os três mantos do rei
Veio o vento forte, quebrou as portas e as janelas, roubou dos armários as roupas e as tigelas e a chuva a zunir, alagou os tapetes, arrastou as cadeiras, os espelhos estalaram e os peixes vermelhos nadaram nas banheiras e o rei gritou, ai quem me acode num dia assim.
O rei era muito pequenino, mas tinha um coração grande e, tantas eram as vezes, não lhe cabia no peito. Não sei porque sou assim, gritava o reizinho, ai quem me acode e me faz um manto que me esconda do vento, da chuva e do desalento e me deixe o coração de fora para espreitar os pássaros e os peixes vermelhos que nadam nas banheiras.
Faço eu! respondeu o alfaiate. E costurou-lhe um manto de veludo bordado e tal era o peso do veludo e do bordado, que o rei encolheu cinco centímetros e chorou duas lágrimas de sal.
Não, não, sou eu que o farei, disse o joalheiro. E coseu-lhe um manto de jóias brilhantes e tal era o brilho, que o rei deixou de ver durante cinco dias e cinco noites e chorou quatro lágrimas de sal.
A cozinheira também tentou e fez-lhe um manto de claras em castelo, leve como o ar e o reizinho voou e só o agarraram dois dias depois. O rei soluçou de tanto se rir.
Então decidiu fazer ele próprio os seus mantos. Quando a chuva parou e o vento se aquietou, foi ao jardim e escolheu três flores aveludadas, luminosas, leves, singulares e com elas se vestia quando se sentia ensolarado, rodado ou esperançado. O coração grande acompanhava-o sempre, porque agora cabia em qualquer lugar.
Manuela Baptista
A história é linda, mas se fosse eu que vestisse o Reizinho, vesti-lo-ia com um manto, feito de folhas de lírio roxo do campo...
ResponderEliminar:)
Novamente de saída, partilho e volto logo à noite para melhor ler o conto.
ResponderEliminarAbraço!
A Manuela tem muito talento para criar e as suas
ResponderEliminarhistórias de fantasia são encantadoras.
É pena que não tenha tempo para relacionar-se...
E... vivam suas majestades, reais ou fictícias.
Boa semana, Rogério.
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...não lhe dês um peixe, ensina-o a pescar
ResponderEliminargrata, Rogério, por este espaço e que seja bom o seu ano ainda novo
um abraço