09 maio, 2016

Poesia (uma por dia) - 86


A MÁQUINA DO FUTURO

Os Donos disto Tudo
(os verdadeiros, que nem sequer conheces)
tinham inventado,
construído e exportado
em direcção ao sul,
uma máquina sofisticada
muito bem oleada,
embalada a primor com laços e uma flor
mas que desembrulhada
e posta em movimento
mais parecia um cilindro
ou rolo-compressor.

Mas os seus mandatários
fizeram uma festa e um grande foguetório
a dizer que era este o transporte ideal
para um povo simplório.

E o cilindro lá foi comprimindo
A vida e os sonhos dos povos do sul.
Onde o sol brilha mais e o mar é azul.
Eis que de repente
esta nossa gente de tão comprimida
achou que era tempo de mudar de vida.

Parou o cilindro, despediu capatazes
e pôs-se a construir o melhor transporte
que formos capazes.
Pode não estar pronto, que o futuro demora,
Mas é mais bonito por dentro e por fora.
Para o amesquinhar,” amigos da onça”
Dizem que o seu nome é a “geringonça”.
Mas há tanta gente que precisa dela
Que a sonha ver pronta p’ra seguir com ela.
Não sendo perfeita, vai-se melhorando
porque este projecto, sendo original,
é feito por nós, é artesanal,
pois é com trabalho que a coisa se faz
e tem um cartaz: “MADE IN PORTUGAL!”
A questão maior que faz afligir os senhores do Norte
é o medo enorme de que a gente a exporte.
Para eles, pode ser muito duro
mas a “geringonça” tem mesmo futuro!
Fernando Tavares Marques
_________________________________
Este poema ( e o anterior) foi declamado, sábado passado, na abertura do ENCONTRO CDU, em Linda-a-Velha (Oeiras), no Auditório Municipal Lourdes Norberto,  onde o "Intervalo Grupo de Teatro" actua e o Fernando Tavares Marques é actor destacado. A peça em cena, "Doze Homens em Fúria", recomenda-se.

7 comentários:

  1. lendo, lendo, lendo.... e lendo mais um pouco.

    abraço.

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    1. ouvir, é melhor que ler
      mas lendo ficamos a saber
      que mesmo não ouvindo
      há que acreditar que estamos indo

      com a "máquina do futuro"

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  2. Pois eu gostei do poema,mesmo não sendo dada a escritas poéticas. E tomara que o poeta tenha razão... :)

    Pelo título conheço bem a peça, que já vi em filme americano e em teatro português televisivo (ó tempo, está claro!). Talvez seja de ver novamente... ;)

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  3. Gostei mesmo do poema, só não entendi a alusão que o poeta faz aos senhores do Norte.
    Uma geringonça artesanal, é capaz de não estar nada mal e funcione na perfeição consoante o gosto dos senhores do Sul.
    Não compreendo é tanta distinção, afinal, pertencemos todos à mesma Nação!!

    :)

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    1. Há um entendimento que necessita de ser confirmado
      Não que os donos disto tudo não tenham o cilindro planeado
      Mas onde terá começado
      No Norte? Teria de começar por qualquer lado...

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  4. É um excelente poema. Mas eu quase jurava que já o tinha lido. Já foi publicado antes, não foi?
    Tenho fé de que a "geringonça" seja tão eficaz que em breve mude de nome.
    Um abraço e bom fim de semana

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