Para quê palavras minhas,
se, em inicio de Primavera,
de tudo o que se deseja
é legítima a espera.
HOMILIA DE HOJE
Culturalmente, é mais fácil mobilizar os homens para a guerra que para a paz. Ao longo da história, a Humanidade sempre foi levada a considerar a guerra como o meio mais eficaz de resolução de conflitos, e sempre os que governaram se serviram dos breves intervalos de paz para a preparação das guerras futuras.
Mas foi sempre em nome da paz que todas as guerras foram declaradas. É sempre para que amanhã vivam pacificamente os filhos que hoje são sacrificados os pais…
Isto se diz, isto se escreve, isto se faz acreditar, por saber-se que o homem, ainda que historicamente educado para a guerra, transporta no seu espírito um permanente anseio de paz. Daí que ela seja usada muitas vezes como meio de chantagem moral por aqueles que querem a guerra: ninguém ousaria confessar que faz a guerra pela guerra, jura-se, sim, que se faz a guerra pela paz.
Por isso todos os dias e em todas as partes do mundo continua a ser possível partirem homens para a guerra, continua a ser possível ir ela destruí-los nas suas próprias casas.
Falei de cultura. Porventura serei mais claro se falar de revolução cultural, embora saibamos que se trata de uma expressão desgastada, muitas vezes perdida em projectos que a desnaturaram, consumida em contradições, extraviada em aventuras que acabaram por servir interesses que lhe eram radicalmente contrários.
No entanto, essas agitações nem sempre foram vãs. Abriram-se espaços, alargaram-se horizontes, ainda que me pareça que já é mais do que tempo de compreender e proclamar que a única revolução realmente digna de tal nome seria a revolução da paz, aquela que transformaria o homem treinado para a guerra em homem educado para a paz porque pela paz haveria sido educado. Essa, sim, seria a grande revolução mental, e portanto cultural, da Humanidade. Esse seria, finalmente, o tão falado homem novo.
Saramago, in O Caderno, 7 de maio de 2009
Já conhecia este texto do José Saramago que é tão bonito como utópico como nos mostra o actual conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Apesar da inquietação que se apodera de mim, quero acreditar no bom-senso de ambos os contraentes assim como do governo alemão, da Nato, da UE entre outros. Que a opinião pública perdesse absolutamente o control emocional é algo também muitíssimo trágico. O cansaço acaba por me vencer e vou dormir 😴
ResponderEliminar"Que a opinião pública perdesse absolutamente o control emocional é algo também muitíssimo trágico."
EliminarPois!...
Saramago, sempre tão cheio de lucidez. Só posso concordar com ele. Era muito bom que os seres humanos fossem educados para a paz em vez da beligerância que sempre procuram. Negócio? Barbaridade? Falta de amor aos outros? Que podemos pensar de tudo o que está a acontecer sem pormos em causa a utilidade daquilo que dizemos ou pensamos?
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
Negócio! Barbaridade! Falta de amor aos outros!
EliminarTudo de bom!
Beijo
Talvez por não ter encontrado palavras em prosa que honrassem as palavras de Saramago, escrevi este soneto agora mesmo. O EU que refiro aqui é a Voz da Humanidade. Peço desculpa, mas a licença poética permite que eu a assuma de quando em quando:
ResponderEliminarLUCIDEZ
ou
Pela Paz Entre os Povos
*
Se a alguns mataste, a outros deste vida
E a mim já me salvaste tanta vez,
Que se me abandonasses, lucidez,
De mim própria estaria já perdida
*
Sem um rumo, uma porta de saída,
Saltando de talvez para talvez,
Desconhecendo todos os porquês
Desta vontade de me ver cumprida
*
Ainda que, por vezes, de revés,
E noutras tantas vezes de fugida
Ao sabor da nortada e das marés,
*
Mas sempre, Lucidez, comprometida
Com aquilo que sou - porque tu és! -
O meu cais de chegada e de partida.
*
Mª João Brito de Sousa
21.03.2022 - 10.50h
Soneto lúcido,
Eliminarsobre um cais
onde poucos aportam
Até logo
(prometo valorizar-te a imagem!)
O mundo está cheio de homens velhos!
ResponderEliminarHoje também citei Saramago.
Abraço
E o nosso mundo português
Eliminaré o 4º mais envelhecido
nesta Europa
que não se renova
De seguida, vou espreitar-te
Abraço
Please read my post
ResponderEliminari don't speak English, sorry
Eliminar:))
ResponderEliminaras palavras sábias de Saramago.
ResponderEliminarmuito oportunas.
boa semana.
beijo
:)
Escelente !
ResponderEliminarInfelizmente, as palavras lúcidas de Saramago continuam bem actuais.
Abraço, boa Primavera!
EXCELENTE, claro!
ResponderEliminarSaramago sempre atual, Rogério
ResponderEliminarDe verdade, o mundo é que não se renova e
A revolução mental periga ir de mal a pior...
Beijo, amigo
"Educar para a paz"
ResponderEliminar"Educar para a paz"
"Educar para a paz"
Palavras sábias!
Lídia