Na imagem, o Professor António Sampaio da Nóvoa, o juíz espanhol Baltasar Garzón e o escritor e jornalista italiano Roberto Saviano estão cabisbaixos, na apresentação de um livro póstumo. Percebe-se porquê. O livro foi escrito antes da morte de Saramago, 2010, a apresentação foi em 2014, o sentimento expresso mantém a actualidade, hoje 2022 e a homilia tem texto datado, 2003. Não saímos desta...
HOMILIA, HOJE
«Enfrentamo-nos deliberadamente aos que querem a guerra, dizemos-lhes “NÃO”, e se, ainda assim, persistirem no sua demencial acção e desencadearem uma vez mais os cavalos do apocalipse, então desde aqui os avisamos de que esta manifestação não será a última, de que estes protestos continuarão durante todo o tempo que a guerra durar, e mesmo mais além, porque a partir de hoje não se tratará simplesmente de dizer “Não à guerra”, mas sim de lutar todos os dias e em todas as instâncias para que a paz seja uma realidade, para que a paz deixe de ser manipulada como um elemento de chantagem emocional e sentimental com que se pretende justificar guerras.
Sem paz, sem uma paz autêntica, justa e respeitosa, não haverá direitos humanos. E sem direitos humanos – todos eles, um por um – a democracia nunca será mais que um sarcasmo, uma ofensa à razão, uma despudorada mentira.»(...)«A humanidade tem sido levada a aceitar a guerra como único meio eficaz de resolução de conflitos, e os governos sempre se serviram dos períodos de paz para prepararem a guerra seguinte. Mas foi sempre em nome de uma paz futura que as guerras foram declaradas, é sempre para que amanhã os filhos vivam pacificamente que hoje se sacrificam os pais. Quem isto hipocritamente proclama sabe que o ser humano, apesar de historicamente educado para a guerra, transporta no seu espírito um perene anseio de paz. O homem compreende que o que lhe conferirá humanidade plena não é um desenvolvimento científico e tecnológico orientado para a agressão, mas a paz. Daí que esta seja usada como meio de chantagem moral por quem tem interesse na guerra: ninguém ousaria confessar que faz a guerra pela guerra, afirma-se, sim, que se faz a guerra pela paz.»José Saramago, in "Discurso Contra a Guerra do Iraque"
Desde que Saramago escreveu o que aqui se leu, o mundo pouco mudou, os pressupostos são os mesmos.
ResponderEliminarE o pouco que mudou foi para pior... os orçamentos bélicos não param de aumentar...
EliminarQuem ousaria confessar que faz guerra porque a morte de muitos enche os bolsos de alguns; os de sempre, os da ignóbil e fabulosa indústria das armas???
ResponderEliminarTroca os teus ????
EliminarPelos meus !!!!
??? Quais meus e quais teus???
EliminarNenhum de nós é um grande- ou pequeno - industrial da guerra... ou sou eu que, hoje, estou lerdinha e não entendo nada?
Tu acabaste o teu comentário, interrogando (???)
Eliminare dei ao teu comentário um sentido afirmativo (!!!)
Ahhhh! Desculpa, estava mesmo lerdinha...
EliminarContra esta guerra da Ucrânia, subscrevo na totalidade o que José Saramago escreveu contra a guerra do Iraque. Não se muda mesmo nada. A humanidade está sempre a cometer os mesmos erros.
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde, meu Amigo.
Um beijo.
Tive o cuidado de, do texto, expurgar qualquer referência ao Iraque para o poder tornar universal...
EliminarBjinho
Bom texto
ResponderEliminarcontudo,
bastante longo
"A humanidade tem sido levada a aceitar a guerra como único meio eficaz de resolução de conflitos, e os governos sempre se serviram dos períodos de paz para prepararem a guerra seguinte"
ResponderEliminarPalavras sábias as de Saramago, O capitalismo e os senhores da guerra sempre o fizeram, o negócio do armamento é dos mais lucrativos do mundo, para eles a humanidade não tem qualquer valor.
um abraço