Dizia José Saramago, a propósito de um passo dado pela NASA, chegar-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante. Manuel Tiago sabe-o. Sensível ao tema da nossa relação com o outro, não me ocorreu outra coisa senão citá-lo.
O erro de paralaxe é o erro que corresponde à aparente variação de posição de um determinado objecto em função da posição do observador. Na política, todos somos afectados por esse erro. Cada um de nós, combatendo ou não esse efeito, interpreta o mundo e os fenómenos políticos em função da perspectiva, do posicionamento político, da posição de classe social que integra ou com que se identifica. Mesmo podendo separar os campos de interpretação em duas grandes áreas de perspectiva: a idealista e a materialista, dentro de cada uma dessas áreas, cabem interpretações várias de um mesmo fenómeno.
(...)
Se entendermos a visão e a perspectiva do outro como uma forma deliberada de egoísmo ou de idealismo, se entendermos que só a nossa visão das coisas está correcta, como que por magia, ou por iluminação reservada a uma seita. Se não compreendermos que entre as massas, o idealismo é dominante e que a abordagem individualista dos problemas sociais não resulta da vontade de cada, mas da própria cultura dominante, se não percepcionarmos que a indisponibilidade para compreender a nossa forma de abordar e interpretar os problemas não resulta de uma má-vontade, mas de uma concepção distinta do mundo, então estamos a desistir de alargar, estamos a capitular por nos recusarmos a compreender que as barreiras existem e que nos cabe a nós ultrapassá-las. Ou contamos que seja a doutrina dominante a fazê-lo?
(...)
E de cada vez que hostilizamos quem pensa que pensa pela sua própria cabeça só porque não pensa como nós, de cada vez que interpretamos a dificuldade de compreender a nossa mensagem como "ignorância", como "adormecimento" ou "alienação", estamos a fechar uma porta.
E nós, comunistas, revolucionários, queremos essas portas escancaradas de par em par.
Manuel Tiago in "Erro de Paralaxe"
Maravilha, Rogério!!! Mesmo estando muito diminuída, o texto pareceu-me claro como água!
ResponderEliminarSempre te digo que todos, sem excepção, estamos sujeitos ao erro de paralaxe, mas... ter a consciência plena de que ele existe é um enorme passo no sentido de escancarar todas as portas!
Que alegria sentir-me, de novo, a compreender e a assimilar qualquer coisa, embora deva confessar que nem sequer me atrevi à leitura completa dos artigos para que nos remetes.
Um forte abraço!
Maria João
Tiago, de cada vez abre a boca
Eliminarnem sai asneira nem entra mosca,
antes espanta
Saramago sabia-o muito bem...
ResponderEliminarBeijinho amigo
Miguel Tiago, também
EliminarFez muito bem Miguel Tiago voltar a Saramago.
ResponderEliminarBom fim de semana
Miguel Tiago
Eliminaré filho de Saramago
Confesso a minha admiração, Rogério, por dares destaque a esta posição, a esta forma de ver as coisas. É que, e talvez seja defeito meu de análise, sinto-te sempre vestido com as cores dum fundamentalista, de lentes à medida.
ResponderEliminarCaro AC
Eliminarpercebo
que não tenha lido o texto inteiro
e deste
leu a correr o primeiro parágrafo
o que não é raro.
Diz lá assim:
"O erro de paralaxe é o erro que corresponde à aparente variação de posição de um determinado objecto em função da posição do observador."
Li o texto, li. Tu é que não percebeste, ou não quiseste perceber, o alcance das minhas palavras.
EliminarNão, não percebi
Eliminarpodes traduzir?
descodificar?
é que, de todo, não estou a alcançar...