22 abril, 2024

O´NEILL E EU - DOIS POEMAS SOBRE O MEDO

Primeiro Ele, o O´Neill (sugerido pela Lídia Borges)  


Agora Eu, sugerido pela minha própria memória:
Rir? Sorrir?
Sorrir de um medo?
Desse medo
que resulta
do nosso próprio enredo?
Em criança, nesse tempo
o medo fazia parte do crescimento
Vencíamos o medo, íamos crescendo 
Hoje, ao certo, não sei definir o medo
Só sei que gostaria
que o medo pudesse ser
qualquer coisa de tangível,
de apalpar, de cheirar e de se ver 
E se o fosse, que fosse redondo,
que ao rolar o fizesse com estrondo
E que se tivesse cheiro,
que fosse o do sebo salazarento
E que ao tacto se sentisse a impressão
do fogo vivo das fogueiras da inquisição 
Depois, o medo podia ser apontado
e, sei lá, esmagado ou até cortado
Ver-se-ia que o medo
Não tendo nada dentro
Se libertaria o Mundo
deste medo tão profundo
Rogério Pereira
 


9 comentários:

  1. Quando descobrimos o medo deixamos de ter medo dele.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Foi muito cedo
      que descobri
      que o medo
      não tem nada dentro

      Eliminar
  2. Teresa Palmira Hoffbauer23 de abril de 2024 às 01:29

    "Mesmo o homem mais forte olha para debaixo da cama."

    O escritor alemão Erich Kästner sentiu medo, quando os seus livros foram queimados pelos nazistas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu
      quando era miúdo
      só tinha medo
      do escuro

      Eliminar
  3. No tempo que aqui nos trazes a palco, o medo estava cheiinho de olhos e ouvidos invisíveis, lembras-te? Não sei se era o bom-senso ou se era o próprio medo que nos levava a dizer o que tínhamos a dizer na concha do ouvido do amigo a quem queríamos passar qualquer mensagem que contivesse uma das muitas palavras então proibidas. Mas passar essa mensagem, ainda que na concha do ouvido de um amigo, era já afrontar o medo. E isto é tão verdade quanto termos todos saído às ruas em Abril de 1974.
    Gostei de ambos os poemas embora tenha a certeza de que tu sabes muito bem definir o medo.

    Forte abraço!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Quando era miúdo
      tinha medo do escuro
      tal medo passou
      e hoje é no escuro
      que eu agendo
      como se combate o medo

      Abraço destemido

      Eliminar
  4. Gostei deste medo do antes.
    E do depois.
    O medo existe e quando se entranha, por lá faz morada.
    A Liberdade dissipou o medo, mas alguns permanecem.
    Abril Sempre e se possível sem Medo.
    Boa semana.
    :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Depois de, cedo
      ter perdido o medo,
      nunca mais voltei a tê-lo
      mas há razões recente
      de se voltar a esse medo
      novamente
      (Abril Sempre e se possível sem Medo)

      Faço meu
      o teu desejo
      e
      cá fica
      um meu beijo

      Eliminar
  5. O que eu aprendo contigo
    meu amigo

    Abraço agradecido

    ResponderEliminar