19 fevereiro, 2018

Gonçalo M. Tavares, eu um seu leitor e a desconstrução da metáfora


Gonçalo M. Tavares é o autor do conto que ontem recriei. Incapaz de enveredar pelo plágio, uso o estratagema de manter a ideia original (e até o texto) e depois dou-lhe o meu jeito, reforçando a ideia e alargando-lhe o sentido. 
Tratando-se de metáforas, com o mínimo de criatividade, os resultados podem até nem acrescentar nada ao brilhantismo do autor usado, mas alargam o campo de quem lê e interpreta. 

Sem repetir todo o conto, reproduzo o essencial. Conta o conto que o Senhor Calvino treinava os músculos da paciência transportando de um ponto a outro, com colheres de café, um monte de 50 kg de terra, tendo por ali perto uma pá. Gonçalo M. Tavares termina «Paciente, cumprindo a tarefa, sem desistir ou utilizar a pá, Calvino sentia estar a aprender várias coisas grandes com uma pequenina colher.»

A isto deixa a Maria João o comentário, que desconstrói a metáfora:
Pressupondo que a pá corresponda ao ordenado médio deste nosso país e a colher de café ao RSI, não tenho eu feito outra coisa senão aquilo que o senhor Calvino faz... só não o faço por opção própria e sim porque não tenho alternativa.
Será agora de esperar o que fará o Senhor Calvino quando descobrir que não tem saída... nem ele, nem todo o Bairro, nem o País.

7 comentários:

  1. Li esta manhã o comentário da Maria João, e não pude deixar de pensar nos milhares de pessoas que vivem do RSI, ou de reformas que pouco mais são que ele.
    Abraço

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    1. A Maria João desconstruiu a metáfora... agora hesito entre a impaciência e a raiva perante a impotência...

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  2. Nunca pensei ver o meu pequeno comentário com honras de publicação, mas a verdade é que, sem excepção, descrevo situações pelas quais eu própria passo sem esquecer, por um único segundo, os milhares de pessoas que passam por idênticas dificuldades.

    A escrita - tanto a prosa quanto a poesia - dá-me a liberdade de utilizar episódios da minha vida pessoal enquanto chamadas de atenção para situações de muito maior abrangência e eu fico bem mais segura da utilidade dessa liberdade quando pessoas como tu e a Elvira Carvalho o entendem.

    Forte abraço.

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    1. Ele está sempre em mudança, Rogério e agora está a mudar mais rapidamente do que nunca... o que custa é mudá-lo no sentido de o tornar menos cruel e mais equitativo.

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  3. Mascarar a pobreza com truques. Não há paciência!

    Beijinhos, Rogério :)

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    1. Julgo que o texto do Gonçalo é um bom texto
      Mas Gonçalo podia ser, no mínimo
      mais explicito

      Julgo que tens razão
      ele faz-nos perder a paciência

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