05 dezembro, 2016

António Costa, a entrevista e nós, os telespectadores


À hora de inicio da coisa, batem-me à porta. Era Cristo. Posso? pergunta e sem esperar resposta, entra, senta-se, pega no comando, sintoniza o canal e ajusta o som. Timidamente e nada refeito de tão inesperada e antecipada natalícia presença sentei-me a seu lado. 
A coisa começa e Cristo comenta: "Bons entrevistadores, esperemos"
Como resposta ao comentário fiquei calado
Ia a coisa para aí com uns largos minutos debatendo o tema da caixa e da sua recapitalização quando Cristo não contém um prolongado bocejo: "Sabe?, eu não sei nada de finanças..."
Ocorrendo-me o poema, um tanto despropositadamente completei-lhe a ideia "E consta que não tem nenhuma biblioteca!"
Cristo olhou-me de frente e foi directo "Os poetas gozam da impunidade dada à liberdade poética. Desse Pessoa tenho Eu a obra toda"
Estávamos nós nisto, eu e Cristo, quando André Macedo dispara uma pergunta estilo tiro ao boneco a que Costa respondeu com um sorriso na ponta da língua. 
"Cristo, estás a ver isto?"
Não estava.
Cristo tinha adormecido. Em seu regaço aberto um livro "Levitico" entreaberto numa página, onde li, brandamente, para não acordar o Senhor:
" Se teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem, então, sustentá-lo-ás. Como estrangeiro e peregrino ele viverá contigo. Não receberás dele juros nem usuras; teme, porém, ao teu Deus, para que teu irmão viva contigo. Não lhe darás teu dinheiro com juros, nem lhe darás alimento para receber usura”.
Pena Costa não ter tal livro em sua biblioteca.

13 comentários:

  1. Não ouvi a entrevista. E assim fica mais difícil entender a ironia.
    Um abraço

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  2. Muito bom, isto! "Cadê" a Parábola do Bom Samaritano?

    Bj.

    Lídia

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    1. Lembrei-me dela, mas este texto
      está mais próximo da expulsão dos vendilhões do templo...

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  3. Estou quase, quase como a amiga Elvira; apenas ouvi um pedacinho da entrevista, mas não foi Jesus quem me bateu à porta e se em tempos idos poderia ter dito que, de Pessoa, tinha eu a obra (nem toda...), já não o posso dizer agora. Os anos e os afazeres foram-me separando de grande parte das obras que, não sendo minhas, eram partilhadas por toda a família e amigos.

    Gostei muitodo teu texto!

    Maria João

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  4. Eheheh,com um visitante tão ilustre é natural que nem tenhas ligado muito ao economês do Costa... :)

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    1. Sabes?
      Cristo anda sempre comigo
      e só raramente
      é que eu ando com Ele!

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  5. Se até Cristo adormeceu, que direi eu ? :)

    Admiro a sua fértil imaginação meu amigo, pois consegue ter bons "argumentos" para quase tudo.

    Um beijinho grato

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  6. Uma bela ironia! :)

    Beijinhos, Rogério.

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  7. Pobre Cristo ser sujeito a tal degredo!!! Eu se fosse ao Costa tinha-os mandado... para baixo de Braga ou assim...

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