29 dezembro, 2016

Mário Soares e o apelo de Manuel Alegre


Leio o apelo, certamente sentido, do poeta "“Não se pode mutilar a biografia de Mário Soares nem adaptá-la às conveniências”. Neste momento nem entendo o que que seriam as (minhas) conveniências em distorcer, enviesar ou omitir passagens de uma biografia daquele a que podemos considerar o pai (desta) democracia. Aqui ficam os meus contributos ao longo dos tempos, para que nada falte ao biógrafo:


«Mário Soares (...) foi generoso (com Passos Coelho). Terá sido o seu elogio que desanimou as hostes (e a própria UGT) a hostilizar as politicas do Governo mais à direita dos últimos 40 anos? Não sabemos.
O que sabemos é que é que o PS está (julgo estar) à rasquinha e a culpa não é minha.»
«A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista.»
Natália Correia, in "O Botequim da Liberdade", citação em 22 de janeiro de 2015
«As palavras muitas vezes repetidas não se gastam. Não tenho a certeza se Mário Soares terá sido o primeiro a fazer escrever, em 1983, no texto do programa do IX Governo, a frase lapidar de o povo viver acima das suas possibilidades (página 4).  A certeza é que ela possuí uma longevidade transversal a todos os governos e presidentes da República. Cavaco Silva repetiu-a tal e qual quando, quase trinta anos depois, em Maio de 2011, discursava justificando a crise e a necessidade do tratado assinado com a troika.»
in "Conversa Avinagrada", 8 de dezembro de 2014

«O "cenador" Mário Soares - Mário Soares é um senador e homem de valores. Valores que marcam uma época. Não alinhando pela teoria de que são os heróis que são o motor da história, falo do seu nome como um paradigma das lideranças e das ideias, que durante a vida dos da minha geração, sobreviveram e continuam a influenciar a maneira de pensar, mesmo quando se pensa em contra-ciclo do poder, que circunstancialmente é detido por quem parece defender outras.  Mário Soares meteu o socialismo na gaveta sem que se saiba exactamente o que lá meteu e defende-se o socialismo democrático sem que se saiba exactamente o que isso é. Na difusa afirmação do que isso possa ser, regressa, em força, o neo-liberalismo. E isso sente-se o que seja. Mário Soares, defende hoje no Diário de Notícias "o passado pertence aos historiadores e o que conta, na atual emergência, é o presente e o futuro para onde caminhamos. É o que interessa aos portugueses." Este apelo para que se enterre a memória é, nesse mesmo artigo, continuado pela afirmação, válida para quem aceita perder a memória: "talvez seja o momento de o Governo português renegociar com a troika e deixar-se de complexos. Não devemos deixar degradar mais a situação!" O senador passa a cenador (acho que acabei de inventar a palavra) e encena mais uma vez a cena do olhar tutelar da sociedade portuguesa. Outros cenadores lhe continuarão a comédia... Não admira a desorientação dos jovens que, sem os contrariar, deixaram de saber em que situações "Soares é fixe" e poder avaliar o "porreiro, pá".»
in "Conversa Avinagrada", 13 de Março de 2012 

Em junho de 2011, questionado sobre os seus encontros semanais com Carlucci durante o “verão quente”, na Embaixada dos EUA, Mário Soares carregou mesmo nas tintas, dizendo que a coisa chegou a ser «várias vezes por semana», acrescentando o carácter muito “dado”, aberto e popular do agente da CIA...
«52 - A cisão da oposição ao regime. - A «primavera marcelista» dava os frutos que o salazarismo nunca tinha conseguido de maneira tão clara: a cisão da oposição. Mário Soares, reputado opositor antifascista, tinha optado pela ruptura com os comunistas, republicanos e católicos progressistas, dividindo também estes. (...) Os socialistas punham a questão colonial na gaveta, por troca de esperadas benesses marcelistas..».
in "Almas Que Não Foram Fardadas", pág. 64/65

11 comentários:

  1. Bom, eu de politica não percebo muito. Aliás quanto mais envelheço, mais me apercebo que não percebo muito de rigorosamente nada, mas adiante. Penso que Mário Soares tem um lugar importante na nossa história. Com erros? Certamente. Que politico os não comete? Posto isto, penso que não se pode endeusar o homem, nem tão pouco diabolizá-lo.
    Um abraço

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    1. Mário Soares cometeu poucos erros. Para aquilo que ele sempre quis seu sucesso foi completo, até já não poder intervir.

      Como não gosto de fulanizar, julguemos a sua obra... faça um esforço, vai ver que será capaz.

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  2. De saída para mais exames, vi-me obrigada a ler "na diagonal", mas cá voltarei!

    Maria João

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    1. Volta
      a tua opinião conta

      (as outras também)

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    2. Voltei, como vês, mas pouco mais me ocorre do que subscrever, muito bem sublinhadas, as palavras que deixaste gravadas no teu "Almas Que Não Foram Fardadas", a páginas 64/65.

      Outro abraço!

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  3. E eu que não sou democrata, sou comunista, o que dizer sobre ele?

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    1. Suspeito sempre de quem se apresenta, tendo o cuidado de se esconder.

      Aqui pode entrar.
      O espaço desta "Conversa" não é reservado ao direito de admissão.

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  4. De facto o Exº Senhor Dr. Mário Soares foi o pai desta criancinha de ditadura económica e cultural,imposta por esta UE que tanto acarinhou, desde as suas idas a Braga (Cónego Melo), ás frequentes visitas com o embaixador da CIA em Portugal, garantindo-lhe que a "Revolução não avançaria", tudo isto obriga Manuel Alegre ao seu desabafo, a biografia política de Mário Soares, nunca será mutilada, nem que tenhamos que acrescentar as omissões... Quanto à biografia geriática, o máximo respeito, pelo seu estado de saúde. José da Cruz Boavida

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    1. O que Manuel Alegre produziu não foi um desabafo...

      Mais parecia um discurso em tom de elogio fúnebre, sendo o corpo de Soares ainda um não cadáver. Incompreensível e lastimável.

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  5. Para um estudo mais completo , talvez, ver "Dicionário Político" de César Príncipe

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