DEZ RÉIS DE ESPERANÇA.
Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.
Poema de António Gedeão
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Esta canção
trouxe-a de um canto
que me encanta tanto
Grande Gedeão!
ResponderEliminarTudo de bom :)
Calma, tranquila, sossegada
ResponderEliminarNo meu sofá sentada
— não em estado de coma,
mas em estado poético —
leio o poema de Gedeão,
sem roer as unhas.
DEZ RÉIS DE ESPERANÇA é sempre melhor do que nenhuma ESPERANÇA ♥
Fico sem jeito
ResponderEliminarcom o seu modo de me tratar
esse preceito tão do seu jeito
quebra o defeito
do desencanto que vou sentido
neste novo 'desconfinar'... :)
Obrigada, Rogério.
Um abraço
Quando comecei a ouvir esta canção na voz de Samuel "Cantigueiro", excelentemente acompanhado por André M. Santos, pensei: «Eu conheço isto de algum lado! Mas já foi há tanto tempo que não me lembro de onde». Pesquisei no Google e logo descobri. Este poema foi cantado por Luis Cília (https://www.youtube.com/watch?v=ngYEx5ivteI). A música não é bem igual, mas o poema do grande Gedeão é. E é todo um programa de vida, sem o qual não existem razões para viver. Fiquei muito contente por ouvir esta versão de Samuel (excelente) e por recordar Luis Cília (também excelente). Muito obrigado.
ResponderEliminarBom dia:- Penso que já havia lido este poema em alguma outro lado. Mas não o tinha ouvido cantado....... Gostei de ouvir.
ResponderEliminar.
Desejando um dia feliz
Cumprimentos
Estou numa pressa, atontada, a preparar-me para ir para o coração de Lisboa submeter-me à douta avaliação de uma Junta Médica. Entretanto, sempre te digo que estou como o grande Gedeão, aqui cantado pelo Samuel que se faz acompanhar por André M. Santos... ai, se não fosse tudo isso... e se não fosse eu ainda poder usar a palavra como enxada...
ResponderEliminarAbraço!
Um excelente poema de António Gedeão que me lembro de ter ouvido em tempos noutra versão que não esta.
ResponderEliminarAbraço e saúde