propósito conciliatório. E as negociações têm implícitas cedências. Existe aqui a frágil possibilidade de ceder sem perder. Uma negociação deve distinguir-se da antecipação dos resultados práticos de uma derrota. Na guerra existe sempre um derrotado, numa negociação não pode, e não deve, ser assim.
O caminho instintivo de cada um é o da guerra, o de fazer valer as suas razões. É sabido que quem quer ter sempre razão quase nunca tem paz. Mas este caminho é possível, e pode até ser meritório, a nível individual. Nada a corrigir. Só que as soluções individuais são perigosas quando trazidas ao nível colectivo.
Recordar um excerto da Fábula das Abelhas, de Bernard Mandeville: “Todos os dias se cometiam delitos nessa colmeia (…). Mas nem por isso a colmeia era menos próspera porque os vícios dos particulares contribuíam para a felicidade pública”. Será talvez o melhor a que conseguimos chegar como grupo. Um mundo em que os nossos defeitos privados se diluem na harmonia da vida colectiva. Salve-se essa parte.
Em tempos de paz houve quem se preparasse para a guerra. Pois agora é justo e consolador ver que, em tempos de guerra, existe quem se prepara para a paz. Novamente um bom augúrio para quem mais precisa.
Somos apenas espectadores, como os Ucrânianos e os Russos, só que estes também são vítimas.
ResponderEliminarEngano teu, somos vítimas também...
EliminarConcordo, mas incomparávelmente com menos gravidade... por enquanto.
EliminarOxalá, amigo.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Gosto imenso da palavra oxalá
EliminarAbraço amigo
Ucrânia: Uma guerra ainda sem fim à vista, na qual somos todos VÍTIMAS.
ResponderEliminarA do Vietname levou vinte anos
EliminarEsta ainda não tem vinte dias
Há quem não perceba que a globalização é uma grande merda: se alguém dá um espirro na Moscovo, em Oeiras ficamos todos constipados. Topas?
Topo — que se o nosso chanceler concordar com a oferta da Polónia de entregar caças MiG-29 para os Estados Unidos. Caças seriam repassados pela Polónia para os EUA e, a partir de escala na Alemanha, encaminhados ao exército ucraniano, em Düsseldorf ficamos reduzidos a pó ☢️
EliminarA guerra do Vietname durou vinte anos, mas não ficava à minha porta ☢️
EliminarHoje em dia, com as sofisticadas armas biológicas e nucleares, qualquer guerra entre grandes potências fica à porta de toda a gente...
ResponderEliminarMas ainda que não ficasse, continuemos a preparar-nos para a Paz.
Isso mesmo. O estranho é que há gente
Eliminarque, não só o ignora como o não pressente
A paz só se constrói não assumindo um dos lados...
Exactamente. No entanto, muita gente entrou em completa histeria e até há cidadãos que estão a ser vítimas de "bullying" por serem reconhecidamente militantes ou simpatizantes do Partido Comunista Português. Creio que isto demonstra bem quão perigosos podem ser a ignorância e o fanatismo.
EliminarEu não sou militante e desde algum tempo nem simpatizante do Partido Comunista Português, todavia o ódio irracional contra o Putin aproximou-me um pouco do vosso partido, porque já NÃO suporto tanta ignorância e fanatismo. Felizmente, que os meus familiares e amigos alemães, seja qual for a sua opinião sobre o conflito, mantém sangue frio 🕊
EliminarEssa proximidade merece um abraço!
EliminarFelizmente, Teresa! Por cá, poucos são os que conseguem raciocinar e não partem de imediato para a ameaça, a distorção dos factos e o insulto brutal...
EliminarÉ isso que esperamos _ a paz entre eles.
ResponderEliminarE ainda assim, ninguém sairá ileso !
Vamos crer ,Rogério que resulte nosso eco.
Acho que nosso eco
Eliminarnão está chegando lá...
é tal a gritaria...
mas... vamos ver
a esperança é a última a morrer
Esta esteria faz com cresçam os ódios irracionais que cegam os incautos e produzem efeitos catastróficos nas democracias, dando origem ao surgimento de forças ultra nacionalistas e xenófobas.
ResponderEliminarHoje ouvi uma senhora no restaurante, onde estava a almoçar que as bombas dos Russos deviam cair no centro de trabalho do PCP.
Meu caro Rogério, vamos ter esperança que acabe e possamos ter paz entre os povos.
Vivo num bairro pacato, de gente mais sensata onde até pessoas ligadas à Igreja abraçam a nossa postura. E fazem questão de me fazerem chegar tal opinião!
EliminarMas a coisa não está a ser fácil...
Abraço, meu caro.
GOSTEI IMENSO DO QUE DISSE E DA FORMA COMO SE EXPRESSOU E QUE MOSTROU CLARAMENTE UM MARAVILHOSO CAMINHO PARA A PAZ. QUE ASSIM SEJA, AMIGO! CAMINHANDO EM COMPREENSÃO, ACEITAÇÃO DAS DIFERENÇAS E DE MÃOS DADAS NUMA INTERAJUDA PERMANENTE, TUDO SERIA MUITO MAIS FÁCIL. QUE AS SUAS PALAVTRAS CHEGUEM LONGE, E MUITAS FELICIDADES PARA SI E TODOS QUANTOS DESEJAR
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